COMISSÃO

Prefeito de Bonfinópolis (GO) pensou que pedido de propina de pastores do MEC era “golpe”

O prefeito de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro (Cidadania), falou à Comissão de Educação no Senado, nesta…

Prefeito de Bonfinópolis diz no Senado que achou ser golpe pedido de propina de pastores do MEC
Prefeito de Bonfinópolis diz no Senado que achou ser golpe pedido de propina de pastores do MEC (Foto: Reprodução)

O prefeito de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro (Cidadania), falou à Comissão de Educação no Senado, nesta terça-feira (5) sobre o suposto caso de lobby no Ministério da Educação (MEC). Ao colegiado, ele disse que foi abordado pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos que, segundo ele, pediram propina de R$ 15 mil para aprovação da construção de uma escola. Ele diz ter desconfiado da demanda e achou que esta era isolada e sem aval do MEC. “Golpe”, imaginou.

“É preciso separar dois momentos. Eu tive um primeiro encontro com os pastores em Goiânia. Participava de uma entreviste e, ao sair, uma pessoa que não conhecia e não conheço me abordou, pedindo o número, pois ‘o pastor Gilmar Santos gostaria de falar com você’. Eu não conhecia, mas disse sem problemas. No dia seguinte me perguntaram se eu tinha interesse em voltar a Goiânia para conversar com o pastor Gilmar para conversarmos com o ministro da Educação [à época, Milton Ribeiro]. Eu disse que havia interesse.”

Segundo ele, no local indicado, na capital, os pastores disseram que tinham um bom canal com Brasília para levar as demandas dos prefeitos. O gestor, então, informou que precisava de um novo prédio para uma escola. Neste momento, Kelton relatou que pediram uma contribuição para a igreja. Seriam mil bíblias no valor de R$ 50. Ele então informou que respondeu: “Eu não consigo dar essa contribuição nesse valor. Estou prefeito, mas não quer dizer que possa comprar… Mas uma oferta pessoal eu posso fazer. Mas não condicionaram a compra dessas bíblias à reunião com o ministro”.

Kelton continuou e disse que a reunião ocorreu em 11 de março de 2022, no Ministério – da igreja, cerca de dez dias antes. Após o encontro, ele declarou à comissão que os pastores o convidaram para um almoço, quando ocorreu o pedido de propina. “Olha prefeito, vi que seu ofício pede a escola e deve custar R$ 7 milhões. Preciso de R$ 15 mil na minha conta hoje. Vocês político não têm palavra. Se ficar para depois não pagam”, teria dito o pastor Ailton, segundo o prefeito.

Reação

Após o pedido, Kelton afirmou aos senadores que ficou “sem chão”. “Me deu ânsia de vômito. Eu disse: ‘pastor, o que o senhor está me dizendo – eu fiquei sem chão…’ Ele disse que cobrou R$ 15 mil porque eu estava com o pastor Gilmar, porque dos outros cobrou R$ 40 mil.” O gestor de Bonfinópolis disse, então, que não tinha interesse em pagar esses valores e deixou o local.

Ele disse que recebeu ligação uma semana depois, do pastor Arilton, perguntando se tinha interesse. De acordo com o prefeito, a resposta foi “não”.

O senador Randolfe Rodrigues comentou a narrativa e chamou o esquema de corrupção de básico e desqualificado. “Em outras épocas, a corrupção era mais elaborada. O ministro marca uma reunião, faz um discurso anticorrupção e ao lado dele, dois intermediadores. O ministro qualificando dois lobistas. Os caras desqualificam políticos e ofendem a política em nome de uma antipolítica propineira. Esquema cínico, nojento, vulgar.”

Kelton foi um dos vários prefeitos ouvidos nesta manhã de terça-feira pela comissão para tentar esclarecer o suposto beneficiamento indevido na destinação de verbas.

Relembre

Vale lembrar, no último dia 21 o jornal “Folha de S. Paulo” divulgou áudio em que mostra um suposto “gabinete paralelo” no Ministério da Educação. Em conversa gravada e obtida pela reportagem, o então ministro Milton Ribeiro diz atender uma solicitação do presidente Jair Bolsonaro e que o Governo Federal prioriza prefeitos cujos pedidos de liberação de verba foram negociados com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que teria pedido 1 kg de ouro para liberar dinheiro no MEC.

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar […] porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender todos os que são amigos do pastor Gilmar”, afirma o ministro em conversa entre os religiosos e alguns prefeitos.

Gilmar prega o evangelho há 40 anos, segundo a biografia dele do Instagram. O Mais Goiás tenta contato com ele e também com Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil (CONIMADB) e Instituto Teológico Cristo Para Todos (ITCT), entidades que ele preside. Ele é presidente da Assembleia de Deus (AD) Ministério Cristo para Todos, localizada na Av. T-9, no Jardim América, na capital.

Confira a fala de Kelton a partir de 2:21:49:

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