Coluna do Pablo Kossa

Batista Custódio merece todas as homenagens possíveis

Batista Custódio é uma lenda do jornalismo goiano e sua partida é símbolo do ocaso de uma era que já dá saudades em quem viveu

Batista Custódio, jornalista (Foto: Reprodução)

Batista Custódio morreu hoje, aos 88 anos. Debilitado pela idade avançada e lutando contra um câncer, o jornalista não resistiu e nos deixou causando comoção no jornalismo goiano. Fundador do lendário jornal Cinco de Março e do Diário da Manhã, seu Batista é daquele tipo de figura que não passa batido onde quer que esteja. Todo mundo que já teve algum tipo de contato com ele, por mais efêmero que seja, guarda algo inusitado para contar pelo resto da vida.

Comigo não é diferente. Trabalhei no Diário da Manhã por três anos, entre 2001 e 2004. Pode parecer pouco, e se observarmos só pelo aspecto cronológico é mesmo, mas a intensidade da vivência que o DM proporcionava faz que com esses três anos pareçam 30 quando penso em retrospecto. Esse período naquela redação me definiu, formatou e balizou no profissional que sou hoje. Só não sei se isso é totalmente bom…

Os tempos eram outros, é claro. Assédio moral era a coisa mais arroz com feijão do mundo. A legislação trabalhista existia, mas só no papel. Carga horária era lenda tal qual os ETs do Vale do Encantado. Na boa, nada mais século XX – uma empresa bagunçada, em que se trabalhava como cachorro, mas era divertido horrores e se aprendia sobre o jornalismo e a vida.

Fiz de tudo naquela redação. Escrevi para todas editorias, menos esportes. Virei editor muito rápido. Com 20 e poucos anos, já era chefe de um monte de repórteres cascudos. Um ambiente de liberdade caótica como jamais vi em outro lugar da minha vida.

É difícil explicar tudo que ali acontecia. Entrava tudo quanto é tipo de maluco na redação. Uma portaria sem filtros que fazia com que tivéssemos entrevistar e parir matérias das mais inacreditáveis. Vá por mim, entrevista psicografada é fichinha e até pauta conservadora diante do tanto de coisa maluca que rolava no DM.

Era uma zona, mas afetuosa; uma balbúrdia, mas divertida; um quebra-pau violento, mas que não tinha consequências no dia seguinte; uma gritaria ensurdecedora, mas produtiva; um verdadeiro caos, mas que sempre dava certo no final. Ou quase.

Batista era um chefe generoso e explosivo, inteligente e turrão, impulsivo e prestativo. Uma figuraça. 

O DM era a cara de seu dono. A redação era seu coração. E como gerações de jornalistas goianos tiveram por um período de suas vidas ali ao lado do Terminal da Praça da Bíblia e do Vila Nova, Batista viverá enquanto esses profissionais estiverem publicando seus textos por aí.

Uma grande perda para todos que tivemos a sorte de compartilhar momentos com Batista Custódio. Descanse em paz.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução