A coluna Descomplicando, da @jornalistaleticianobre, estreia traduzindo temas complexos em informação útil, acessível e conectada à vida real

Educação

Diploma universitário ainda compensa, apesar das dancinhas, stories e bets

Entre promessas de riqueza nas redes sociais e apostas online, estudos demonstram que graduação entrega retorno mesmo diante das “concorrências”

Em imagem desfocada, mulher segura diploma
Diploma universitário ainda representa maior remuneração e menor chance de desemprego. (Foto: Freepik)

De tempos em tempos, surge uma nova onda de “concorrentes” tentando decretar a morte da faculdade. Influenciadores com milhões de seguidores fazem parecer que o caminho do sucesso está só a um clique, e não mais em anos de estudo. Somam-se a isso as plataformas de apostas esportivas online — que seduzem jovens e adultos com a promessa de dinheiro fácil e ganhos imediatos. Mas a realidade, fora das telas e dos palpites, segue mostrando que educação superior ainda tem peso para o mercado de trabalho e ascensão econômica.

LEIA TAMBÉM

Bets estão tirando jovens e adultos do ensino universitário

Quanto vale, de fato, um diploma?

No Brasil, o Indicador de Empregabilidade da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), em parceria com a Symplicity, revela que o tempo para recuperar o valor investido na mensalidade — chamado “payback” do ensino superior — é de 18 meses para cursos presenciais e apenas 6 meses para graduações a distância (EAD). 

A estimativa leva em conta que a graduação presencial exige um investimento médio de R$ 43.351,20, enquanto a EAD custa, em média, R$ 8.125,44. Após a formatura, o ganho mensal dos profissionais que já estão no mercado e que melhoram sua capacitação representa um adicional estimado é de R$ 2.430,49 (presencial) e R$ 1.584,88 (EAD).

Ou seja, mesmo com variações entre áreas e regiões pelo Brasil, a graduação continua sendo uma aposta financeiramente vantajosa para quem conclui o curso.

Diploma ainda faz diferença

Dados da OCDE, no relatório Education at a Glance 2025, reforçam esse cenário: no Brasil, o diploma de ensino superior representa uma diferença de 148% na média salarial –  bem acima da média dos países membros, que é de 54 %. Isso quer dizer que, em média, quem conclui uma faculdade ganha mais que o dobro de quem ficou apenas com o ensino médio.

Além do salário, o diploma também representa maior estabilidade. A taxa de desemprego entre brasileiros de 25 a 34 anos com ensino superior é significativamente menor do que entre aqueles com apenas o ensino médio. Ou seja, o retorno da educação superior não se dá apenas pelo valor do contracheque, mas também pela maior segurança diante de crises e mudanças econômicas.

O Censo da Educação Superior 2024, divulgado nesta semana pelo Inep/MEC, confirma o avanço dessa busca por qualificação. Pela primeira vez, as matrículas em cursos a distância superaram as do presencial: são mais de 10,2 milhões de estudantes no ensino superior, e 50,7% deles estudam a distância. Entre 2023 e 2024, o número de alunos em cursos online cresceu 5,6%, enquanto o presencial encolheu.

Concorrências perigosas

A influência das redes sociais também é massiva. O Brasil é um dos países com mais influenciadores ativos no Instagram: cerca de 3,8 milhões de perfis tentam se destacar, segundo relatório do Influencer Marketing Hub. A concorrência é feroz, o mercado está saturado e a maioria desses criadores não vive apenas de likes. Muitos dependem de publiposts, parcerias comerciais, vendas de produtos ou cursos para manter o negócio digital — o que exige planejamento, investimento e, muitas vezes, qualificação informal.

Ao mesmo tempo que mais brasileiros buscam formação, cresce também o número dos que desistem da faculdade — não só por dificuldades financeiras, mas por estarem seduzidos por outras promessas. Uma delas são as bets, as apostas esportivas online, que transformaram o cenário digital em uma arena de ilusões.

Edições anteriores desta coluna já mostraram como as plataformas de apostas estão concorrendo diretamente com a sala de aula. Em vez de investir tempo e dinheiro em educação, muitos jovens preferem apostar em um palpite para resolver a vida. A lógica do ganho fácil atropela o processo de formação.

No fundo, tanto os vídeos virais de influenciadores quanto as apostas funcionam sob o mesmo princípio: a ideia de que é possível pular etapas. Mas, diferente da exceção alardeada nas redes, a regra segue sendo dura: sem preparo, o mercado cobra caro.

Desistir no meio do caminho

Apesar das vantagens, o ensino superior brasileiro enfrenta desafios que não podem ser ignorados. O mesmo estudo da OCDE alerta que metade dos brasileiros que entram na faculdade não consegue concluir o curso. As razões vão desde dificuldades financeiras até desilusão com a formação recebida.

O cenário é ainda mais delicado na EAD. Embora a modalidade tenha avançado em escala, ela carrega preocupações com a qualidade. O novo marco regulatório da educação a distância, divulgado em maio pelo Ministério da Educação e que dá às instituições de ensino superior até dois anos para se adaptarem, tende à minimizar essas imperfeições. As novas regras incluem exigências de infraestrutura física mínima, fiscalização mais rigorosa e revisão no modelo de polos educacionais.

Educação como projeto de futuro

Investir em educação superior continua sendo, para muitos, uma das formas mais eficazes de ampliar horizontes profissionais e conquistar melhores salários. Mas a decisão exige planejamento, acesso à informação de qualidade e, principalmente, políticas públicas que garantam a permanência dos estudantes — especialmente os mais vulneráveis.

Fazer faculdade não é garantia de sucesso. Mas abrir mão dela com base no que se vê em vídeos de 30 segundos — ou na ilusão de enriquecer com um bilhete virtual — pode sair muito caro. A vida real não cabe nos stories, nem nos palpites de última hora.

Você tem sugestões de pauta para a coluna Descomplicando? Envia um e-mail para descomplicando@maisgoias.com.br e participe ativamente desse espaço. 

LEIA MAIS

Parcela da população com ensino superior quase triplica, mas está abaixo de 20%

TJGO decide que aluno pode iniciar curso de medicina antes de concluir ensino médio