Fungo que ‘se alimenta’ de Jack Daniel’s invade cidade nos EUA
Unidades para envelhecer uísque da empresa Jack Daniel's têm causado proliferação de uma crosta sobre casas e carros
O fungo alimentado a etanol, conhecido como fungo do uísque, que prosperou durante séculos em torno de destilarias e padarias, tem gerado reclamações de moradores do condado de Lincoln, no Tennessee.
As queixas são contra a famosa destilaria Jack Daniel’s, fundada no condado vizinho. Durante meses, eles reclamaram que uma crosta escura cobriu casas, carros, sinais de trânsito, móveis de pátio e árvores, à medida que o fungo se espalhava incontrolavelmente, alimentado pelos vapores de álcool que saem dos barris de carvalho usados no envelhecimento do uísque.
A Jack Daniel’s construiu seis armazéns, conhecidos como casas de barris, para envelhecer uísque no condado rural, que abriga cerca de 35 mil residentes, e está construindo um sétimo em uma propriedade que tem espaço para abrigar mais um, disse um porta-voz da empresa. A destilaria pediu ao condado para rezonear uma segunda propriedade onde poderia construir seis barris adicionais.
Uma representante da empresa, Donna Willis, disse às autoridades do condado em novembro que 14 casas de barris gerariam US$ 1 milhão em receita anual de impostos imobiliários para o condado.
Caso vai parar na Justiça
Mas nem todos os moradores estão felizes com a expansão. Christi Long, proprietária de uma mansão local que ela aluga para casamentos e outros eventos, processou o condado em janeiro, alegando que as unidades da destilaria perto de sua propriedade não tinham as licenças adequadas.
Long e seu marido disseram que o fungo do uísque já havia inundado a propriedade, escurecendo o telhado de cobre e as paredes externas, impregnado o jardim e o portão de metal e incrustado os galhos das magnólias. Nas proximidades, ele escurece as placas de trânsito de metal, disseram eles.
Um juiz decidiu na semana passada que uma casa de barris atualmente em construção não havia sido devidamente aprovada e que sua licença de construção teria de ser rescindida até que a Jack Daniel’s obtivesse as licenças necessárias.
O casal de proprietários disse que usam uma mangueira de alta pressão para lavar a propriedade a cada três meses com água e alvejante, mas o fungo sempre volta.
Christi disse que sua mansão “ficará preto como carvão” a menos que a Jack Daniel’s instale filtros de ar nos armazéns.
— Parece que o fungo tomou esteroides — disse.
Um advogado que representa o condado de Lincoln se recusou a comentar, citando o litígio em andamento.
Tracy Ferry disse que ela e seu marido, que comprou uma casa em Lincoln há três anos, esperavam que a Jack Daniel’s instalasse filtros de ar.
Segundo Tracy, desde que a destilaria construiu uma casa de barris ao lado de sua propriedade em dezembro, o fungo do uísque se acumulou no telhado de sua casa e carro e nas árvores de sua propriedade.
—Eu poderia tentar vender, mas o que vou conseguir? Quem vai querer morar aqui? — afirmou.
Incômodo? Limpe
O gerente geral da Jack Daniel, Melvin Keebler, disse em comunicado que a empresa “cumpre todos os regulamentos locais, estaduais e federais relativos ao projeto, construção e licenciamento de nossos barris”.
A empresa ressaltou que estudos mostraram que o fungo não é perigoso para a saúde humana e não causa danos à propriedade.
— Pode ser um incômodo? Sim claro. E pode ser facilmente remediado lavando-o — disse Donna, em resposta às reclamações.
Ela também afirmou que os filtros de ar podem prejudicar o sabor que o uísque Jack Daniel’s adquire durante o processo de envelhecimento.
O fungo que se desenvolve a partir do álcool foi observado pelo menos desde a década de 1870, quando Antonin Baudoin, diretor da Associação dos Destiladores Franceses, observou uma “praga de fuligem” escurecendo as paredes das destilarias em Cognac, na França.
James Scott, professor da Escola de Saúde Pública Dalla Lana da Universidade de Toronto, que estuda o fungo desde 2001 – e ajudou a nomear seu gênero, Baudoinia, em homenagem a Baudoin – disse que não tinha conhecimento de nenhuma pesquisa especificamente observando os efeitos na saúde da exposição ao fungo.
Mas o fungo pode destruir propriedades e se agarrar a quase qualquer superfície, disse ele. Uma baforada de álcool, segundo Scott, torna-o notavelmente resistente às mudanças de temperatura, permitindo-lhe resistir aos verões quentes no Tennessee.