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6 em cada 10 médicas já foram vítimas de assédio no trabalho, diz pesquisa

Levantamento ouviu 1.443 profissionais de todo o país; 70% delas também sofreram preconceito

6 em cada 10 médicas já foram vítimas de assédio no trabalho Levantamento ouviu 1.443 profissionais de todo o país; 70% sofreram preconceito
Foto: FreePik

Resultados de uma pesquisa inédita aponta que seis em cada dez médicas brasileiras (62,6%) já foram vítimas de assédio sexual e/ou moral em seu ambiente de trabalho. Uma taxa ainda maior (74%) testemunhou ou soube de casos envolvendo colegas.

Realizada pela AMB (Associação Médica Brasileira) e APM (Associação Paulista de Medicina), o levantamento online ouviu 1.443 profissionais de todo o país sobre situações de violência contra as médicas. As entrevistas ocorrem entre os dias 25 de outubro e 16 de novembro. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

A maior parte (95%) das entrevistadas tem título de especialista, 69% são casadas ou estão em união estável e 63% têm filhos.

De acordo com o levantamento, 70% das médicas já sofreram preconceito, quase um terço (31,7%) durante o curso de medicina, seguido do período de residência médica (39,8%) e da pós-residência (45,7%).

Metade das profissionais (51%) também relata ter sido vítima de agressões verbais e físicas. O percentual das que já testemunharam episódios de violência contra outras colegas chega a 72,3%.

A pesquisa mostra que 55,4% das médicas não denunciaram o assédio e outros abusos à chefia ou à diretoria. Entre as que o fizeram, uma minoria (11%) relata algum resultado, como apuração da denúncia ou outras providências.

Só 10% das profissionais que sofreram algum tipo de violência prestaram queixas a órgãos policiais ou judiciais. E dessas, apenas 5% afirmam que os casos foram apurados e os responsáveis, punidos.

Os resultados servirão para nortear ações de combate às situações de violência e de desrespeito contra as profissionais, segundo a médica Maria Rita de Souza Mesquita, secretária da AMB.

A entidade já criou um canal de denúncias em que as médicas podem registrar as queixas e receber orientação e respaldo jurídico.

Também está sendo montada uma comissão nacional de médicas que irá atuar sobre questões de segurança, de igualdade de gênero e de melhores condições de trabalho.

As entrevistadas também foram questionadas sobre comportamentos inadequados em trotes e competições esportivas: 67,2% tinham conhecimento dessas situações.

Ataques pela internet foram outro tema das entrevistas. Quase um quarto das entrevistadas dizem que já foram vítimas deles ou conhece médicas que sofreram cyberbullying.

A pesquisa levantou ainda o que as médicas pensam sobre questões de igualdade de gênero na carreira. Quase 80% delas consideram que não há equidade.

Ao mesmo tempo, 82,5% dizem que a remuneração das médicas é igual à dos médicos em sua unidade de trabalho e 49% já foram indicadas a cargos de chefia.

Das que já foram indicadas a um cargo de chefia, a maioria (89%) diz que não foram impostas condições restritivas à vida pessoal para assumi-lo.

Só uma minoria (12,4%) diz, por exemplo, que há creche para os filhos em seus locais de trabalho. “Eu já tive que levar minha filha no carrinho para o posto de saúde que eu trabalhava por não ter com quem deixá-la”, conta uma das entrevistas.

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*Com informações da Folha de São Paulo