ELEIÇÕES 2024

Aparecida: Mendanha descarta aliança com Alcides e diz que faltou “lucidez” a Vilmar

Ex-prefeito Mendanha afirma que, se for necessário, ajudará na busca de nome que possa representar o que eleitores de Aparecida esperam

Gustavo Mendanha, Vilmar Mariano e Alcides Ribeiro caminharam juntos na campanha em 2022 (Foto: Divulgação/Governo de Goiás)

Embora diga que tem boa relação com o deputado federal professor Alcides Ribeiro (PL), o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha (MDB) descarta a possibilidade de apoiá-lo nas eleições de outubro. Mendanha diz também que em nenhum momento “descartou” seu sucessor, Vilmar Mariano (MDB), mas diz que faltou “lucidez” ao atual prefeiro.

O ex-prefeito se refere a dois episódios que têm relação entre si: na segunda-feira (11), Vilmar Mariano declarou ao Jornal A Redação que Mendanha dificilmente caminharia com ele no projeto de reeleição. Alcides percebeu o afastamento de ambos e, horas depois, disse que estava de portas abertas para o ex-prefeito.

Em entrevista ao Mais Goiás, o ex-prefeito reforça que não há possibilidade de alinhamento com Alcides, ao mesmo tempo que repete a necessidade de Vilmar mostrar-se viável para ter o apoio da base do governador Ronaldo Caiado (União Brasil). “Eu nunca descartei o nome do Vilmarzinho. Mas se for necessário, vamos buscar outro quadro que possa representar aquilo que as pessoas esperam na gestão em Aparecida a partir de 2025 de forma muito concisa”, pontua.

Nessa reveladora entrevista, Mendanha cita dois episódios emblemáticos que provocaram o azedamento da relação: a primeira, aconteceu no dia 24 de novembro de 2023, quando o ex-prefeito participou pela última vez de um mutirão da Prefeitura de Aparecida. Na ocasião, levou o presidente da Câmara dos Vereadores, André Fortaleza (MDB) e ferrenho opositor de Vilmar que ali, acenou um apaziguamento em seu relacionamento com o chefe do executivo municipal.

No entanto, Gustavo diz que Vilmar entendeu o fato como uma “provocação”. Ambos ficaram chateados com a forma como o assunto foi tratado. Dias depois, numa reunião no Palácio das Esmeraldas, já citada por este portal, Mendanha confirma que não cravaria apoio naquele momento a Mariano e defendeu novamente que pesquisas – qualitativas e quantitativas – fossem realizadas antes de bater o martelo. Ambos saíram irritados do encontro.

Leia a entrevista na íntegra com o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha:

Domingos Ketelbey: Prefeito, o deputado federal professor Alcides disse que deseja ter o senhor participando do projeto dele em Aparecida. Acha possível essa aliança?

Gustavo Mendanha: Não, é muito difícil. Eu tenho uma relação de muito respeito com o professor. Provavelmente foi um dos deputados federais nos últimos anos que mais ajudou Aparecida. No meu mandato, ele fez parte, embora tenhamos disputado a primeira eleição contra ele e o ex-deputado Marlúcio. Posteriormente, eu e o professor nos encontramos e não vou dizer que ele passou a fazer parte do meu grupo, mas passamos a ter uma relação muito próxima. A fala dele mostra o respeito que ele tem por mim, mas eu tô dentro de um contexto hoje que não me permite caminhar com o professor Alcides. Ele faz parte do PL, é de outro grupo. Eu tenho respeito e consideração por isso. Também entendo que fará muita falta se deixar a Câmara Federal, tendo em vista, os deputados têm emendas impositivas e todos os anos ele beneficia consideravelmente a cidade de Aparecida de Goiânia.

Num hipotético contexto em que o atual prefeito Vilmar Mariano não mostre-se viável, ele não seria uma alternativa até para a base do governador Ronaldo Caiado?

Gustavo Mendanha: Eu não vejo o governador isento da eleição em Aparecida. Nos próximos dias, ou se consolidará a candidatura de Vilmar Mariano ou o governador irá apresentar um novo quadro que vai receber as bênçãos do MDB, do União Brasil e de outros partidos que compõem a base do governo. O professor faz o seu dever de buscar os atores em Aparecida e isso é nobre de sua parte. Claro, eu acredito que ele não vai obter sucesso, pelo menos no meu caso e no caso do governador Ronaldo Caiado.

Porque não? Alcides diz que faz parte da base do governador Ronaldo Caiado…

Gustavo Mendanha: O Alcides faz parte do PL, partido que embora não haja lançamento algum, provavelmente terá em 2026 a candidatura do Wilder Morais e o nosso projeto é lançar o Daniel Vilela ao Governo de Goiás. O governador tem dito isso publicamente e eu nunca escondi a boa relação que tenho com o vice-governador, além do meu apoio a ele. Talvez essa seja a grande dificuldade que nós tenhamos, de apoiar na segunda cidade mais importante de Goiás uma candidatura que em 2026 não estará conosco.

Caiado e o senador Wilder Morais [presidente do PL em Goiás] antes de políticos são amigos pessoais. Nos bastidores fala-se de uma aproximação política entre ambos. Não há chance de Aparecida também passar por isso?

Gustavo Mendanha: Eu acho muito difícil você entregar a segunda maior cidade, um dos principais colégios eleitorais de Goiás, para alguém que pode ser que em 2026 não esteja conosco. Isso não seria um gesto. Seria mostrar fragilidade e mostraria que nós não teríamos condições de mostrar um bom candidato quando temos boas condições para isso, seja com o Vilmar, se as pesquisas qualitativas apontarem que ele realmente consolidou sua imagem e tem condições de dar sequência ao trabalho que começa com o Maguito e que modéstia a parte eu dei continuidade fazendo o meu dever de casa ou até buscar um novo quadro que possa representar tudo aquilo que sabemos que Aparecida quer como próximo gestor.

Vilmar declarou ao Jornal A Redação que o senhor dificilmente estará com ele nas eleições. Como avalia essa declaração?

Gustavo Mendanha: Em política a gente já viu de tudo. Eu acho que ele talvez tenha faltado um pouco de lucidez. Eu sempre disse que eu estaria caminhando com o governador Ronaldo Caiado e com o Daniel Vilela. Não existirá separação nesse sentido. Fizemos um casamento e é em regime de união de corpos. Não tenho como me separar do governador e nas principais cidades, não existe a possibilidade de estar em um lado e o governador em outro. Não existe essa possibilidade.

Há um rompimento em curso?

Gustavo Mendanha: Não digo que há um rompimento. Acredito que há da parte dele uma chateação, pelo fato de eu ter publicamente defendido algo que não fui eu quem colocou a regra. Foi uma regra que o próprio governador Ronaldo Caiado tem utilizado nas principais cidades, que é a aferição a partir de pesquisas qualitativas e quantitativas do potencial que os candidatos podem ter em suas cidades. Isso pode ter o deixado aborrecido, o que faz parte da política. A gente já viu isso em vários momentos. O que vai definir o que vai ser candidato é o sentimento das pessoas e qual é o perfil daqueles que querem para gerir a cidade nos próximos anos.

Há pouco tempo, tanto o senhor como ele trocavam gestos positivos em entrevistas. O senhor dizia que ele tinha condições de se tornar viável, enquanto ele dizia ter certeza do seu apoio. O que provocou essa mudança de contexto?

Gustavo Mendanha: Nós ficamos praticamente três meses sem nos falar. Eu estou trabalhando em Goiânia e não fui procurado. Eu acho que ele entendia que tinha condições de vencer as eleições sozinho e ele foi tocando sua vida sozinho, assim como eu toquei a minha. Recentemente fui convocado por uma reunião pelo presidente do MDB, vice-governador Daniel Vilela que no fim dela deixou todos nós aborrecidos, ele do lado dele com sua razão e eu com a minha, mas aquilo que sempre defendi, expus que não poderíamos deixar o sentimento da cidade ser deixada de lado. Faz parte da vida política, o interesse sobretudo da população tem de estar acima de qualquer outra coisa. Tenho buscado isso quando defendo as pesquisas qualitativas que é entender o sentimento e o interesse da população para que não possamos errar na escolha do nome. E nesse sentido eu nunca descartei o nome do Vilmarzinho. Mas se for necessário buscar outro quadro que possa representar aquilo que as pessoas esperam na gestão em Aparecida a partir de 2025 de forma muito concisa.

Falando em mudança de quadro, o ex-deputado federal Leandro Vilela e o atual secretário de Saúde, Alessandro Magalhães tem tido os seus nomes testados em pesquisas que serão divulgadas. São boas alternativas?

Gustavo Mendanha: Eu acho que podem ser bons nomes. As pesquisas qualitativas tendem a mostrar o retrato de momento. Eu sempre ponderei, você sabe que eu defendi, até porque pelas quantitativas o Vilmar já estaria fora desse processo. Sempre defendi que as pesquisas qualitativas balizassem nossa decisão. Qual o sentimento da população para o próximo prefeito e se a figura do Vilmar é alguém que pode representar essa continuidade que o povo tanto quer.

Então o Vilmar ainda está no jogo, mas há um afastamento evidente entre vocês…

Gustavo Mendanha: Nós temos tido um afastamento desde que levei o presidente da Câmara, André Fortaleza, para praticamente declarar o apoio ao Vilmar num evento da Prefeitura. A partir dali, começou um distanciamento. O Vilmar entendeu que ao levar um terceiro colocado para dizer que poderia andar com ele foi uma afronta. A partir dali, tivemos um distanciamento, mas não é nada que seja insuperável. Precisamos saber se de fato ele tem condições de vencer as eleições, qual o espírito do povo aparecidense, para que construamos um projeto e possamos sentar juntos e definir numa conversa para pensar nos próximos passos. Se o governador Ronaldo Caiado também quiser dar outro passo, eu também estou pronto.

Esse episódio ocorreu na abertura de um dos mutirões da Prefeitura, então, digamos, que foi um divisor de água no relacionamento entre vocês? Isso aconteceu antes da reunião que o senhor citou, no Palácio, certo?

Gustavo Mendanha: Foi algo que nos distanciou. Eu já andava um pouco distante dos eventos por estar trabalhando em Goiânia e não estava sempre disponível para participar das solenidades. Neste evento, eu fui convocado pelo Daniel para promover uma aproximação entre o Fortaleza e o Vilmar. Faço um gesto, chamo ele [Fortaleza] para minha casa, conversa, consigo convencer ele para ir a um evento, e depois disso, o Vilmar tomou uma posição, primeiro de declarar que não aceitava o apoio do André, que era o terceiro colocado nas pesquisas. Depois daquele momento, a gente teve um distanciamento. A gente se reuniu recentemente, no gabinete do Daniel, na conversa que foi muito ruim quando eu defendi que nós pudéssemos fazer pesquisas para tomada de decisão. 

A eleição caminhava polarizada entre Vilmar e Alcides mas há uma mudança do contexto político em curso. O Vilmar tem direito à reeleição e pode querer tocar isso. Se isso acontecer sem suas bênçãos, avalia que ele poderá seguir uma campanha independente e a base caiadista poderá lançar outro nome na disputa com três forças aparecendo nas urnas?

Gustavo Mendanha: Eu acho que antes de avaliar futuras projeções, precisamos de ter as qualitativas em mãos. É muito difícil eu falar qualquer coisa agora. O que eu estou sabendo é que se o Vilmar Mariano não for candidato pelo MDB, ele poderá ser candidato pelo PT ou outro partido. Não sei se é verdade isso, é uma conversa de corredor de Prefeitura. Eu defendo que a decisão seja tomada antes do dia 5 de abril. Até porque se de fato as pesquisas não forem favoráveis ao Vilmar, e ele realmente tiver interesse em ser candidato que ele possa se, e eu deixo o se, porque a decisão quem toma é o governador, se for o caso ele possa deixar o partido para deixar outra agremiação.