ELEIÇÕES

Em sabatina, Ciro propõe que governo compre Eletrobras de volta

Em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, o candidato à Presidência da República…

Governo do Ceará aciona Ciro Gomes por acusar governador petista de corrupção
Governo do Ceará aciona Ciro Gomes por acusar governador petista de corrupção (Foto: Redes sociais)

Em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, o candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) voltou a comparar Jair Bolsonaro (PL) a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista ao jornal O Globo, Valor e CBN, nesta sexta-feira.

Ele disse que viu o ex-presidente se corrompendo e criticou todas as alianças do candidato do PT em seus governos: “Teve uma origem extraordinária e se corrompeu”. Sobre Bolsonaro, afirmou que o combate à pandemia foi prejudicado pelos casos de corrupção.

— Vi o Lula se corrompendo, não tenho prazer nenhum em dizer isso. Apenas estou aqui, tentando entender por que o Brasil, numa proporção de quase 70% do eleitorado, votou no Bolsonaro. Ele era um deputado mediocrérrimo do baixo clero, fez uma apologia da ignorância. Mas por que o povo votou no Bolsonaro? Estava magoado com a terrível crise econômica e com a devastadora notícia impossível de ser desmentida de que a corrupção virou um elemento central do modelo de poder do PT no Brasil. Vi isso de perto. Foi um erro do passado? Ok, pode ter sido. Mas o Lula está agarrado com o Geddel (Vieira), com o Eunício Oliveira, com o Renan Calheiros — afirma.

Ao ser questionado como definiria Lula, de forma definitiva, Ciro foi enfático:

— Lula teve uma origem extraordinária e se corrompeu. Minha opinião definitiva sobre o Lula é essa. Quando digo que andei com Lula, que ele tem uma origem democrata, é o tempo que andei com ele, por quase 30 anos. Ainda que não tenha sido jamais do PT, ainda que tenha sido adversário do Lula em 1998, em 2002, em 2018, tenho o Lula na conta de uma pessoa como o Fernando Henrique. De quem discordo profundamente, mas por quem eu tenho, no passado, respeito, afeto etc. Mas aí está a explicação. Vi o Lula se corrompendo de perto — comenta.

Na entrevista, Ciro promete acabar com a emenda de relator no primeiro dia de governo e não pretende negociar com o Centrão da mesma forma que fizeram outros governos.

—Esse caminho de presidencialismo de coalização, de contemporização com o orçamento secreto, com roubalheira, transformou a Presidência da República em uma testa de ferro do pacto cleptocrata, fisiológico e clientelista que destruíram a vida brasileira. Emendas de relator, tenha a santa paciência… Você simplesmente institucionalizou a roubalheira ou, na menor hipótese, a distribuição fisiológica clientelista de tostões prá cá e prá lá sem dar consistência nenhuma — afirmou.

O candidato do PDT também destacou, entre suas propostas, a compra de ações da Petrobras e a recompra da Eletrobras, privatizada por Bolsonaro.

— Não vou expropriar, tem que comprar de volta. E estou dizendo da onde vem o dinheiro. Temos US$ 360 bilhões em reservas cambiais. Quero converter parte dessas reservas num grande fundo de refinanciamento das dívidas das seis milhões de empresas endividadas do Brasil, trocando juro brasileiro por juro internacional, que é negativo. Vou dar prazo para as pessoas reestruturarem as suas dívidas para retomar o desenvolvimento brasileiro. De uma fração pequena dessas reservas, vou trocar um ativo, que rende zero, por uma ação que rende dividendos como a Petrobras e a Eletrobras — explicou.

Confira os principais momentos da entrevista:

“Acabo no primeiro dia com a emenda de relator”, diz Ciro

O candidato do PDT disse que vai acabar com a emenda de relator no primeiro dia de governo. O presidenciável afirmou que é preciso quebrar esse tipo de governança e a fisiologia fazendo referência ao orçamento secreto .

— Se o PT ganha a eleição com o Lula, vai fazer 50, 60 deputados. Bolsonaro fez o mesmo. Tenho me dado tratos de responder concretamente como um homem experiente. Sei bem o que me espera uma vez assumindo a Presidência. E essa governança é a certeza de uma crise eterna profunda. Esse caminho de presidencialismo de coalização, de contemporização com o orçamento secreto, com roubalheira, transformou a Presidência da República em uma testa de ferro do pacto cleptocrata, fisiológico e clientelista que destruíram a vida brasileira. Emendas de relator, tenha a santa paciência… Você simplesmente institucionalizou a roubalheira ou, na menor hipótese, a distribuição fisiológica clientelista de tostões prá cá e prá lá sem dar consistência nenhuma — disse.

Para ter governabilidade, outra solução proposta por Ciro Gomes é transformar a sua eleição num plebiscito programático. Caso seja eleito, ele disse que faria um pacto federativo com os governadores e criticou o presidencialismo de coalizão.

—Não é mágica, é a mágica de um homem experiente, que já foi deputado e governador. É impossível construir maiores orgânicas com o presidencialismo de coalização. É do presidencialismo brasileiro, não sou um marciano ingênuo. Sei o que me espera. Esta governança é a certeza da crise eterna e profunda. Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro governaram com essa gente, foram cassados, foram pra cadeia e foram desmoralizados. Pretendo transformar o máximo a minha eleição num plebiscito programático, esse pacto clientelista destruiu a política brasileira, institucionalizou a roubalheira — argumentou.

O candidato analisou todos os governos eleitos na retomada da democracia para reafirmar que fazer acordo com “o Centrão ão é não fazer nada”.

— O Brasil retoma a democracia e elege o Collor, que governa com essa gente e é cassado. O Fernando Henrique, uma figura ilustre e qualificadíssima, pela reeleição e medo de CPI, governa com essa gente e o PSDB nunca mais ganha eleição nacional. Nem sequer teve a condição de disputar hoje, com toda a qualidade de seus quadros. O Lula governa com essa gente e vai parar na cadeia, ontem passou metade do tempo explicando corrupção. A Dilma governa com essa gente e é cassada. O Michel Temer governa com essa gente e vai parar na cadeia. E o Bolsonaro governa com essa gente na contramão da denúncia que fez para se eleger e está desmoralizado. Eu estou tentando propor uma alternativa — explica.

Compra de ações ordinárias da Petrobras e recompra da Eletrobras

Entre suas propostas no campo das estatais, Ciro afirma que vai comprar ações ordinárias da Petrobras para transformar empresa em “grande companhia de energia limpa” e recomprar a Eletrobras, privatizada no governo Bolsonaro.

— Vou comprar até fazer a integralização de 60% do capital controlador. Isso custa de R$15 a R$20 bilhões. Nós temos 50,5% do capital em números redondos, eu quero comprar 9,5% das ações ordinárias com direito a voto. Porque quero transformar a Petrobras em uma grande companhia de energia limpa, em um prazo certo vai ser hidrogênio verde. Para acabar com combustível fóssil. O Brasil tem que ter um protagonismo no esforço de descarbonização da humanidade que está matando o planeta Terra — disse, garantindo ainda que vai recomprar a Eletrobras, privatizada no governo Bolsonaro.

‘Não proponho volta ao passado. Mundo do trabalho está revolucionando’, diz Ciro Gomes ao defender ‘padrão chinês’

Ele também criticou a Reforma Trabalhista do governo Michel Temer e disse que vai usar o padrão chinês para movimentar o mercado de trabalho e a economia do Brasil, que sofre com alta taxa de desemprego e baixa produtividade. O presidenciável prometeu um novo código do trabalho com menos insegurança jurídica.

— Nunca prosperou, nenhuma nação no mundo, que tenha introduzido nesse universo insegurança jurídica e econômica, que é o erro que a Reforma Trabalhista cometeu, ma minha opinião. Não proponho volta ao passado e à rigidez institucional, mas novas formas de trabalho têm de ser incorporadas. O mundo do trabalho está mudando— critica.

Sobre a China, Ciro destacou que o país tem custo por hora trabalhada maior que o Brasil.

— Ciclo de desenvolvimento que a China agora começa a experimentar é baseado na expansão do mercado interno e essa é a chave para nós entendermos qual o papel da renda do trabalho em uma economia como a brasileira — avalia.

Bolsonaro e pandemia

A corrupção também foi citada por Ciro Gomes ao falar da pandemia do coronavírus.

— É uma corrupção orgânica, generalizada. O Bolsonaro determinou ao comandante do Exército a compra de toneladas de cloroquina, eu denunciei isso. Um superfaturamento escandaloso na hora que o nosso povo estava morrendo. O Brasil tem três de cada 100 habitantes do mundo e aqui morreram 11% das pessoas que morreram no mundo porque estavam roubando na vacina, roubando na cloroquina— falou.

Ciro Gomes pontuou ainda que a corrupção é prejudicial para a manutenção da democracia.

— O Brasil precisa entender que o que está destruindo a democracia é essa concessão que a elite faz, essa aceitação passiva entre artistas e intelectuais de que a corrupção é isso mesmo. Eu discordo, eu não sou corrupto — garantiu.

Endividamento das famílias

Ciro elogiou a proposta apresentada por Lula no Jornal Nacional de rever endividamento das famílias semelhante à do seu plano de governo.

— É uma cópia que eu gosto que se faça. Minhas ideias não são minhas, estou recolhendo do povo. Estou recolhendo entre as experiências internacionais que eu estudo, entre as melhores literaturas disponíveis. Se vocês espremer a entrevista do Lula ontem, a única proposta que saiu foi essa. Fico feliz que é uma proposta que eu trouxe e foi levada ao deboche porque enfrenta o interesse de um novo escravismo que os bancos impuseram aos brasileiros— afirma.

Taxação de grandes fortunas

Ciro explicou como pretende taxar as grandes fortunas para financiar a renda mínima às famílias pobres brasileiras. O objetivo é acabar com a fome e a pobreza de milhões ao cobrar impostos de uma parcela pequena da população do país.

— Só três países não cobram taxas sobre lucros e dividendos: Brasil, Colômbia e Estônia. Uma pessoa que embolsa R$1 bilhão de reais em lucro, não paga 1 centavo disso. O trabalhador pagar até 27,5%. Impostos sobre grandes fortunas é uma emergência. Pretendo colocar uma alíquota de 0,5 a 1,5% que fatura acima de 20 milhões de reais, proporcionalmente. Com isso, atinjo 58 mil contribuintes num país de 212 milhões de habitantes, tal é a desigualdade de renda. Cada um deles vai financiar, por média, 801 brasileiros pobres.

O candidato criticou a elite brasileira, contrária à taxação das fortunas. Ele se declarou como “um abolicionista confrontando uma elite escravista” e que esse setor da sociedade não quer vê-lo na presidência de jeito algum.

— Não tenho nada contra a elite em si, porque toda nação precisa de uma elite em si. Uma vanguarda intelectual, econômica, tecnológica, estética, e compreendo a importância disso. Mas precisamos entender que a nação brasileira está passando fome. 120 milhões de pessoas estão passando fome hoje, não farão as três refeições hoje, comerão menos do que precisavam comer. Entre desemprego aberto, desalento e informalidade, uma jornada semanal tendente a 60 horas por semana — diz, acrescentando. — Deixa eu dar um dado para os brasileiros saberem porque essa elite, no sentindo ruim do termo, quer ver o satanás e não quer me ver na presidência. Quem sabe seja por isso que eu não consigo. O IPTU de São Paulo por mês equivale ao que o Brasil arrecada de Imposto Territorial Rural por ano. O que justifica que o imposto dos grandes latifúndios do Brasil inteiro, um agronegócio extremante competitivo, pague menos imposto que o IPTU de São Paulo por mês? Eu sei onde está o dinheiro — afirma.

Forças Armadas e política externa

Ao ser perguntado sobre a presença das Forças Armadas e o caminho da política externa em seu plano de governo, Ciro Gomes disse que o Brasil precisa ter a capacidade de dizer “não”.

—Restaurar a autoridade da presidência também é entender o papel sensível, crítico, estratégico, indispensável de um aparato de defesa capaz de garantir ao Brasil a capacidade de dizer não. Uma política externa ativa, lúcida, que recupere o Barão do Rio Branco, Oswaldo Aranha, Santiago Dantas, que esses camaradas não sabem nem quem é. De um lado, a solução pacífica dos conflitos, não intervenção, uma ordem internacional assentada no direito, não na violência. De outro lado, um aparato de defesa profissional, tecnológico, com capacidade dissuasória. O Brasil não tem conflito nenhum com ninguém e nem quer ter. Mas nós precisamos ter capacidade de dizer não.

Ciro também prometeu uma atuação efetiva na faixa de fronteia amazônica, hoje, comandada pelo crime organizado, segundo ele.

—Essa faixa de fronteira na Amazônia hoje quem manda não é o Estado brasileiro, quem manda ali é uma holding do crime. E é tão extensa a redes de crimes e tão claro para qualquer um poder desvendar que não aconteceria se não fosse ação ou omissão ou conivência das autoridades, inclusive das Forças Armadas. Vou tomar de volta o território — garante.

Eleitorado evangélico

Sobre voto evangélico como definidor das eleições, Ciro criticou o uso da religião dentro da política:

—Todas as vezes que políticos safados, espertos, misturaram a religiosidade do povo com política, deu em genocídio, morte, intolerância e violência.

Ele acrescentou ainda que o corte eleitoral está diferente entre evangélicos e não evangélicos:

— Tem uma relevância crescente no Brasil, porque falamos de quase um terço do eleitorado brasileiro. E é uma coisa relativamente nova, pra não dizer novíssima, na vida brasileira, é que o corte, de natureza eleitoral, está profundamente diferente entre os evangélicos e não evangélicos, mesmo entre outras denominações cristãs, como os católicos. É preciso ter clareza disso.

Fim da reeleição

Assim como a candidata Simone Tebet (MDB), Ciro garantiu que, se eleito, vai pedir o fim da reeleição. Ele também reafirmou que sairá da política após fim do mandato.

— Se eu for eleito, vou entregar o que prometi e não vou ser reeleito. Vou pedir o fim da reeleição pra mim e para todo o Brasil. E, como eu não vou ter outra disputa, estarei dando o meu definitivo tempo da política — promete.

Apoio no 2º turno

Questionado sobre qual seria sua posição em um eventual segundo turno sem a sua participação, Ciro disse acreditar que vai reverter cenário polarizado entre Lula e Bolsonaro.

— Estarei no segundo turno, nem sob tortura admito essa ideia. Quero muito ganhar as eleições, estou com a psicologia de quem acredita que daqui a pouco Deus vai tocar o coração do povo brasileiro, eu vou estar na área pedindo a bola e vai ser um gol de bicicleta lindo, que vai fazer o Brasil voltar a ter muita esperança de que vamos começar de novo — afirma.

Ele é o terceiro presidenciável sabatinado pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico e pela rádio CBN. A entrevista está sendo transmitida ao vivo pela rádio e nos sites e redes sociais dos três veículos. O encontro dá sequência à série de sabatinas que, nesta quinta-feira, ouviu a candidata Simone Tebet (MDB). Na véspera, Verá Lúcia (PSTU) também participou.

Ciro é entrevistado por alguns dos mais importantes jornalistas do país, colunistas dos três veículos: Lauro Jardim, Merval Pereira, Vera Magalhães, Milton Jung, Maria Cristina Fernandes e Fernando Exman. O mesmo time sabatinou Tebet.

Foram chamados os cinco candidatos mais bem colocados na última pesquisa Datafolha. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) não confirmaram presença.