Área plantada ou destinada à colheita reduz em 40% na última década, em Aparecida
Especialista afirma que agricultura do município seria mais útil se fosse destinada ao cultivo de mais gêneros alimentícios
Área plantada ou destinada à colheita de produtos agrícolas em Aparecida cai quase pela metade nos últimos dez anos. De acordo com última pesquisa de Produção Agrícola Municipal divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 20 de setembro, a área plantada ou destinada a colheita em Aparecida de Goiânia diminuiu de 210 hectares, em 2010 para 128 hectares, em 2020.
No entanto, a mesma pesquisa aponta que apesar da diminuição da área destinada à colheita no município, o valor da produção total da cidade mais do que dobrou. Em 2010 a produção era avaliada em R$ 380 mil. Dez anos depois, em 2020 estava avaliada em R$ 751 mil.
A mesma pesquisa aponta que a maior parte de produção agrícola do município em 2020 foi destinada ao plantio de cana-de-açúcar (550 toneladas) e milho (420 toneladas). Em seguida, a produção de mandioca (225 toneladas), banana (160 toneladas), laranja (100 toneladas) e manga (82 toneladas).
Dez anos antes, o panorama da produção agrícola em Aparecida registrava maior produção de gêneros alimentícios e menor produção de cana-de-açúcar. O produto mais produzido em 2010 foi o milho (540 toneladas).
Porém, em 2010 a produção de mandioca (280 toneladas) superava as produções de cana-de-açúcar (200 toneladas). Aparecida continuava com a colheita de laranja (100 toneladas) e banana (70 toneladas), mas produzia também limão (75 toneladas), Arroz (60 toneladas) e café (4 toneladas).
Produção agrícola de Aparecida seria mais útil so fosse diversificada, afirma especialista
Para a professora doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento e diretora da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG), Karla Emmanuela Ribeiro, seria mais útil para a população de Aparecida se essa área fosse ocupada pela produção de uma diversidade maior de alimentos frescos e saudáveis para atender as demandas das pessoas.
“Isso evitaria que os alimentos percorressem grandes distâncias para chegar à mesa. Diminuiria custos e ganharíamos em qualidade. Mas, infelizmente, não temos um planejamento para isso e a propriedade da terra confere ao seu dono o poder absoluto de decidir o que e como produzir”, diz.
Além disso a especialista afirma que o panorama da produção agrícola de Aparecida de Goiânia, com aumento do valor da produção e diminuição da área cultivada, na última década deve ser relativizado em termos absolutos, pois há uma defasagem de 10 anos, com impacto de custos, preços de produção e venda e inflação.
Karla também destaca o avanço da urbanização e crescimento populacional do município. “É preciso destacar que o município de Aparecida de Goiânia, faz parte da Região Metropolitana de Goiânia e é o segundo município mais populoso do estado quase 100% da sua população é urbana. Logo, analisar a dinâmica agrícola em municípios como este não é a mesma coisa que municípios com perfis rural”, pontua.
Crescimento populacional de Aparecida
O último Censo realizado pelo IBGE, em 2010 registrava uma população de 455.657 pessoas no município. A estimativa populacional para 2020 estava em 590.146 mil habitantes. Um crescimento de 22% em dez anos.
A última estimativa do instituto aponta que a população de Aparecida cresceu 2% em apenas um ano, estimando que o número de moradores do município em 2021 ultrapassa 600 mil pessoas. Aparecida é o segundo município com maior população do estado, ficando atrás apenas da capital, Goiânia.
Commodities
Apesar de forte característica urbana, Karla diz que deve-se considerar que, no Centro-Oeste a produção de commodities é vantajosa, explicado pelas políticas implementadas para o setor. “Torna-se mais vantajoso para o produtor privilegiar este tipo de cultura a outras destinadas ao abastecimento alimentar nacional. Daí a importância das políticas destinadas para a agricultura familiar e reforma agrária, que foram sucateadas no governo Temer e no governo Bolsonaro”, explica
De acordo com informações da Agência Brasil, as commodities se caracterizam pela produção em larga escala, capacidade de estocagem, baixa industrialização e alto nível de comercialização. Além disso, podem ser definidas como bens primários com cotação internacional, como petróleo, soja, minério de ferro e café.
A doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento destaca que ausência de políticas públicas adequadas para garantir estoque de alimentos internos e de fortalecimento da agricultura familiar faz com que a população seja mais afetada pela oscilação dos preços. “Somos mais afetados pelo aumento do valor dos alimentos na cesta básica ficamos mais vulneráveis ao desabastecimento de produtos em alguns lugares e, consequentemente, temos o retorno da fome”, explica.
Crise sanitária é agravada por falta de políticas públicas para agricultura familiar
Para Karla, a dramática situação das pessoas que estão em situação de insegurança alimentar e fome devido a crise sanitária e econômica da pandemia também é resultado da redução generalizada das políticas de apoio à produção a agricultura familiar, que teria um papel central na produção de alimentos e no desenvolvimento rural.
“O que estamos vivendo é o cenário da incompetência generalizada em seguir com políticas de desenvolvimento social aliada ao desenvolvimento econômico e a proteção e conservação ambiental”, lamenta.
Perfil da agricultura em Aparecida de Goiânia
Em relação à prevalência do cultivo da cana-de-açúcar em Aparecida no último ano, Karla afirma que é importante considerar o crescimento das commodities no Brasil e sua procura no mundo. “A política econômica e agrícola brasileira tem ofertado recursos para este tipo de produção. Há também uma crescente demanda dos mercados internacionais por estas culturas”, explica.
A especialista ainda diz que, do ponto de vista econômico, este setor segue privilegiado como estratégico no equilíbrio da balança comercial. No entanto, esclarece que no caso de Aparecida de Goiânia, as características do cultivo de cana-de-açúcar apontam que sua produção no município não está ligado à lógica da produção de açúcar e álcool como commoditie.
“Estamos falando de 550 toneladas de cana, que representa apenas 10 hectares plantados no município [2020]. Possivelmente, trata-se de alguma produção relacionada com alimentação animal, pequenas indústrias de derivados da cana, ou ainda, ao fornecimento do produto para caldo de cana. Pelo tamanho da área cultivada, não está inserida no mercado como commoditie”, afirma.
No caso da mandioca, a especialista afirma que seu cultivo é destinado a uma área considerada pequena para ser uma commoditie. “Além disso, se trata de um alimento de grande consumo pela população. Já no caso do milho, é diferente e pode ser considerado uma commoditie no município, pois as 420 toneladas de sua produção ocupam 70 hectares [2020], que corresponde a 55% de toda a área cultivada em Aparecida”, explicou.