A coluna Descomplicando, da @jornalistaleticianobre, estreia traduzindo temas complexos em informação útil, acessível e conectada à vida real
IA encontra o imóvel ideal em segundos e muda o trabalho dos corretores em Goiânia
Tecnologia redesenha a busca, o anúncio e a negociação de imóveis na capital, enquanto profissionais se adaptam a uma rotina mais rápida e digital
Houve um tempo em que, para comprar, alugar ou vender um imóvel, anunciantes e interessados dependiam integralmente das placas físicas na janela e muros e dos classificados no jornal impresso. Essa cena clássica começou a mudar com a facilidade dos anúncios online e, agora, as ferramentas de inteligência artificial mudam novamente o cenário. Nos últimos meses, plataformas e imobiliárias da capital passaram por uma transformação digital e estão encurtando o caminho entre oferta e demanda.
O resultado tem sido uma rotina mais dinâmica para quem trabalha no setor e uma experiência menos cansativa para quem está do outro lado da tela, em busca de um lugar para morar ou investir.
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A rotina do consultor imobiliário Diego Damazo, da Lídder Imobiliária, mudou. Ele ainda acorda cedo, agenda visitas, conversa com clientes e acompanha a movimentação do mercado. Mas algo no bastidor ficou mais leve. Antes, Diego começava a rotina filtrando mensagens, identificando quem realmente estava interessado e tentando entender o que cada pessoa buscava. Agora, boa parte desse trabalho é feita por inteligência artificial.
Segundo ele, ferramentas como chatbots e CRMs integrados (veja abaixo) ao WhatsApp já fazem a triagem inicial, identificam o perfil do cliente e organizam prioridades. O efeito é imediato: menos tempo respondendo perguntas repetidas e mais foco na negociação real. “O tempo de resposta caiu drasticamente, o que aumenta a conversão e melhora a experiência do cliente. No fim, isso se traduz em mais vendas e menos estresse”, resume.
ENTENDA!
Chatbots são “robôs de conversa”. Eles respondem mensagens automaticamente, geralmente no WhatsApp, Instagram ou sites. Funcionam como aquele atendente que está sempre online, tirando dúvidas básicas, enviando informações iniciais sobre o imóvel e coletando dados do cliente — tudo antes de o corretor entrar na conversa.
CRM integrado é um sistema que organiza tudo o que acontece no atendimento. Ele registra cada contato, mostra em que etapa da negociação o cliente está, salva preferências e lembra o corretor do que precisa ser feito.
Quando o chatbot e o CRM trabalham juntos, acontece algo importante: o robô conversa com a pessoa, identifica o interesse e envia essas informações diretamente para o sistema. Assim, quando o corretor assume a conversa, já sabe quem é o cliente, o que ele procura e o nível de urgência — sem precisar começar do zero.
A IA também ajuda Diego a entender mais rápido o estágio de cada comprador. Antes, ele precisava de várias conversas para perceber se o cliente estava pronto para comprar, apenas sondando o mercado ou ainda em dúvida sobre financiamento. Agora, os sistemas analisam buscas anteriores, preferências e até o comportamento no site. “Consigo oferecer imóveis que fazem sentido logo no começo. O atendimento fica mais assertivo e o cliente sente que está sendo compreendido”, afirma. As facilidades não representam uma ameaça à profissão. “A tecnologia cuida das tarefas repetitivas. O corretor continua sendo o elo emocional da negociação. Essa parte é insubstituível”, afirma o consultor imobiliário.
Eficiência, rotina mais leve e novos papéis nas imobiliárias
A experiência de Diego não é isolada. Em outra ponta do mercado, a sócia diretora Andressa Borges, da My Broker, diz que a IA entrou de vez no dia a dia da equipe. Por lá, ferramentas como ChatGPT são usadas para redigir textos, criar peças de divulgação, otimizar processos, converter áudio em texto e até apoiar o jurídico com minutas que depois passam por revisão. “Um texto que levaria horas é feito em segundos. Cards de marketing, que antes dependiam do design, são criados rapidamente. Hoje, a IA está presente em todos os setores”, explica.
Para ela, a automação não substitui pessoas — só reorganiza o trabalho. “A tecnologia vem para apoiar, não para substituir. O toque humano continua indispensável. Cliente nenhum fecha negócio apenas com uma máquina”, diz. A equipe, segundo ela, recebeu bem a mudança e percebeu a melhoria na produtividade. “Não temos números exatos, mas sentimos no dia a dia. Tudo flui melhor.”
Plataformas digitais puxam a transformação
As mudanças nas imobiliárias locais refletem um movimento maior no ramo imobiliário nacional. Grandes plataformas também estão adotando tecnologias que prometem transformar a relação dos consumidores com a busca por imóveis. Entre elas, está a Loft, que iniciou uma expansão em Goiânia e trouxe soluções de IA para quem quer comprar, vender ou alugar imóveis na capital.
Uma das novidades é o buscador em linguagem natural. Em vez de selecionar requisitos em filtros, o consumidor escreve o que quer como se estivesse conversando com alguém: “apartamento com varanda para plantas”, “casa perto de escola”, “dois quartos com janelas amplas”. A plataforma interpreta imagens e descrições de mais de 800 mil imóveis e devolve uma lista personalizada. A empresa afirma que, mesmo em fase de testes nas imobiliárias parceiras, o recurso aumentou em 57% a conversão de interessados — ou seja, mais gente disposta a ser atendida por um corretor depois de usar a ferramenta.
Outra aposta é a possibilidade de redesenhar ambientes a partir das fotos do anúncio. Em poucos segundos, o usuário vê o cômodo redecorado digitalmente em diferentes estilos, o que ajuda a visualizar potencial que muitas vezes não aparece nas imagens originais. Um levantamento interno da Loft mostrou que anúncios com boas fotos recebem 26% mais cliques e têm 42% mais chances de gerar visitas. A empresa também prepara vídeos automáticos apresentados por avatares de corretores, com roteiro, áudio e decoração virtual, personalizados e gerados por IA.
Além da vitrine, a tecnologia alcançou o atendimento. O Qualifica Leads, ferramenta da Loft, inicia a conversa com o interessado assim que ele envia mensagem pelo WhatsApp. A IA responde às dúvidas básicas e só depois encaminha para o corretor humano. A proposta é reduzir o tempo de retorno — uma dor antiga do mercado — e evitar perda de oportunidades. Segundo dados apresentados pela empresa, quando o cliente recebe resposta em até cinco minutos, a chance de fechar negócio pode ser até 20 vezes maior.
Para quem está em busca de um imóvel, a transformação aparece de forma prática. O processo tende a ficar menos cansativo e mais certeiro: menos visitas que não fazem sentido, atendimento mais ágil e busca personalizada. Mas nem tudo são vantagens. O uso de imagens simuladas — seja em ambientes redecorados, seja em vídeos com avatares — exige transparência. As empresas e os profissionais devem ficar atentos ao deixar claro ao consumidor quando está diante de uma projeção, não de uma foto real. É um debate que o mercado ainda precisa amadurecer.
O fato é que a inteligência artificial não é mais uma promessa. Ela já está presente no atendimento, no anúncio, no marketing e até na organização do trabalho dentro das imobiliárias. Para os profissionais — ligados ou não diretamente ao relacionamento com o cliente —, dominar as ferramentas pode ser a diferença entre acompanhar o ritmo do setor ou ficar para trás.
Para quem procura um imóvel, é a chance de viver uma experiência mais fluida, menos burocrática e mais alinhada ao que de fato importa: encontrar um lar que faça sentido. E, apesar da tecnologia, uma coisa não muda: a decisão final continua sendo humana — um equilíbrio entre dados, intuição e aquele olhar que nenhuma máquina consegue reproduzir.
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