TENSÃO

Polícia convoca líder da oposição da Tunísia para interrogatório

A polícia antiterrorismo da Tunísia convocou o principal dirigente político da oposição para um interrogatório…

Polícia convoca líder da oposição da Tunísia, Rached Ghannouchi. para interrogatório (Foto: Youtube)
Polícia convoca líder da oposição da Tunísia, Rached Ghannouchi. para interrogatório (Foto: Youtube)

A polícia antiterrorismo da Tunísia convocou o principal dirigente político da oposição para um interrogatório nesta sexta-feira, no momento em que a crise  no país se aprofunda após a decisão do presidente Kais Saied de dissolver o Parlamento, na última quarta-feira.

Além de Rached Ghannouchi, chefe do partido islâmico moderado Ennahda e presidente do Parlamento, foram intimados vários deputados que desafiaram Saied apoiando ou participando de uma sessão on-line realizada também na quarta.

O Legislativo havia sido suspenso em julho do ano passado pelo presidente, que, diante de impasses com os parlamentares, adotou várias medidas de centralização  do poder, no que a oposição classificou como um golpe.

Há dois dias, Saied exigiu que investigações fossem realizadas da sessão on-line, quando os parlamentares votaram pela revogação de todas as medidas de emergência decretadas por ele em 2021. Em seguida, o presidente dissolveu o Parlamento de maneira permanente.

Saied acusa todos que participaram da sessão — liderados por Ghannouchi —  de conspirar contra a segurança do Estado e ordenou que o Ministério da Justiça abrisse processos contra eles.

— É um ponto de virada para atingir seus oponentes — disse a vice-presidente do Parlamento, Samira Chouachi.

Nesta sexta, após encontro com o dirigente da poderosa central sindical tunisiana, o presidente disse que se recusava a conversar com aqueles que tentaram derrubar o Estado e “saquearam os recursos do povo”. A União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), com mais de um milhão de membros, está considerando uma greve geral para exigir um diálogo sobre reformas políticas e econômicas.

— Não haverá diálogo com aqueles que tentaram um golpe e buscam dividir os tunisianos — afirmou Saied, sugerindo que aqueles que se opõem a seus movimentos podem não ser autorizados a concorrer em eleições futuras.

No mês passado, o presidente assumiu o controle do Judiciário, substituindo um conselho superior, cuja função era garantir a independência do sistema judicial, por juízes escolhidos por ele.

Os movimentos de Saied aumentam a perspectiva de uma repressão à oposição, à medida que os dirigentes políticos do país se tornam mais ativos na oposição às tentativas do presidente de reformular o sistema político.

O Ennahda e o Partido Constitucional Livre, que lidera as pesquisas de opinião, disseram que se oporão aos planos do presidente de convocar um referendo sobre uma nova Constituição. As duas legendas, no entanto, são inimigas entre si, não há sinais de que elas possam trabalhar juntas contra Saied.

—  Saied, que usurpou o poder, deve acabar imediatamente com as medidas excepcionais —  disse o líder do Partido Constitucional Livre, Abir Moussi.

A Tunísia foi o primeiro país a derrubar uma ditadura na Primavera Árabe, em 2011, e convocou uma Assembleia Constituinte que redigiu sua Carta democrática, mas o novo sistema que dividia o poder entre presidente e Parlamento se mostrou impopular, após anos de paralisia política e estagnação econômica.

Saied, ex-professor de direito constitucional e outsider político, foi eleito em 2019 em uma vitória esmagadora no segundo turno contra um magnata da mídia. Sua intervenção contra os demais Poderes em 2021 pareceu ser pppular em um país cansado das disputas políticas que caracterizaram uma era democrática na qual os empregos se tornaram escassos e os serviços públicos declinaram.

Porém, à medida que a economia caminha para o desastre, com o governo buscando um resgate internacional, muitos tunisianos ficaram desiludidos com seu foco na mudança constitucional.