Alimentos têm 3ª queda seguida, algo inédito desde 2023; entenda por quê
Economistas veem alívio temporário
Num movimento atípico, os preços dos alimentos seguem em queda no país. Em agosto, o índice oficial de inflação mostrou que os alimentos recuaram pelo terceiro mês seguido. Algo que não acontecia desde 2023, quando os preços caíram entre junho e setembro após uma super safra e o alívio do câmbio.
Os alimentos já acumulam queda de preço próxima de 1%, com recuo de 0,91% nos últimos três meses, de junho a agosto, calculou o IBGE nesta terça-feira. Os números ilustram esse comportamento atípico de interrupção da alta de preços mensal.
Economistas explicam que não é comum longas sequências de queda já que, por tendência, os custos de produção aumentam e a oferta dos alimentos é extremamente volátil por conta dos fatores climáticos e sazonais. No momento, porém, uma conjuntura favorável explica a redução dos preços.
Alguns alimentos têm recuperado a oferta depois de meses de escassez que culminaram em altas expressivas. Além disso, os preços das commodities agrícolas caíram e a valorização do real frente ao dólar aliviam os custos.
Os alimentos tiveram um aumento de preço “fora da curva” no ano passado, e boa parte disso se deve aos fenômenos climáticos, explica Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. O país sentiu os impactos de dois eventos (El Niño e La Niña) em um único ano, lembra ele. Já em 2025, não houve incidência de nenhum dos dois fenômenos, sem prejuízos às lavouras.
— É uma combinação entre dois fatores: tivemos uma alta muito forte na virada de 2024 para 2025 que agora se reverte. E uma safra muito boa este ano. A segunda razão amplifica a primeira — resume Leal. — A inflação de alimentos este ano deve ficar em 5%, mais baixo que a média histórica desse século, que é de 7,5%.
Depois da maior alta em uma década, preço do café já mostra alívio
O café, por exemplo, registrou a segunda queda mensal seguida depois de um ano e cinco meses de alta. Em 12 meses, o café ainda acumula aumento de 60%, mas está abaixo do pico de 82% registrado em maio, quando atingiu o maior aumento da década para essa comparação, considerando a série de 2012 até então.
Agora, o café acumula a menor alta em 12 meses desde janeiro, quando estava em 50,35%. Segundo Fernando Gonçalves, analista do IBGE, a oferta melhorou nos últimos meses e esse reflexo já é observado nos preços praticados ao consumidor.
— A parte da colheita do café já se encaminha para o final e, como a colheita tem sido de uma boa monta, isso acaba refletindo nos preços ao consumidor final — explicou Gonçalves a jornalistas. —Vamos aguardar para ver os próximos meses se segue na trajetória de queda depois de todo o movimento de alta de 2024.
Frutas e legumes têm queda, e ‘tarifaço’ pode ser um dos motivos de alívio
Gonçalves, do IBGE, explica que, na ausência de fenômenos climáticos, esta época do ano concentra uma oferta maior de determinados alimentos. Por isso, há tendência de queda no preço de determinados itens, incluindo frutas, tubérculos, legumes, hortaliças e verduras.
Frutas e legumes têm queda, e ‘tarifaço’ pode ser um dos motivos de alívio
Gonçalves, do IBGE, explica que, na ausência de fenômenos climáticos, esta época do ano concentra uma oferta maior de determinados alimentos. Por isso, há tendência de queda no preço de determinados itens, incluindo frutas, tubérculos, legumes, hortaliças e verduras.
É o caso do tomate, que registrou queda de 13,39%; da cebola, com recuo de -8,69%; da batata-inglesa, com -8,59% em agosto. O mamão, por exemplo, registrou queda de 10,90% em agosto em razão de uma oferta maior no período, explicou o analista.
Mas há uma série de componentes que impactam a formação dos preços, e o analista do IBGE não descarta algum impacto positivo vindo também do “tarifaço”, anunciado em julho pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e aplicado a partir de agosto.
Ele avalia que, no próprio preço do café praticado em julho, pode já ter estado embutido alguma expectativa de redução do preço após o anúncio das tarifas. A manga, que já tinha caído 11% em julho e acentuou a queda para 18,40% em agosto, também pode ter sofrido influência das tarifas e não só do clima mais favorável à produção.
O que vem por aí
Economistas ainda esperam deflação para o índice de preços ao consumidor em setembro, com queda inclusive dos alimentos pelo quarto mês seguido. Mas essa tendência tem prazo para acabar. Os preços devem voltar a subir em outubro, seguindo a tendência histórica de aumento nos últimos meses do ano pela maior demanda das famílias.
Leal, da G5 Partners, projeta que o preço do café ainda caia cerca de 1% em setembro. Mas, a partir de outubro, acredita que pode subir algo em torno de 0,5% no mês.
*Via O Globo