DEPOIMENTO

CPI da Covid ouve ex-chefe do PNI sobre imunização de grávidas e demissão

A CPI da Covid recebe nesta quinta-feira, a partir das 9h, a enfermeira Francieli Fontana…

Francieli Fontana Fantinato esteve à frente do cargo até semana passada, quando pediu demissão
Francieli Fontana Fantinato esteve à frente do cargo até semana passada, quando pediu demissão (Foto: LECO VIANA)

A CPI da Covid recebe nesta quinta-feira, a partir das 9h, a enfermeira Francieli Fontana Fantinato, ex-chefe do PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde, para que ela relate as eventuais dificuldades enfrentadas no cargo e explique as diretrizes da vacinação de gestantes contra o coronavírus.

A profissional estava à frente das políticas de vacinação do país desde outubro de 2019 e pediu demissão do cargo na semana passada.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Francieli negou que a saída tenha sido motivada por pressão das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Segundo ela, a decisão foi tomada por conta própria e ocorreu devido a dificuldades para alavancar a campanha contra a covid-19, situação que ela atribui a dois fatores: falta de vacinas e falta de apoio em ações de comunicação.

“Qualquer programa de vacinação no mundo, para ter sucesso, precisa de vacina e comunicação, e não tive nenhum dos dois”, afirma. “Solicitei diversas vezes uma comunicação em relação às ações de vacinação e pouquíssimas vezes fui atendida.” .

Durante o depoimento à CPI, ela deve ser cobrada ainda a esclarecer questões referentes aos critérios de aplicação de vacinas a gestantes.

De acordo com o requerimento de convocação, apresentado por Otto Alencar (PSD-BA), Francieli editou nota técnica que recomendava aos estados a imunização de grávidas que tinham recebido a primeira dose da Oxford/Astrazeneca com qualquer vacina que estivesse disponível, “sem nenhuma comprovação de segurança ou eficiência disso em gestantes”.

Parte dos senadores da CPI quer entender se houve negligência à época.

Isso porque o assunto tem sido objeto de discussão no país desde que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) propôs, em maio deste ano, a suspensão do uso da vacina Oxford/AstraZeneca em mulheres grávidas. A decisão ocorreu após a morte de uma gestante que recebeu o imunizante.

Na ocasião, a Anvisa considerou que se tratava de um “evento adverso”, e não um “efeito adverso”. A agência também explicou que o uso do imunizante em gestantes não é recomendado em bula.

“O uso off label de vacinas, ou seja, em situações não previstas na bula, só deve ser feito mediante avaliação individual por um profissional de saúde que considere os riscos e benefícios da vacina para a paciente. A bula atual da vacina contra covid da AstraZeneca não recomenda o uso da vacina sem orientação médica”, diz trecho de nota publicada pela Anvisa.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e a secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19, Rosana Leite, devem dar entrevista hoje, às 11h30, sobre novas orientações na vacinação de gestantes e puérperas.

No início de junho, Francieli tornou-se investigada pela CPI e teve o sigilo telefônico quebrado. Ela tentou reverter a medida no STF (Supremo Tribunal Federal), mas o ministro Alexandre de Moraes manteve a quebra de sigilo.