ELEIÇÕES 2020

357 mil pessoas deixaram de votar em Goiânia no 2ª turno; abstenção de 36%

Goiânia registrou abstenção histórica nesta eleição municipal de 2020. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral…

Eleições 2022: quem disputa, quando e como deve ser e o que impacta
Eleições 2022: quem disputa, quando e como deve ser e o que impacta (Foto: Jucimar de Sousa)

Goiânia registrou abstenção histórica nesta eleição municipal de 2020. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 971.221 eleitores aptos a votar, apenas 614.272 compareceram às urnas no último domingo (29) — 356.949 deixaram de votar. Somados aos 9,86% dos votos nulos e 4,26% brancos, o percentual do chamado não voto chega a 50,87% do total. Cientista político aponta que há tendência de voto facultativo informal.

Os números de não comparecimento são tão altos que ultrapassam obtidos pelos próprios candidatos a prefeito. O prefeito eleito Maguito Vilela (MDB), por exemplo, obteve 277.497 votos, enquanto Vanderlan Cardoso (PSD) 250.036 votos neste segundo turno. Somente a abstenção chegou a 36,75% no último domingo. Do primeiro para o segundo turno houve aumento de 6,03 pontos percentuais.

Em Anápolis, do mesmo modo, houve aumento nas abstenções, que saiu de 27,69% no primeiro turno para 32,91% no segundo. Além disso, houve 2,73% de votos brancos e 5,81%, o que somados às abstenções chega a um total de 41,45%. No município do centro goiano, 269.556 eleitores são aptos a votar.

Pandemia

Uma das explicações para esse número alto de não comparecimentos é a pandemia. As medidas de isolamento social, sobretudo para pessoas consideradas mais suscetíveis ao coronavírus, pode ter afastado das urnas grande faixas da população.

Entretanto, há ainda outros fatores. Conforme explica o cientista político Guilherme Carvalho, há em toda eleição a chamada abstenção estrutural. Ou seja, aquela registrada nas camadas economicamente mais baixas da população. Historicamente, esses eleitores têm o comparecimento baixo nas urnas.

Outra explicação seria a abstenção “nem nem”. O eleitor que votou em um terceiro candidato no primeiro turno, não se identifica com nenhum dos dois outros dois candidatos que foram ao segundo turno, portanto não comparece.

Falta de coibição

Guilherme Carvalho ainda aponta um quarto elemento para alto número de abstenção na eleição: a falta de coibição estrutural ao não comparecimento. O próprio TSE, ao fornecer ferramentas para a abstenção, como o e-título, facilitaria a abstenção.

Neste sentido, o eleitor faz cálculos racionais. “Para o eleitor vale a pena sair de casa em um domingo para correr o risco de ser contaminado para escolher entre dois candidatos que, talvez, não tenha tanto apreço assim?! O eleitor calcula que há o aplicativo que permite a justificativa mais fácil, além disso a multa para não comparecimento é irrisória”, avalia o cientista político.

Guilherme Carvalho aponta que o Brasil possui formalmente a obrigatoriedade do voto, mas não há ferramentas de Estado que coíbam o não voto. Neste sentido, acaba surgindo um voto facultativo informal. Ele alerta, entretanto, para perigos neste não comparecimento.

“É preciso que as instituições criem instrumentos de justificativa que sejam plausíveis através de ferramentas tecnológicas. Deve-se aperfeiçoar de uma forma mais abrangente. Ou, do contrário, o que as instituições de Estado estão fazendo é jogar contra a democracia. Quando mais se adensa o coro do não comparecimento, menor é o consenso na sociedade. O que é muito perigoso para a democracia. Quer dizer que estamos elegendo representantes sem o consenso popular, isso gera uma série de desdobramentos para contestação dos resultados”, aponta.