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Republicanos ameaçam não aceitar resultado das eleições nos EUA

Quase dois anos depois que o presidente Donald Trump se recusou a aceitar sua derrota…

Republicanos ameaçam não aceitar resultado das eleições nos EUA (Foto: Flickr/Trump)
Republicanos ameaçam não aceitar resultado das eleições nos EUA (Foto: Flickr/Trump)

Quase dois anos depois que o presidente Donald Trump se recusou a aceitar sua derrota nas eleições de 2020, alguns de seus apoiadores republicanos mais leais podem seguir seus passos. Quando perguntados, seis candidatos republicanos apoiados por Trump para governador e para o Senado não se comprometeram a aceitar os resultados das eleições legislativas de novembro deste ano, e outros seis republicanos ignoraram a pergunta do New York Times ou se recusaram a responder. Todos eles, juntamente com muitos outros candidatos do partido, lançaram dúvidas sobre como seus estados contam os votos.

O New York Times entrou em contato com candidatos republicanos e democratas ou seus assessores em 20 disputas importantes para governos de estados e o Senado. Todos os democratas disseram, ou já afirmaram publicamente, que respeitariam os resultados de novembro — incluindo a democrata Stacey Abrams, da Geórgia, que se recusou a admitir sua derrota de 2018 para o republicano Brian Kemp na disputa pelo governo estadual. Kemp, agora concorrendo de novo contra ela por mais um mandato, “aceitará o resultado das eleições de 2022”, disse seu secretário de imprensa, Tate Mitchell.

Mas vários candidatos republicanos endossados por Trump se negaram a afirmar que não contestarão os resultados. Alguns culparam as autoridades eleitorais estaduais democratas ou fizeram alegações infundadas de que seus oponentes trapaceiam.

Entre eles estão os candidatos ao Senado Ted Budd, da Carolina do Norte, Blake Masters, do Arizona, Kelly Tshibaka, do Alasca, e J.D. Vance, de Ohio, além dos candidatos a governador Tudor Dixon, de Michigan, e Geoff Diehl, de Massachusetts.

Até certo ponto, as posições desses candidatos republicanos — que ecoam os comentários de Trump antes das eleições presidenciais de 2016 e 2020 — podem equivaler a bravata para atrair eleitores do Partido Republicano que não acreditam que o ex-presidente tenha perdido para Joe Biden. Um assessor de um candidato republicano insistiu em que o político aceitaria os resultados deste ano, mas se recusa a dizer isso publicamente.

E, ao contrário de Trump há dois anos, os candidatos que sugerem que podem contestar os resultados de novembro não ocupam cargos executivos e não têm controle da máquinas de governos. Se um deles de fato rejeitar a derrota, será muito menos provável que desencadeie o tipo de crise democrática que Trump desencadeou após sua derrota em 2020.

No entanto, sua voz encontra eco em um ambiente de mídia altamente polarizado, e quaisquer desafios injustificados dos candidatos e seus aliados podem alimentar raiva, confusão e desinformação.

— O perigo de um golpe trumpista está longe de terminar — disse Rosa Brooks, professora de Direito da Universidade de Georgetown, que no início de 2020 convocou um grupo para debater maneiras pelas quais Trump poderia atrapalhar a eleição daquele ano. — Enquanto tivermos um número significativo de americanos que não aceitam os princípios da democracia e do Estado de direito, nossa democracia continua ameaçada.

Em Michigan, uma assessora de Tudor Dixon, Sara Broadwater, disse que “não há razão para acreditar” que as autoridades eleitorais de Michigan, incluindo Jocelyn Benson, a secretária de Estado democrata, “levem muito a sério a segurança das eleições”.

No Arizona — onde os republicanos gastaram meses em uma revisão das cédulas de 2020 que não mostrou nenhuma evidência de fraude — Blake Masters disse a apoiadores em julho, sem mostrar provas, que, mesmo que ele derrotasse o senador Mark Kelly, o democrata que hoje ocupa a cadeira no Senado, votos seriam produzidos de alguma forma para inverter o resultado.

— Sempre há trapaça, provavelmente em todas as eleições — disse Masters.

No Alasca, a hesitação republicana em aceitar os resultados se concentra em um novo sistema de votação. Depois de perder uma eleição suplementar para a Câmara em agosto, a ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin alertou sem fundamento que o método era “muito, muito potencialmente repleto de fraudes”.

No estado, Tim Murtaugh, porta-voz de Tshibaka, que está desafiando Lisa Murkowski, uma colega republicana não trumpista, disse que a candidata não se comprometeria a honrar o resultado da corrida. Murtaugh disse que o novo sistema de votação “foi instalado para proteger Lisa”. Por sua vez, a porta-voz de Murkowski, Shea Siegert, disse que “o povo do Alasca pode confiar” nas eleições do estado.

Na Carolina do Norte, Jonathan Felts, porta-voz do candidato ao Senado Ted Budd — que no Congresso votou contra a certificação da eleição de 2020 — recusou-se a dizer se o político defenderia os resultados do estado e afirmou sem evidências que Cheri Beasley, o candidato democrata, pode tentar evitar que as pessoas votem. Beasley, por sua vez, disse que confia que as eleições “serão administradas de forma justa”.

Ainda assim, muitos candidatos republicanos, incluindo vários que duvidam do resultado de 2020, disseram que reconheceriam os deste ano. Darren Bailey, o candidato republicano a governador de Illinois — que disse em uma entrevista em junho que não sabia se a eleição de 2020 havia sido decidida de forma justa — respondeu que aceitaria o resultado de 2022.

Em Nevada, a campanha de Adam Laxalt, candidato republicano ao Senado, disse que não contestaria os resultados finais. Porém, Laxalt, ex-secretário de Justiça do estado que ajudou a liderar a campanha para reverter a derrubar a derrota de Trump em 2020, falou no ano passado de planos de entrar com ações judiciais para contestar a eleição de 2022 e disse que a fraude eleitoral é “o maior problema” em sua campanha.