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Tibia: 20 anos de um dos RPGs mais jogados do Brasil

Gráficos toscos, poucos efeitos especiais, animações rudimentares, nenhuma fidelidade em tempo real e absolutamente nenhum…

Gráficos toscos, poucos efeitos especiais, animações rudimentares, nenhuma fidelidade em tempo real e absolutamente nenhum som. Estranhamente, em tempos de HDTV 4K, Tibia continua sendo um dos MMORPGs mais populares do Brasil. Apesar de ter completado 20 anos, os brasileiros ainda representam a maior parcela de jogadores deste clássico mudo.

O jogo acabou ganhando força e se tornando super conhecido por aqui por volta de 2003 por motivos que eram, de início, estritamente técnicos: com menos de 100 MB de espaço e gráficos modestos, o jogo podia rodar em qualquer máquina. Mais importante: você podia jogá-lo com seus amigos mesmo usando uma conexão discada.

Tibia, que neste caso não é um osso da perna, foi lançado originalmente em 1997 pelo minúsculo estúdio independente CipSoft, da Alemanha. De cara ele entrou para a história como um dos primeiros MMOs do mundo, ficando online mesmo antes de Ultima Online, lançado em setembro daquele ano.

Porém, mesmo sendo tecnicamente mais apurado, Ultima tinha uma questão proibitiva para muitos jogadores: ele era pago. Embora tecnicamente Tibia não tenha sido o primeiro do gênero, para muitos ele é considerado o primeiro com relevância.

Ao longo de 20 anos, ele acumulou 30 milhões de usuários chegando a um resultado incrível: cerca de 1% de todos os usuários da internet já jogaram Tibia. Se todo o tempo jogado fosse somado, teríamos 300 mil anos de Tibia à nossa frente.

Com atualizações constantes e uma comunidade socialmente ativa, o jogo continua gerando dados estranhos ou engraçados. A CipSoft divulgou alguns deles para a nossa diversão. Para se ter uma ideia, existem 1.197 monstros diferentes no jogo e 27.878 deles são mortos todos os dias pelos jogadores. Mais ainda: cerca de 18% dos personagens ativos se casaram in game com outros personagens. Em 20 anos, mais de 47 mil casamentos virtuais aconteceram no jogo.

Origem

A ideia para o jogo surgiu da cabeça de três estudantes em 1995 que queriam criar uma interface gráfica para os populares MUDs (multi-user dungeon), que eram basicamente RPGs textuais no PC e com vários jogadores.

Stephan Börzsönyi, Ulrich Schlott e Stephan Vogler começaram a escrever as primeiras linhas de código no ano seguinte. Os três depois adicionaram mais dois caras ao projeto e fizeram tudo do zero: os desenhos, as animações, os objetos, os avatares. Era tudo muito limitado de fato e a base gráfica para todo o projeto vinha direto de Ultima IV.

Além disso, tudo era feito apenas nas horas vagas: afinal, todos os envolvidos tinham contas a pagar, cursos e trabalhos para fazer. Parte das inovações parecem bobas hoje em dia: um chat embutido no jogo, nomes individuais e personalização rudimentar, além da habilidade de mover objetos.

Dessa muitos vão se lembrar: a página de login entre 2003 e 2006 (Reprodução)

Quando o jogo finalmente foi lançado para Linux e PC, seu servidor funcionava em um laboratório emprestado de uma universidade alemã. Então, ele recebeu seu primeiro NPC (Sam, da cidade de Tais, presente até hoje) e seus primeiros monstros: aranhas, trolls e ciclopes.

Daí em diante o resto é história: o jogo começou a atrair jogadores por sua interface inovadora para a época e por ser gratuito. Os primeiros curiosos vieram da Alemanha, da Holanda e dos EUA, mas conforme a internet se espalhou pelo mundo, o jogo logo virou um fenômeno no Brasil.

Nostalgia

Até hoje, em tempos de PS4, a maior parte da comunidade de Tibia é composta por jogadores brasileiros, seguidos de perto pelos poloneses. Em qualquer lugar do jogo, se você conversar em português no chat, há grandes chances de ser respondido no mesmo idioma (e de ser xingado por aquele único francês perdido em todo servidor de qualquer jogo online).

O auge do jogo no Brasil, porém, foi entre 2003 e 2005, quando a internet e o computador individual começaram a se tornar realidade para grande parte dos brasileiros. Muitos de nós tinha acesso apenas à internet discada e a computadores ultrapassados e Tibia era feito na medida para sistemas antigos.

Esse foi inclusive o motivo do programador Danillo Bueno: “eu comecei a jogar por volta do ano de 2003 escolhi o tíbia através de pesquisa na época de jogos que não exigiam tanto de processamento gráfico e de banda de internet, visto que a internet que eu possuía na época era discada e como o custo era alto, só jogava após a meia noite e em finais de semana”.

Para ele, as atualizações de conteúdo (anos antes dos temidos DLC) faziam os gráficos perderam a importância: “o RPG do jogo era instigante e as constantes atualizações me motivavam cada vez mais, deixando os gráficos e a falta de som em segundo plano”.

Outros nunca abandonaram o jogo, como é o caso do advogado Jairo Nunes: “Comecei a jogar Tibia em 2005. Eu jogava muito Counter-Strike, na época tinha patrocínio de uma grande lan house em Goiânia. Como vivia dentro da lan, conheci algumas pessoas que jogavam Tibia que me apresentaram o jogo. Comecei a jogar e não parei mais”.

Nunes chegou mesmo a ter um personagem com alguns dos níveis mais altos dentro do jogo, mas acabou banido: “Devido à falta de tempo, jogo durante as férias, às vezes. Meu char (personagem) atual é lvl 130 Elite Knight. Meu antigo char, lvl 220, tomei delete por dividir com um amigo”, conta.

Então, deu pra sentir saudade? O jogo continua gratuito e pode ser baixado em segundos pelo site oficial.