Justiça do Vaticano multa ativistas ambientais em R$ 157 mil por danos à estátua de museu
Ação de grupo ambientalista provocou danos permanentes à base de mármore da obra de arte, que historiadores acreditam ter sido esculpida no século I a.C
A Justiça do Vaticano condenou dois ativistas ambientais italianos a nova meses de liberdade condicional e ao pagamento de uma multa de quase 30 mil euros (R$ 157 mil) por danos causados durante uma ação de protesto nos museus da Santa Sé, anunciou o grupo ecologista Última Geração nesta terça-feira.
“Os juízes vaticanos do tribunal de primeira instância condenaram Ester e Guido a nove meses [de liberdade condicional] e a uma multa de 1.620 euros (R$ 8 mil). E se acrescentou o reembolso de mais de 28.000 euros (R$ 147 mil) pelos danos causados”, afirmou o grupo em comunicado.
Na mesma nota, os ativistas anunciaram que vão recorrer da decisão.
Em agosto de 2022, os ativistas Guido Viero e Ester Goffi se prenderam com cola ao pedestal da estátua de Laocoonte, escultura de mármore exposta nos museus do Vaticano que historiadores acreditam ter sido esculpida no século I a.C. A obra foi descoberta em Roma em 1506 e retrata um sacerdote troiano e seus filhos sendo atacados por serpentes marinhas. Uma terceira ativista, Laura Zorzini, filmou toda a ação e foi multada em 120 euros (R$ 629).
Segundo a lenda, Laocoonte teria avisado aos troianos para não aceitarem o cavalo de madeira enviado pelos gregos durante a Guerra de Tróia e que culminou na queda da cidade. Contada pela primeira vez na Ilíada de Homero, poeta épico da Grécia Antiga, a escultura foi escolhida pelos ativistas pelo simbolismo da sua história. Para o grupo, a crise climática é o aviso dos tempos modernos que não está sendo ouvido pelos líderes políticos.
“O Vaticano, uma das últimas monarquias absolutistas do mundo, mostra toda a sua hipocrisia com este veredito”, denunciaram os ecologistas, classificando a sentença como “desproporcional e absurda (…) por algumas gotas de cola em um bloco de mármore aos pés de Laocoonte”.
A advogada do Estado do Vaticano, Floriana Gigli, acusou os réus de causarem danos “inestimáveis” a um patrimônio artístico e cultural do mundo. Segundo ela, os ativistas sabiam que a ação poderia danificar a obra permanentemente e por isso escolherem colar suas mãos na base da estátua, e não nela em si.
Em uma audiência anterior, os ativistas negaram qualquer intenção de danificar a obra. Ester Goffi revelou que estava com um solvente em sua bolsa durante o protesto, mas afirmou que os funcionários do Vaticano preferiram usar outra substância, à base de acetona, para descolá-los.
Guy Devreux, chefe do laboratório de restauração dos Museus do Vaticano, disse durante testemunho que os danos à base de mármore da estátua foram pequenos, mas permanentes, enfatizando que a base é “parte integral da obra”.
Segundo os ativistas, tudo o que eles queriam era “destacar o que o Papa escreve e aconselha”. Francisco é um ferrenho defensor do meio ambiente e tem ressaltado, repetidamente, a necessidade de protegê-lo para as gerações futuras.
A Última Geração é uma organização liderada por estudantes que atua fortemente na Itália, Alemanha e Áustria. No ano passado, eles chamaram a atenção do mundo ao mobilizarem protestos controversos em grandes museus da Europa, com ações como atirar sopa de tomate em uma obra de Vicent Van Gogh e purê de batata em uma pintura de Oscar-Claude Monet. Ainda em 2022, o grupo foi responsável por 276 bloqueios de estradas na Alemanha.