DIÁLOGO

Primeira rodada de negociação entre Rússia e Ucrânia termina sem acordo

Sem alcançar um cessar-fogo imediato, a Rússia e a Ucrânia concluíram nesta segunda-feira, às 13h15…

Primeira rodada de negociação entre Rússia e Ucrânia termina sem acordo
Foto: Gabinete presidencial ucraniano

Sem alcançar um cessar-fogo imediato, a Rússia e a Ucrânia concluíram nesta segunda-feira, às 13h15 do Brasil (18h15 em Minsk), a primeira rodada de negociações na região de Gomel, na fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia. Segundo uma autoridade ucraniana, os representantes dos dois lados planejam realizar uma segunda rodada “nos próximos dias”, após consultas em seus respectivos países.

As negociações começaram quase ao mesmo tempo em que a Rússia lançava um ataque contra a segundo maior cidade da Ucrânia, Karkhiv. Foguetes russos mataram dezenas de pessoas e deixaram centenas de feridos na cidade, que fica no Leste da Ucrânia, a 65 km da fronteira com a Rússia.

No quinto dia de combates e um avanço russo mais lento do que muitos esperavam, as tropas russos utilizaram armamentos mais pesados em Karkhiv, no lugar de armas teleguiadas, atingindo inclusive áreas residenciais. O conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Herashchenko, disse que Kharkiv foi “atacada pesadamente”, deixando “dezenas de mortos e centenas de feridos”.

Em um comunicado, a Ucrânia disse que seu objetivo para as negociações era um “cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas”. Sua delegação incluiu vários funcionários de alto escalão, mas não o próprio presidente, Volodymyr Zelensky. A delegação foi liderada pelo ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov, que viajou acompanhado pelo alto conselheiro da Presidência, Mikhailo Podoliak.

Antes do primeiro dia de negociações, o presidente ucraniano declarou ter pouca esperança de que a reunião pusesse fim ao conflito, que, segundo o seu governo, já matou mais de 350 civis desde o início da invasão. Mas, acrescentou, eles deveriam tentar usar essa chance, mesmo que pequena, para que ninguém pudesse culpar a Ucrânia por não tentar impedir a guerra.

O Kremlin se recusou a comentar sobre seu objetivo nas negociações, mas o negociador russo Vladimir Medinsky disse que a Rússia pretende chegar a um acordo que seja do interesse de ambos os lados.

Quando sinalizou aceitar negociações, a Rússia mostrou pouco interesse em diminuir seus ataques. O Kremlin inicialmente impôs a desmilitarização e a “desnazificação” da Ucrânia como condições para um acordo. Moscou argumenta, de modo falso, que o governo ucraniano é composto por nazistas; Zelensky é judeu.

Na prática, essas condições sugeridas por Moscou significariam uma rendição de Kiev.

Um representante de Moscou afirmou que deseja discutir um “acordo” com Kiev durante o diálogo desta segunda-feira. “Cada hora que o conflito se prolonga, cidadãos e soldados ucranianos morrem. Nós nos propusemos a chegar a um acordo, mas tem que ser do interesse das duas partes”, declarou o negociador russo e conselheiro do Kremlin, Vladimir Medinsky.

Os ataques sobre Kharkiv, no entanto, sinalizam que o uso da força permanece como opção preferencial russa.  Vários vídeos postados em redes sociais mostram rodadas de foguetes do que parecem ser ataques de artilharia pesada em áreas civis de Kharkiv com várias baixas civis.

A agência de checagem Bellingcat pôde confirmar, por meio de métodos de georreferenciamento, que uma seção de mísseis de artilharia caiu sobre áreas civis. Testemunhas postaram fotos de um foguete Smerch MLRS em Kharkiv. Este foguete pode transportar munição de cluster, que é banida, por  que pode carregar munições de cluster (bombas de fragmentação).

Estes explosivos liberam uma grande quantidade de projéteis ou fragmentos menores lançados em todas as direções em alta velocidade, com a finalidade de causar grande número de vítima.

Há também vídeos de cadáveres na cidade, e de pessoas com membros mutilados. Em outra imagem, um enorme míssil está no meio de uma casa. Respondendo a uma ordem de Putin da véspera, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou que suas armas atômicas foram postas em estado de alerta elevado.

Após um referendo no domingo — embora não haja um sistema eleitoral independente no país, onde há uma ditadura sob a influência de Moscou —, a Bielorrússia aprovou reformas constitucionais que incluem abandono de status de país não nuclear. O país, onde as negociações acontecem, é uma forte aliada russa e se tornou uma plataforma de lançamento dos soldados russos que invadem a Ucrânia.

Além de Kharkiv, o Exército ucraniano e cidadãos voluntários lutam para repelir avanços russos em várias cidades pelo quinto dia de batalhas.

O Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças tomaram as cidades de Berdyansk e Enerhodar, na região de Zaporizhzhya, no Sudeste da Ucrânia, bem como a área ao redor da usina nuclear de Zaporizhzhya, informou a Interfax. As operações da planta continuam normalmente, disse.

A Ucrânia negou que a usina nuclear tenha caído em mãos russas, segundo a agência de notícias. Houve combates ao redor da cidade portuária ucraniana de Mariupol durante toda a noite, disse Pavlo Kyrylenko, chefe da administração regional de Donetsk, na televisão na segunda-feira. Ele não disse se as forças russas ganharam ou perderam terreno ou forneceu números de baixas. Agências russas dizem que a cidade está cercada.

Na capital Kiev explosões foram ouvidas antes do amanhecer na capital. Tropas da Chechênia se concentram a cerca de 30km do norte cidade, e o Exército russo parece concentrar forças para uma ofensiva.

As forças ucranianas, agora recebendo o tipo de assistência militar do exterior que seu líder pede desde antes da invasão,  tem representado mais resistência do que o Exército russo parecia esperar, apesar de estarem em desvantagem em termos de soldados e de equipamentos.

A resposta liderada pelo Ocidente à invasão foi abrangente, com sanções que efetivamente cortaram as principais instituições financeiras de Moscou de sucessivos mercados ocidentais, fazendo com que o rublo da Rússia caísse 30% em relação ao dólar nesta segunda-feira.