Três funcionários da ONU são mortos em confrontos no Sudão
Conflito entre Forças Armadas e grupo paramilitar continua, nesse domingo, com mais de 50 mortos e 600 feridos
O Programa Mundial de Alimentos da ONU confirmou, nesse domingo, a morte de três funcionários no Sudão. Os três homens, identificados como Daniel James, Ecsa Tearp e Ali Elario, eram cidadãos sudaneses e estavam a caminho do trabalho, na região de Darfur, quando foram atingidos, no sábado, pela violência que explodiu no país e já deixou mais de 50 mortos e centenas de feridos. O Programa das nações Unidas decidiu suspender temporariamente as atividades no país.
O Sudão amanheceu, nesse domingo, com novos confrontos que explodiram logo após as orações da manhã, no país majoritariamente muçulmano. Segundo o New York Times, os combates se intensificaram na capital Cartum e se espalharam para outras regiões, mas ainda não é possível saber quem controla o país.
O New York Times também relata que os líderes do Egito e do Sudão do Sul — países vizinhos — faram por telefone e se ofereceram para mediar um ‘diálogo pacífico’ entre as duas partes. Na manhã desse sábado, o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) do general Mohamed Hamdan Daglo, também conhecido como “Hemedti”, anunciou a tomada do aeroporto internacional e do palácio presidencial, e apelou à população e aos militares para que se levantem contra o governo militar.
Os paramilitares das FAR “não vão parar antes de assumir o controle de todas as bases militares”, ameaçou Hemedti, em um telefonema à rede de notícias do Catar Al-Jazeera. Do outro lado, o Exército oficial, chefiado pelo general Abdel Fatah al Burhan, líder do Sudão desde o golpe de Estado de 25 de outubro de 2021, anunciou que tinha mobilizado as forças aéreas contra “o inimigo”.Até agora, pelo menos 56 pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas. Tanto os paramilitares quanto o Exército reivindicam ter o controle de instalações estratégicas e da sede do governo.
Cenário de ‘genocídio’
A região de Darfur, onde os funcionários da ONU foram mortos, foi palco de um conflito sangrento que levou o ex-ditador do Sudão, Omar Al-Bashir, a ser acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. Al-Bashir foi derrubado do poder, em 2019. Após um curto período de tentativa de transição democrática, os militares tomaram o controle do país, incialmente com o apoio das FAR, que acabaram se voltando contra as lideranças militares.
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No início dos anos 2000, o enfrentamento brutal entre o governo do então ditador Al-Bashir e rebeldes armados, no Oeste do Sudão, causou a morte de milhares de pessoas e desalojou milhões, provocando uma crise de refugiados. Em 2004, os Estados Unidos classificaram como genocídio os atos do governo sudanês em Darfur.