Manifestantes invadem empresas de luxo, como Louis Vuitton, em Paris
Manifestações contra a reforma da Previdência foram marcadas por confrontos nas ruas de Paris
A França viveu mais um dia de protestos nesta quinta-feira contra a impopular reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron. Manifestantes entraram em confronto com a polícia em Paris e grevistas invadiram a sede do conglomerado de luxo LVMH, que controla marcas como Louis Vuitton e Dior. Imagens do momento da invasão mostram um grupo forçando a entrada no prédio da empresa e subindo as escadas rolantes com bandeiras e sinalizadores.
Segundo a Prefeitura, cerca de 42 mil franceses foram às ruas na capital — número menos expressivo que o de protestos anteriores, que já chegaram a registrar mais de dois milhões de pessoas.
As manifestações desta quinta-feira são a última tentativa de pressão popular contra a reforma, antes da decisão do Conselho Constitucional francês, que avaliará na sexta-feira a constitucionalidade do texto — a última barreira para sua implementação definitiva. Os nove integrantes da corte também devem se pronunciar sobre um pedido de referendo da oposição sobre a idade da aposentadoria.
Dois em cada três franceses são contra a proposta, segundo pesquisas. No entanto, a participação nos protestos têm perdido força conforme a legislação avança e atos de violência se tornaram cada vez mais comuns.
— Queremos pressioná-los, embora saibamos que o Conselho Constitucional não decidirá a nosso favor — disse Hervé Bordereau, de 57 anos, durante o bloqueio de uma usina de incineração perto de Paris.
Analistas consideram improvável a anulação total da reforma e acreditam na possibilidade de revisão de partes do projeto o que poderia reforçar ainda mais a reação contrária das centrais sindicais.
Depois dos protestos da manhã, as autoridades proibiram qualquer manifestação em frente à sede da Corte, que fica perto do Museu do Louvre, a partir da noite dessa quinta-feira.
As centrais sindicais — e a maioria dos franceses, de acordo com pesquisas de opinião — querem que o governo recue na reforma, que aumenta a idade mínima para aposentadoria de 62 para 64 anos, até 2030. A lei também antecipa para 2027 a exigência de tempo de contribuição de 43 anos — um ano a mais do que a legislação prevê hoje — para o direito à aposentadoria integral.
Apesar dos protestos violentos nos últimos meses, Macron se manteve firme na defesa da reforma.
— O país deve continuar avançando — disse o presidente na quarta-feira, durante a viagem à Holanda, quando anunciou a intenção de abrir um diálogo com a sociedade para “avançar”, independentemente da decisão do Conselho Constitucional.
Em março, Macron decidiu impor a reforma por decreto, diante do risco de perder a votação no Parlamento o que levou a uma radicalização dos protestos. A reforma acabou respaldada pelos parlamentares quando o presidente sobreviveu a dois votos de desconfiança.
Os sindicatos alertaram que o conflito social desencadeado pela reforma da Previdência provocou uma “crise democrática” e beneficiou a extrema direita de Marine Le Pen, que com uma oposição discreta continua subindo nas pesquisas.