Direitos Humanos

Talibã proíbe mulheres de frequentarem universidade no Afeganistão

Apesar de ter assumido em 2021 prometendo moderação, grupo extremista vem cerceando direitos femininos

Talibã proíbe novelas com atrizes no Afeganistão e obriga jornalistas a usar véu (Foto: Reprodução - Twitter)
Foto: Reprodução - Twitter

O ministério de Educação Superior do Afeganistão, comandado pelo Talibã, afirmou nesta terça-feira (20) que o acesso de estudantes mulheres às universidades afegãs está suspenso até nova ordem.

Um comunicado, cuja veracidade foi confirmada pelo ministério, instrui as universidades públicas e privadas do Afeganistão a bloquear o acesso de estudantes mulheres imediatamente, de acordo com decisão do governo.

Trata-se da mais recente restrição do Talibã à educação de mulheres no país.

A mãe de uma estudante universitária, que pediu para não ser identificada por motivos de segurança, disse que a filha telefonou aos prantos quando soube da carta, com medo de não poder terminar a faculdade de medicina em Cabul.

“Não dá para descrever a dor que eu e outras mães temos em nossos corações. Todas nós estamos preocupadas com o futuro de nossas filhas”, declarou.

O grupo extremista retomou o poder no Afeganistão, em 15 de agosto do ano passado, prometendo moderação e amplos direitos às mulheres. No entanto, a prometida moderação durou pouco. A pena de morte, apedrejamentos e amputações das mãos para crimes como roubos e adultérios foram reintroduzidos pelo Talibã em setembro de 2021.

Nos últimos meses, meninas foram proibidas de receber educação formal além da sexta série e escolas foram fechadas. Em maio, um decreto estabeleceu a obrigatoriedade do uso de véus cobrindo o rosto para mulheres, com três escalas de advertências para o “guardião masculino”, a última sendo três dias de prisão.

Governos estrangeiros vêm dizendo que é necessário o Talibã mudar as políticas para mulheres antes que outras nações reconheçam formalmente o governo, que está sob sanções. A confirmação da proibição nas universidades veio à tona no mesmo dia em que o Conselho de Segurança da ONU realizou uma sessão sobre o Afeganistão. Na sessão, pouco antes do anúncio sobre as universidades, a representante especial para o Afeganistão do secretário-geral, Roza Otunbayeva, afirmou que o fechamento das escolas de meninas “solapou” o relacionamento do Talibã com a comunidade internacional. “Enquanto as meninas continuarem excluídas das escolas e as autoridades ignorarem as preocupações da comunidade internacional, nós ficaremos em um impasse”, disse ela.

O embaixador adjunto dos EUA junto à ONU condenou a restrição contra universitárias. “O Talibã não pode esperar ser um membro legítimo da comunidade internacional até respeitar os direitos de todos os afegãos, especialmente os direitos humanos e a liberdade das mulheres e das meninas”, disse Robert Wood.

A embaixadora britânica junto à ONU, Barbara Woodward, afirmou que as restrições a mulheres nas universidades eram “mais um cerceamento flagrante dos direitos das mulheres e uma profunda decepção para cada uma das universitárias”.

O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse que a medida era “claramente mais uma promessa não cumprida pelo Talibã”. “Trata-se de mais uma decisão preocupante, e não dá para imaginar como o país pode se desenvolver, lidar com todos os seus desafios, sem a participação ativa e a educação das mulheres.”

Também nesta terça-feira, o Talibã libertou dois cidadãos americanos que estavam detidos no Afeganistão, segundo autoridades dos EUA. Não há informações sobre as identidades das pessoas libertadas nem o motivo pelo qual estavam presas.

“Entendemos isso como um gesto de boa vontade do Talibã. Não faz parte de uma troca de prisioneiros”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price.