6 a cada 10 traficantes deixariam o crime se pudessem, diz pesquisa
Oportunidade de renda é o incentivo mais citado para a mudança
Uma pesquisa inédita do Data Favela, que ouviu 3.954 pessoas envolvidas com o tráfico em favelas de 23 estados do país, revelou que 6 a cada 10 traficantes deixariam o crime se tivessem uma oportunidade real de trabalho ou renda lícita. Entre os entrevistados, 49% afirmaram ter entrado no crime por necessidade, enquanto outras motivações — como violência dentro de casa (13%), falta de moradia e trabalho (11%) ou busca por admiração e status (9%) — aparecem bem atrás.
O que fariam para abandonar o crime
Ao serem questionados sobre o que os motivaria a largar a atividade criminosa, os entrevistados apontaram principalmente alternativas de renda legal. Os principais motivos citados foram:
- Abrir o próprio negócio (22%)
- Conseguir um emprego com carteira assinada (20%)
- Ter um emprego com flexibilidade (17%)
- Constituir família (15%)
- Voltar a estudar (8%)
- Obter segurança financeira (5%)
Apesar da ideia difundida de que o tráfico proporciona altos ganhos, a pesquisa mostra o contrário: 63% recebem até dois salários mínimos e somente 2% ganham mais de R$ 15 mil por mês. Para complementar a renda, 1 em cada 3 traficantes exerce alguma atividade lícita, como bicos (42%), pequenos empreendimentos (24%) ou emprego formal (16%).
- Aparecida: Traficante é morto em confronto em menos de 20 dias após deixar prisão
Desejos e sonhos
O estudo também perguntou sobre os sonhos de consumo dessa população. A maioria deseja o básico que grande parte dos brasileiros também busca:
- Ter uma casa (28%)
- Comprar uma casa para a família (25%)
- Ter um carro de luxo (13%)
- Ter uma moto de luxo (8%)
- Viajar (7%)
- Ter um celular de luxo (3%)
- Ter comida à vontade (3%)
Motivos que os levaram ao tráfico
Entre as justificativas para a entrada no crime, os números mostram um cenário de vulnerabilidade extrema:
- 49% — falta de dinheiro/necessidade
- 13% — violência, alcoolismo ou drogas na família
- 11% — situação de rua ou desemprego
- 9% — busca por respeito e admiração
- 8% — roupas de marca e celulares
- 1% — emoção ou curiosidade
Além disso, 54% dos entrevistados já foram presos ao menos uma vez, e 57% têm familiares que já estiveram no sistema prisional, indicando um ciclo de criminalidade e vulnerabilidade social.
- Traficante morto pela PM em Aparecida já havia sido preso 11 vezes
Retrato de quem está na linha de frente
O perfil revelado pelo estudo mostra que o tráfico recruta majoritariamente:
- Homens (79%)
- Jovens — metade tem entre 13 e 26 anos
- Pessoas negras (74%)
- Pessoas com baixa escolaridade — 42% não concluíram o ensino fundamental
Ou seja, trata-se do mesmo grupo que mais morre por homicídios no país e também o mais presente nas prisões brasileiras.
Para os pesquisadores, os dados reforçam a importância de políticas públicas de empregabilidade, educação e reinserção social, já que 44% dos entrevistados afirmam que teriam estudado mais se pudessem voltar atrás.