‘As ideias dele não morrem’, diz Lula no velório de Mujica
A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Montevidéu, nesta quinta-feira, marcou as últimas horas…

A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Montevidéu, nesta quinta-feira, marcou as últimas horas do velório do ex-presidente José “Pepe” Mujica, um parceiro político, amigo e, em palavras do chefe de Estado brasileiro, “uma figura carinhosa, que aprendi a respeitar, a admirar, e a seguir cada passo que o Pepe dava depois que ele assumiu a Presidência [em 2010]”.
Visivelmente emocionado, Lula contou que assim que soube do falecimento de Mujica, quando ainda estava na China, telefonou para sua viúva, a senadora e ex-vice presidente Lucía Topolanksy, para expressar suas condolências, e dizer “o quanto admirava o Pepe”.
Nesta quinta, Lula esteve mais de uma hora sentado ao lado de Lucía no velório realizado no Palácio Legislativo de Montevidéu, junto à primeira-dama, Janja da Silva. Antes de partir para Brasília, o presidente teve uma conversa com a viúva de Mujica numa sala do Parlamento uruguaio.
— Eu conheci na minha vida muita gente, muita gente que eu gosto, muita gente que eu respeito, mas o Pepe era aquela figura especial — declarou Lula, com lágrimas nos olhos.
A amizade entre ambos era profunda, e foi expressada pelo presidente brasileiro com diversos gestos nos últimos tempos. Os dois primeiros países que Lula visitou em seu terceiro mandato foram a Argentina e o Uruguai, e em Montevidéu sempre havia tempo para ver Mujica. Em 1º de março, que presenciou a posse do novo presidente do país, Yamandú Orsi, considerado um herdeiro político de Mujica, o presidente brasileiro foi até a casa do líder da esquerda uruguaia e no jardim de sua chácara o condecorou com a maior honraria do Brasil, o grande colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
— Estou vindo de uma viagem a Pequim, onde fiquei sabendo da morte do companheiro … não queria que o Pepe fosse cremado ou enterrado sem que eu pudesse me despedir. Foram 25 horas de voo até aqui para prestar homenagem a um político que eu respeito, mas não apenas como político — afirmou Lula. — Pepe Mujica é muito mais do que isso, é um ser humano especial. O que é gratificante para nós é que uma pessoa como o Pepe Mujica não morre. Seu corpo se foi, sua carne, mas as ideias que o Pepe plantou todos esses anos não morrem.
Além de Lula, o único chefe de Estado que participou do velório de Mujica foi o chileno Gabriel Boric, também recém-chegado da China. O presidente do Chile esperou o brasileiro chegar para ir embora. Durante todo o tempo em que esteve no Palácio Legislativo uruguaio, Boric conversou com Lucia e com o presidente Orsi.
Quando Lula chegou com sua comitiva, os dois chefes de Estado trocaram algumas ideias, segundo fontes do governo brasileiro, “sobre a recente visita de ambos à China”. A avaliação de ambos governos, frisou a fonte, “é de que as duas visitas foram altamente positivas”. O que os dois presidentes não imaginaram foi que viriam de Pequim para Montevidéu.
A morte de Mujica era esperada no Uruguai e fora do país, mas quando a notícia chegou a membros da delegação brasileira que estavam em Pequim, por volta das 3 da madrugada do horário local, o clima se entristeceu, confirmaram fontes. Lula ficou sabendo quando acordou, e imediatamente começou a reorganizar sua agenda.
Na escala de três horas realizada em Moscou, no trajeto de volta ao Brasil, foram feitos telefonemas importantes. Lula conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, a pedido do governo ucraniano, para que o chefe de Estado da Rússia participasse de um encontro entre ambos países na Turquia, realizado nesta quinta-feira. O presidente brasileiro atendeu ao pedido dos ucranianos. Putin não viajou, mas enviou uma delegação. O segundo telefonema foi ao presidente uruguaio, para avisar que estaria presente no velório de Mujica.
— Saio daqui com muita tristeza, porque último mês tivemos duas perdas irreparáveis. O papa Francisco, que era um ser humano muito especial, e agora o Pepe Mujica o acompanha. Espero que os dois juntos, onde eles estiverem no céu, não deixem de olhar para nós e nos abençoem, para que a humanidade seja melhor, mais fraterna, mais generosa, e que a política possa ser mais digna, mais respeitosa e solidária — concluiu Lula. E partiu.