DEPOIMENTO

CPI ouve diretor do Butantan sobre compra da CoronaVac e entrega de insumos

A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira (27), a partir da 9h, o diretor do…

Senadores querem saber os percalços nas negociações entre o Butantan e o Ministério da Saúde
Senadores querem saber os percalços nas negociações entre o Butantan e o Ministério da Saúde (Imagem: Reprodução/TV Cultura)

A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira (27), a partir da 9h, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, sobre a negociação da CoronaVac com o governo federal e os entraves à entrega de insumos da China para a fabricação da vacina.

O Butantan é o responsável pela produção do imunizante de origem chinesa no Brasil, cuja autorização para uso emergencial foi concedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em janeiro deste ano. Até o momento, a CoronaVac é a vacina contra a covid-19 mais aplicada no país.

Os senadores pretendem esclarecer com Dimas os percalços na negociação entre o Butantan e o Ministério da Saúde. Em 20 de outubro de 2020, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello anunciou acordo com o estado de São Paulo para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, com a incorporação da vacina ao Programa Nacional de Imunizações.

Um dia depois do anúncio de Pazuello, no entanto, Bolsonaro desautorizou o então ministro publicamente e disse que havia mandado cancelar qualquer protocolo assinado pelo ministério para a compra da CoronaVac. Ao receber Bolsonaro no dia seguinte, Pazuello disse: “Um manda, o outro obedece”.

Àquela época, o país já vivia intensa politização da vacina, com troca de acusações entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que articulou a parceria do Butantan com o laboratório chinês Sinovac para a vacina no Brasil.

Dimas Covas declarou em fevereiro que o Butantan enviou três ofícios com ofertas da CoronaVac ao governo federal que foram ignorados pelo Ministério da Saúde no ano passado.

Apesar da desautorização pública sofrida, Pazuello nega ter sofrido pressão de Bolsonaro para que não comprasse a CoronaVac. Ele depôs por dois dias à CPI e foi reconvocado ontem. O novo depoimento ainda não tem data marcada, mas deve ficar para depois de 17 de junho.

O Butantan já enviou uma série de documentos à CPI após pedido de informações dos senadores. A expectativa é que Dimas Covas explique melhor como se deram as tratativas e detalhe os papéis encaminhados.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considera que o depoimento de Covas será “um dos mais proveitosos” para explicar como foi esse processo de compra da CoronaVac pela União.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que se declara independente, mas é tido por colegas na CPI como mais governista na comissão, afirma concordar que a fala de Covas será importante para cruzar dados com informações de depoimentos já realizados e para que os senadores entendam como aconteceu o cronograma da aquisição da CoronaVac.
Outro ponto de interesse dos senadores hoje será saber de Dimas se o Brasil sofre retaliação da China quanto à entrega de insumos — o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo). Desde o início da pandemia, Bolsonaro e seus filhos fazem críticas à China, onde os primeiros casos do novo coronavírus foram diagnosticados.
O Butantan chegou a ter de parar a produção da CoronaVac por falta de insumos no início do mês e cidades suspenderam a aplicação da vacina por falta de doses.
Doria acusou o governo federal de estar causando problemas diplomáticos com o país asiático, o que estaria atrasando o envio dos insumos pelos chineses.
O Itamaraty defende que atua para a liberação rápida dos insumos e que os atrasos não são intencionais. Segundo o governo brasileiro, como a China está exportando IFA para diversos países, há uma demanda expressiva e sobrecarga nos trâmites burocráticos.

Próximos depoimentos

A CPI da Covid aprovou ontem a reconvocação do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do seu antecessor, o general Eduardo Pazuello, durante reunião marcada por brigas entre senadores.
Também serão chamados a depor nove governadores (AM, PA, DF, TO, SC, RR, AP, RO, PI e SP) e Wilson Witzel, ex-governador do Rio.
Dos requerimentos aprovados ontem, destacam-se ainda o do empresário Carlos Wizard (que atuou como conselheiro do ministro da Saúde), do ex-assessor da Presidência Arthur Weintraub (defensor do uso de cloroquina no tratamento da covid e irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub), do assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro Filipe Martins e de especialistas favoráveis e contrários à prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada no enfrentamento à pandemia.
Vão depor também Airton Antônio Soligo, ex-assessor especial no Ministério da Saúde, Luana Araújo, ex-secretária de enfrentamento à covid da pasta e Marcos Eraldo Arnoud Marques, conhecido como “Markinhos Show”, ex-marqueteiro do Pazuello.