Transparência

Operação Serenata de Amor: de olho nos gastos públicos

E se o cidadão comum soubesse que os gastos banais, mas com dinheiro público dos…

E se o cidadão comum soubesse que os gastos banais, mas com dinheiro público dos políticos está sendo monitorado? Esta é a proposta da Operação Serenata de Amor, idealizada por um grupo de jovens em Brasília, que usa um robô para monitorar e capturar discrepâncias nos gastos dos parlamentares.

Em apenas dois meses, o robô Rosie detectou 3.553 irregularidades. A equipe da Operação, formada por apenas oito amigos, então cruza os dados e presta queixa na Ouvidoria. Segundo reportagem do O Tempo, a operação já investigou 216 deputados com gastos suspeitos que ultrapassam os R$ 378 mil.

Pedro Vilanova é o supervisor de comunicação e investigação da operação e conta que o projeto foi idealizado pela dupla Irio Musskopf e Felipe Cabral, que começaram a investigar no começo do ano passado. Porém, a ideia só ganhou forma no segundo semestre e tem gerado um burburinho, graças à cobertura da imprensa.

“O nome é inspirado no Caso Toblerone, onde uma ministra sofreu sanções por comprar uma barra de chocolate com dinheiro público. Replicamos isso para um chocolatinho brasileiro. Nossa ideia é que o nível de fiscalização de gastos públicos seja minucioso assim. Fora isso, brincamos que temos um nome parecido com o das operações da Polícia Federal”, conta.

Quem tiver interesse, pode acompanhar as atividades deles pelo Facebook, rede social escolhida por ser conhecida e de fácil acesso: “Usamos o Facebook porque é uma plataforma democrática, de rápido compartilhamento. Mas também discutimos ideias no Telegram (em um grupo com 500 pessoas) e no GitHub, uma espécie de plataforma exclusiva pra projetos de tecnologia e código. Fora isso, escrevemos no Medium com frequência sobre o projeto”.

Pedro conta que embora Rosie faça a varredura, o cruzamento de dados é um processo humano e criterioso: “Nosso processo de denúncia é humano. Nós validamos as denúncias do robô, observando se existem falsos positivos ou se elas são todas válidas. Daí, acessamos o próprio portal da câmara dos deputados e fazemos as denúncias. Uma por uma”.

E os números são impressionantes: Pedro contou que até agora foram 629 denúncias na Câmara dos Deputados com 25 restituições de dinheiro público. “Ainda aguardamos por aproximadamente 500 respostas oficiais da Câmara. Desde a conclusão do projeto de corwdfunding, foram 3 meses de trabalho em tempo integral em cima da implementação da Rosie. E após isso, colhemos os frutos das primeiras análises do robô. Foram mais de 3500 denúncias feitas por ela nesse período”, explica.

Mas e os políticos? Quando se mexe com o poder, sempre há o medo de retaliações. Segundo Pedro, não houve nada do tipo até agora: “Apenas tem crescido o número de casos que a Câmara não consegue solucionar, avisando que ainda está em contato com o gabinete do parlamentar. Não recebemos nem resistência, nem ameaça, nem nenhum tipo de apoio vindo oficialmente de nenhum parlamentar”.

Porém, Pedro chama atenção para o fato de que o grupo enfrenta dificuldades financeiras para manter a operação funcionando, mas que a cobertura da mídia tem ajudado a atrair investidores para o projeto. “Temos uma cobertura razoável. Como saímos na semana passada na Folha, na Galileu e especialmente no Jornal Nacional, fomos procurados por mais gente. Mas, pra ser sincero, ainda nos falta apoio financeiro. Lutamos muito para conseguirmos viabilizar o primeiro crowdfunding e a batalha permanece agora para dar continuidade do projeto”.

Caso você tenha interesse em investir, basta entrar em contato com o grupo pelo Facebook para receber as instruções necessárias. De qualquer forma, Pedro acredita que a meta da Operação foi atingida e que o próximo passo agora é expandi-la: “O objetivo foi cumprido. A Rosie está pronta e funcionando. Nossa ideia agora é concluir mais hipóteses tendo como base a CEAP e em seguida partir para outras esferas, como Senado e câmaras municipais”.