ESPECIAL SEMANA DA MULHER | ELEIÇÕES 2020

Eleições de 2020 terão o maior número de candidatas a prefeita em Goiânia

Quatro mulheres se colocaram como pré-candidatas a prefeita de Goiânia. Se as candidaturas de Dra.…

Quatro mulheres se colocaram como pré-candidatas a prefeita de Goiânia. Se as candidaturas de Dra. Cristina (De saída do PSDB para o PL), Adriana Accorsi (PT), Maria Ester (Rede) e Hemanuelle Jacob (PSOL) se confirmarem, as eleições de 2020 serão as que terão maior participação feminina de todos os pleitos já realizados na capital, desde o período de redemocratização do país.

Até então, a maior participação feminina nas eleições municipais na capital, ocorreu no ano 2000. Na ocasião, havia um total de sete candidatos, sendo quatro homens e três mulheres para o cargo de prefeita. Eram elas Lúcia Vânia (PSDB), Isaura Lemos (PDT) e Bianca Amaral (PSTU). Nessa época, três outras mulheres também disputavam eleição para o cargo de vice-prefeita: Marta Rodrigues Gonçalves de Araújo (PDT); Zakia dos Reis Barroso (PSTU) e Linda Monteiro (PPS).

Das sete chapas nas eleições majoritárias em 2000, haviam duas que eram compostas exclusivamente por mulheres, Isaura e Marta, pelo PDT; e Bianca e Zakia, pelo PSTU. Lúcia Vânia teve boa votação. Ela ficou em terceiro lugar no pleito, mas não conseguiu acesso ao segundo turno, já que obteve 123.594 votos, um percentual de 22,83% de um total de 541 mil votos válidos naquela disputa. Pedro Wilson (PT), ao lado de Linda Monteiro, saiu vencedor.

Mas se o pleito atual pode ter a participação de mais mulheres, superando o citado ano 2000, Goiânia já teve ocasiões em que que sequer registraram-se candidaturas femininas. Foi o caso das eleições de 2008, quando Iris Rezende (PMDB) foi reeleito prefeito na ocasião. Também não houve participação delas nas eleições de 1992 e de 1996, ou seja, dois pleitos seguidos sem candidatura de uma mulher. Além disso, no período de redemocratização, a disputa pelo cargo em 1985 também não teve nenhuma candidatura feminina.

2020

Maria Ester de Souza será candidata a prefeita de Goiânia pela primeira vez. Ela é pré-candidata pela Rede Sustentabilidade. Ela tem atuação no Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO) e também é professora universitária, entre uma série de outras qualificações. Maria analisa o histórico do processo eleitoral em Goiânia ao longo dos anos e avalia que a maior participação feminina pode estar ligada à mudança de visão de mundo dos eleitores nas últimas gerações.

“O fato de a mulher assumir muitas responsabilidades, a chefia de família, nesses últimos 30, 40 anos, deu abertura para que uma nova geração nascesse com as mulheres assumindo posições de protagonismo. Uma pessoa adulta hoje tem 30 anos, diferente da visão de mundo dos pais, com 50, 60 anos, em que o pai era chefe da casa. Eu penso que essa é uma das coisas que trouxe a mulher para a vida pública, para a vida política”, declarou.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que no Brasil há 4.908 homens administrando cidades e são apenas 662 mulheres com a mesma função.  A participação delas caiu em 2017: 88,1% dos prefeitos do Brasil eram homens e 11,9%, mulheres. O percentual da participação feminina era maior em 2013, quando atingiu 12,1%.

A pré-candidata a prefeita de Goiânia e vereadora, Dra Cristina (PSDB, mas que se filiará ao PL), entende que há um incentivo de várias instituições da sociedade civil organizada para que as mulheres participem da vida política do país. Ela ressalta que as mulheres precisam estar em espaços de poder de maior relevância.

“As mulheres são desconsideradas, colocadas na linha da agressão. [Votar] é um momento de tomada de decisão, de atitude. Pra mim (sic), isso é muito importante. Mulheres pensam e decidem como mulheres, homens pensam e decidem como homens. A representação dos espaços do poder são mais dos homens e as mulheres podem buscar a solução de muitos temas que não foram resolvidos”, avaliou a parlamentar.

Em entrevista ao Mais Goiás, Hemanuelle Jacob disse que as mulheres fazem política de forma diferente, pois são conciliadoras. “Têm sensibilidade. Inclusive por da luta cotidiana. Nascer mulher é um ato de resistência.” Por fim, ela reforça que está com o coração aberto e com muita tranquilidade para ser a voz da periferia, das mulheres e dos oprimidos.

Candidatas em Goiânia ao longo da história (pós redemocratização)

Temas sensíveis

A participação feminina nas eleições majoritárias em Goiânia não será caracterizada apenas pelo ponto de vista quantitativo. Mas há uma esperança de que temas que não eram debatidos em outros pleitos e que não são tão sensíveis aos homens possam estar mais presentes. Por exemplo, determinadas políticas públicas de Saúde e para a área de Ensino. A falta de vagas em CMEIS reflete diretamente no sustento do lar, e na dupla jornada feminina, pois é a mãe a primeira a sentir as consequências.

“Eu acho isso um grande avanço. O mais importante é que as mulheres ocupem esse espaço. As mulheres têm perspectivas diferentes de olhar os problemas, elas são mais sensíveis a alguns temas do que os homens não dão atenção”, avaliou o Professor de pós-graduação em ciência política, direito e políticas públicas da UFG, Robert Bonifácio.

A pré-candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT), deputada estadual, Adriana Accorsi, entende que seria importante pelo fato de as mulheres serem um pouco mais da metade da população brasileira, também ocuparem pelo menos a meta dos espaços de poder. Ela relata que a participação feminina se dá para que as necessidades sejam pautadas e inseridas no debate. Ela ressalta que um número maior de candidaturas femininas também faz parte de uma reação da redução de políticas para as mulheres.

“Um dos aspectos pelos quais lutamos é por mais mulheres na política. É justo. Desejamos participar da política para pautar nossos sonhos, nossas políticas com as nossas necessidades, com políticas públicas muito próximas às vidas das pessoas. Tudo isso é bom que seja pautado. O maior número de candidaturas vejo como uma reação neste momento que vivemos hoje de retrocesso ao direito das mulheres, nas políticas públicas que foram implementadas. Por exemplo, a Secretaria de Política das Mulheres foi fechada, houve uma diminuição no repasse de recursos às mulheres, entre outros pontos”, argumentou Adriana.