Crítica: ‘Nosferatu’ (2024) de Robert Eggers
Longa-metragem foi dirigido por Robert Eggers

O filme alemão mudo “Nosferatu”, de 1922, é um marco do expressionismo alemão e um dos longas mais importantes dos primórdios do cinema. Depois de não conseguir os direitos do livro “Drácula” de Bram Stoker, o diretor F. W. Murnau foi rebelde e decidiu adaptar a clássica história do vampiro mesmo assim. Mudou o nome principal da obra (colocou Nosferatu que é sinônimo de “vampiro” em húngaro-românica) e de todos os personagens, mas os acontecimentos principais da obra de Stoker estão todos lá. E à partir de um visual icônico, o vampiro chamado agora Conde Orlok se tornava a primeira grande adaptação da famosa história, e o primeiro vampiro famoso da Sétima Arte.
Em 1979. o diretor alemão Werner Herzog fez a sua adaptação da história mantendo o visual icônico do personagem titular, e finalizando o longa com um desfecho um pouco diferente, porém, instigante. Depois de 26 anos, Robert Eggers resolve lançar a sua versão inspirada no filme original e na obra literária de Bram Stoker, e entrega uma obra minuciosamente fiel em cada acontecimento da clássica narrativa. Portanto, depois de anos e com tantas adaptações do Drácula, o fator surpresa não será o chamariz deste “Nosferatu” de 2024.
Diante disto, Eggers decide compensar a falta de originalidade da trama no visual. Diretor de obras marcantes como “A Bruxa”, “O Farol” e “O Homem do Norte”, ele nos entrega um visual soturno e uma reconstrução de época, e mitologia, realizados com cuidado e minúcia. Como é bem comum em sua carreira, Eggers explora bastante a psique dos personagens, e utiliza do som e imagem para gerar desconforto e transmitir uma sensação angustiante de claustrofobia – algo que se encaixa perfeitamente ao tema do filme.
Mas há três coisas que me incomodaram bastante nesta nova iteração de “Nosferatu”. Apesar da direção de arte ser primorosa, a obsessão de Eggers em fotografar vários cenários da maneira como as pessoas iluminavam cômodos em tempos sem eletricidade (com velas ou tochas), resulta em um filme bastante escuro. Sim, a história se passa em grande parte no período da noite e estamos lidando com um personagem das trevas, mas no cinema temos vários exemplos de filmes que se passam à noite, porém, conseguimos enxergar o que está acontecendo. Aqui, em muitas cenas os personagens são filmados em sombras, ou em planos abertos apenas com uma vela ou tocha iluminando. Ao menos para mim, fiquei com muita vontade de aumentar o constraste em vários momentos para visualizar melhor o rosto dos atores e os cenários.
Já meu segundo problema com “Nosferatu” são as aparições do seu monstro titular. Esconder o personagem nos primeiros momentos faz sentido para a construção do suspense, mas manter este suspense até o final deixa a situação um pouco cansativa e irritante. Além disso, voltamos ao problema citado no parágrafo anterior. Nosferatu é filmado sempre debaixo de pesadas sombras, e com uma fotografia escura demais, dificultando a revelação total de sua aparência.
Daí entramos em meu terceiro problema com o filme: o visual do Nosferatu. Você já possui uma aparência memorável do filme de 1922, um personagem cujo visual foi um dos fatores por fazê-lo perdurar por tanto tempo no imaginário da cultura pop, no entanto, você quer reinventar a roda e decide modernizá-lo para a nova plateia ao invês de apenas reapresentá-lo. Me desculpa, mas é dificil de acreditar que um monstro milenar e totalmente desprovido de cuidados, com a pele toda machucada e relegado à um tormento noturno eterno, irá se preocupar em manter um bigode minuciosamente bem feito. Nosferatu de bigode não dá pra levar a sério e tira totalmente a imponência do personagem – apesar da atuação muito boa do sempre ótimo Bill Sgarsgard. É uma questão de gosto, claro, mas ao menos para mim não funcionou.
Portanto, este “Nosferatu” de 2024 pouco conseguiu me impressionar, empolgar ou reverberar algum tipo de emoção em mim. Apesar do clichê da história do Drácula, confesso que estava empolgado e curioso para assistir tal narrativa ser contada dentro dos moldes cinematográficos de um diretor tão singular como Eggers. Porém, infelizmente, o resultado foi algo esquecível e nada memorável para mim. Em minha opinião, este é o seu filme mais fraco até agora.
Nosferatu/EUA, REINO UNIDO, HÚNGRIA – 2024
Dirigido por: Robert Eggers
Com: Bill Sgarsgard, Lily-Rose Depp, Nicholas Hoult, Willem Dafoe, Aaron Taylor-Johnson…