ELEIÇÕES

Amoêdo compara plano de Bolsonaro para STF à Venezuela

Posicionamento diz respeito a proposta dos aliados do presidente em aumentar o número de ministros do STF

Após operação contra tentativa de golpe, Amoêdo diz que voto em Lula em 2022 foi necessário
Após operação contra tentativa de golpe, Amoêdo diz que voto em Lula em 2022 foi necessário (Foto: Reprodução - Redes sociais)

O ex-presidente do Partido Novo e presidenciável em 2018, João Amoêdo, usou o Twitter para criticar o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Em mensagem publicada neste domingo, um dos fundadores da sigla liberal comparou a proposta dos apoiadores do governo de ampliar o número de integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) com a realidade política da Venezuela, país que vive um regime implementado por Hugo Chávez e mantido pelo seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro. A crítica não foi bem recebida pelos colegas de partido. O deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) reagiu à mensagem e ironizou o posicionamento: “Vai votar no PT?”.

“A proposta, de aliados do governo, de aumentar o número de ministros do STF é um risco grave para a independência dos Poderes. Bolsonaro, se reeleito, indicaria a maioria da Corte. Este foi um dos passos de Hugo Chávez para transformar a Venezuela em uma autocracia”, escreveu Amoêdo.

Em resposta, van Hattem questionou se Amoêdo votará no ex-presidente Lula (PT), adversário de Bolsonaro no segundo turno, que ocorre em 30 de outubro.

“Você não fez uma menção de apoio ao Felipe D’Ávila do nosso Partido Novo, só o criticou”, iniciou o parlamentar. D’Ávila teve 0,47% dos votos válidos no primeiro turno e foi o sexto colocado na disputa ao Palácio do Planalto.

“Critica muito Bolsonaro mas faz um mês que não fala do Lula. Além de ajudar o ex-presidiário na campanha, vai votar no PT? Você adora cobrar posição dos outros: e a sua agora?”, indagou van Hattem.

O post de Amoêdo foi interpretado pela oposição do atual governo como um possível aceno de apoio a Lula. O deputado federal André Janones (Avante-MG) convidou o ex-presidente do Novo a fazer o “L”, em referência ao gesto utilizado pelos apoiadores do petista.

A troca de farpas entre os filiados do Novo reflete o momento de crise interna na sigla. No primeiro turno, o Novo elegeu apenas três deputados federais na Câmara, ante os oito representantes em 2018. O encolhimento fez com que o partido não atingisse a cláusula de barreira, ou seja, ter ao menos 2% dos votos em todo o Brasil. Isto significa que, nas próximas eleições, não entrará no rateio do fundo partidário, assim como não terá tempo de rádio e televisão.

O resultado nas urnas fez com que o vereador paulistano Fernando Holiday deixasse a sigla. Na última quinta-feira, o político que não conseguiu se eleger deputado federal anunciou a filiação ao Republicanos. Em seu perfil no Twitter, Holiday comemorou a chegada a um partido “alinhado com os ideais de direita que sempre defendemos”. Um dia antes, ele havia publicado críticas a Amoêdo que, conforme o post, “destruiu as bases da sigla”.

Bolsonaro e aumento de ministros

Em entrevista a um podcast neste domingo, Bolsonaro disse que pode descartar a proposta de alterar a composição do STF em um eventual segundo mandato, caso os atuais integrantes da Corte “baixem a temperatura”.

– Se eu for reeleito, e o Supremo baixar um pouco a temperatura, já temos duas pessoas garantidas lá [os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça]. Tem mais gente que é simpática à gente, mas já temos duas pessoas garantidas lá, que são pessoas que não dão voto com sangue nos olhos. Tem mais duas vagas para o ano que vem, talvez se descarte essa sugestão. Se não for possível descartar, você vê como é que fica – afirmou Bolsonaro.

Durante seu segundo mandato, em 2003, Hugo Chávez aumentou de 20 para 32 o número de ministros na Assembleia Nacional da Venezuela como forma de aumentar sua influência no Judiciário. O modelo vigorou até abril deste ano, quando a base aliada de Maduro reduziu o número de magistrados para 20 novamente.