A coluna Descomplicando, da @jornalistaleticianobre, estreia traduzindo temas complexos em informação útil, acessível e conectada à vida real
O que pesa na escolha do imóvel ideal em Goiânia
Estudo aponta que comodidades na rotina e estrutura do perto de casa valem mais que o tamanho do casa ou apartamento para novos moradores
Quando a jornalista Carolina Augusta Lima deixou Águas Claras (DF) e se mudou com a família para Goiânia, em 2023, o que buscava não cabia em metros quadrados. Ela queria menos tempo no trânsito, mais tempo com as filhas, uma rotina com qualidade e um aluguel que coubesse no orçamento da família. Conseguiu tudo isso pagando R$ 1,5 mil por um apartamento de dois quartos no Setor Negrão de Lima, a poucos minutos da Praça Cívica, onde trabalha presencialmente.
A escolha foi estratégica: além da proximidade do trabalho, Carol encontrou escola pública integral para as filhas, comércio de bairro, feira semanal e um projeto social com aulas de atividade física a dois quarteirões de casa. “Hoje faço tudo a pé. A vida ficou mais leve”, resume. A mudança, segundo ela, transformou a rotina e trouxe um ganho difícil de mensurar: tempo de vida.
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A experiência da jornalista não é um caso isolado. Dados da pesquisa feita pela empresa de tecnologia imobiliária Loft, em parceria com a empresa de inteligência de mercado Offerwise apontam que os três fatores mais valorizados por quem está em busca de um imóvel são segurança (67%), comércio próximo (61%) e tranquilidade (54%). E a vivência de Carolina e sua família exemplifica perfeitamente esse perfil. “O que os dados mostram é que o goianiense busca um equilíbrio entre qualidade de vida e praticidade. A proximidade com comércios e serviços, somada à percepção de segurança, é decisiva na hora da escolha”, afirma Fábio Takahashi, gerente de Dados da Loft.
Localização pesa, mas preço fecha
Especialistas do mercado imobiliário local, como o gerente comercial da Imobiliária Lopes Bueno, Daniel Salvo, explicam que, no dia a dia do mercado imobiliário, há ainda mais dinâmicas em jogo — e que o fator emocional também entra com força nas decisões. Ele afirma que além das preferências, há elementos que não podem ser ignorados. “Pela ordem: localização, condição comercial atrativa e atributos do imóvel. Mas quem fecha o negócio é o preço”, afirma.
Ele destaca que o discurso da construtora ou imobiliária e a habilidade do corretor em apresentar uma narrativa de valor fazem toda a diferença para converter o interesse em contrato assinado, no caso da compra ou aluguel de um imóvel. Não é só onde fica ou como é a casa ou apartamento — é como o cliente se vê morando ali.
A jornalista, por exemplo, visitou apenas três apartamentos antes de bater o martelo. Todos próximos ao seu local de trabalho, mas ela priorizou o bairro que oferecia melhor mobilidade e estrutura no entorno. Sua decisão mostra que evitar grandes deslocamentos no dia a dia não é apenas questão de comodidade, mas um investimento em qualidade de vida. A rotina com as filhas, o fácil acesso à escola e a vizinhança acolhedora foram elementos que pesaram muito na escolha final.
Essa lógica também se reflete no comportamento mais recente do mercado. Daniel, que acompanha o mercado imobiliário em Goiânia e região há 15 anos, destaca que a pandemia alterou os hábitos de compra, com mais foco em praticidade e serviços perto de casa. Além disso, houve aumento na procura por imóveis compactos em bairros nobres, o que ampliou o acesso de perfis com menor orçamento a regiões tradicionalmente valorizadas. É um movimento que favorece bairros com boa estrutura, mas que ainda oferecem preços mais acessíveis.
Mercado em alta
A capital goiana vive uma valorização expressiva no mercado imobiliário. Em 2024, Goiânia se tornou o terceiro maior mercado de imóveis do país, com mais de 11 mil apartamentos vendidos e R$ 7,7 bilhões movimentados, segundo a Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás. E os números continuam crescendo: a previsão é que, em poucos anos, a cidade tenha o segundo metro quadrado mais caro do Brasil, atrás apenas de Balneário Camboriú (SC). A valorização média já chegou a 22% em bairros como Marista, Jardim Goiás e Bueno.
Mas a valorização não é uniforme. Daniel Salvo explica que ela varia conforme o tipo de imóvel e o segmento. “Imóveis novos, fora do Minha Casa Minha Vida (MCMV), tiveram crescimento que ultrapassa os 60%. Se incluirmos MCMV e usados, a média geral cai para 7% nos últimos 12 meses.” Mesmo com esse recorte, o cenário é de valorização contínua, sem sinais de recuo. E quem compra agora, afirma ele, tem boas chances de ver seu patrimônio crescer nos próximos anos.
No entanto, o gerente comercial faz um alerta: bairros como o Setor Negrão de Lima, onde Carolina e sua família vivem, não têm mais estoque de terrenos e já não recebem novos lançamentos. “É fora do baralho. Quem dita onde se constrói hoje é o Plano Diretor.” Por isso, bairros como Jardim América e Parque Amazônia ganham destaque como as novas fronteiras de custo-benefício. Eles ainda têm espaço para construção e infraestrutura consolidada — combinação ideal para quem quer morar bem sem extrapolar o orçamento.
Custo-benefício existe, mas exige atenção
A busca por imóveis com bom custo-benefício está em alta. Salvo destaca que apartamentos compactos, estúdios e imóveis de um quarto têm saída garantida, especialmente nos bairros nobres. Ao mesmo tempo, casas de condomínio e empreendimentos de alto padrão seguem como produtos em alta. O consumidor quer localização e praticidade — e está disposto a pagar por isso, desde que sinta que está fazendo um bom negócio, seja para alugar ou para comprar.
No levantamento realizado pela Loft/Offerwise, as casas são as mais desejadas (50%), seguido por apartamentos de até dois quartos (44%), casas em condomínio (21%) e apartamentos com mais de dois quartos (20%), considerando a ordem de preferência na hora da escolha.
Uma vez definido o próximo endereço é preciso ter cuidado com o que Daniel chama de “erros comuns” de quem está em busca de um imóvel. “O maior problema que vejo é a negligência com a documentação. Isso pode gerar prejuízos graves, inclusive processos judiciais”, afirma. Outro erro frequente é focar apenas no preço, sem avaliar a entrega, localização ou potencial de valorização. “Se está barato demais, tem fatura futura. Não existe almoço grátis.”
Carolina, mesmo sem experiência prévia no mercado local, evitou essas armadilhas. Escolheu um imóvel em região consolidada, perto de serviços, com preço justo e que encaixava perfeitamente em sua rotina. “Hoje tenho qualidade de vida, minhas filhas estão bem na escola, e meu marido também conseguiu um emprego perto de casa. Goiânia nos acolheu”, diz, feliz com o que a mudança de cidade trouxe para sua vida.
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