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Black Friday da Covid tem vendas abaixo do previsto e lojas vazias

A Black Friday da pandemia foi sem filas nas portas das lojas e com muita…

A Black Friday da pandemia foi sem filas nas portas das lojas e com muita pesquisa de preço online. A antecipação das promoções pela maioria das grandes redes e a inclusão de mais consumidores no comércio digital também podem ter tido efeito sobre o movimento nas lojas físicas.

Até as 18 horas, 5,9 milhões de pedidos haviam sido fechados no comércio digital, segundo a Neotrust/Compre&Confie. O volume é inferior aos 10 milhões projetados pela consultoria. O faturamento esperado era de R$ 6,6 bilhões, mas ficou em R$ 3,9 bilhões.

André Dias, fundador da Neotrust, atribui o resultado abaixo do esperado à diluição das compras nos dias anteriores à data principal. De segunda quarta, o comércio digital faturou R$ 1,8 bilhões em 4,1 milhões de pedidos. O resultado representa um aumento de 109% ante o mesmo período do ano passado.

“As ações de antecipação de compras normalmente não davam certo, as pessoas deixaram para o dia final, mas nesta última semana houve uma aceleração nas compras”, afirma.

A Ebit|Nielsen também verificou movimento menor de compras online na madrugada de quinta para sexta, na comparação com anos anteriores, o que pode indicar os clientes fizeram suas escolhas antecipadamente.

Para Júlia Ávila, líder da consultoria, o cenário está ligado a novos comportamentos dos consumidores, que vêm acompanhando os preços. “As pessoas ficaram em casa trabalhando e não precisaram passar a noite em claro para acompanhar alguma oferta”, diz.

No varejo físico, o movimento aumentou na parte da tarde, mas não houve aglomeração ou fila.

Weviley Martins, gerente do Magazine Luiza da Marginal Tietê, na zona norte da capital, o baixo movimento era consequência da estratégia da rede, que veio apresentando promoções durante do o mês. “Fizemos a maior Black Friday de todos os tempos, chegamos a dar até 80% de desconto. Temos milhões de produtos em estoque e por isso conseguimos vender mais barato”, disse.

A loja restringiu o acesso a 170 pessoas por vez, número consideravelmente menor do que os 1.256 que comportava no período pré-pandemia -e nem a redução drástica resultou em fila na porta.

Mesmo quem foi até o comércio físico seguiu acessando o ecommerce para comparar preços. Antes de fechar a compra de um notebook, a dona de casa Maria Teresa Romualdo e o marido, o vendedor Mauro César Furlan, reforçaram as pesquisas para ter a certeza de fazer a melhor compra.

Estavam frente a frente aos produtos escolhidos, mas passaram um tempo no celular, conferindo os preços. Por fim, levaram o que a loja tinha disponível. “Viemos porque ele gosta de pegar na mão antes de comprar”, diz Maria Teresa.

Para a aposentada Florisa Pierina D’Agostini, a Black Friday foi uma oportunidade de sair de casa em meio ao confinamento imposto pela pandemia. “É bom pra passear um pouco, né?”. Voltou para casa com panelas novas.

Em busca de um sofá, a farmacêutica Cibele Venâncio diz que o produto que queria levar para casa estava mais barato no site da do Magazine Luiza. Ela conseguiu testar o produto, objetivo que a levou à loja, e relatou ter se sentido mais confortável para entrar no comércio quando viu que não havia aglomeração. “Se tivesse mais cheia, eu não teria entrado”, diz.

A rede Magazine Luiza diz que não diferencia as ofertas disponíveis nas lojas físicas e no ecommerce. “Nossos produtos com preço especial de Black Friday estão sinalizados com selo da promoção, nas lojas e no superaplicativo Magalu”, afirmou, em nota.

Nas Casas Bahia da Praça Ramos, região central de São Paulo, havia pouco espaço de locomoção entre caixas e clientes -mas nada que se comparasse a imagens de anos anteriores de pessoas aglomeradas brigando por produtos.

Em 2020, a queixa mais comum dos consumidores, segundo o site Reclame Aqui, é a mesma registrada em anos anteriores: a maquiagem de promoções. Isso acontece quando as lojas elevam os preços de produtos alguns dias antes, de modo que o desconto aplicado deixa o valor igual ao anterior à elevação.

O que mudou, diz Felipe Paniago, diretor de marketing do Reclame Aqui, é o tipo de produto que vem sendo alvo de reclamações. Até o ano passado, equipamentos eletrônicos, como celulares e notebooks, eram alvo da maioria das queixas.

Já em 2020, entre os líderes de reclamações estão tênis, peças de vestuário, itens de decoração e eletroportáteis.

Segundo Paniago, a faixa de descontos está parecida com a de anos anteriores, entre 15% e 20%. O desconto máximo dificilmente passa de 30%.
Até o meio-dia desta sexta, o Reclame Aqui registrou 6.320 reclamações, um aumento de 33% na comparação com o ano passado. Entre 12h e 18h, foram 7.980 queixas, 10,7% a mais do que em 2019.

No Procon-SP, o último balanço foi o das 13 h, quando 338 queixas tinham sido registradas, 62% mais do que em 2019.

As empresas com mais reclamações são a B2W (dona de Americanas, Submarino, Shoptime e Soubarato), Via Varejo (Casas Bahia, Ponto Frio e Extra.com), Kabum, Mercado Livre, Magazine Luiza e Pão de Açúcar.

Em nota, a B2W afirma que fortaleceu sua operação para a Black Friday e que está atuando para solucionar rapidamente todas as questões. A empresa diz que o percentual de reclamações é baixo em relação ao total de pedidos recebidos.

O Mercado Livre diz em nota que está analisando as queixas dos consumidores. A Via Varejo afirma que a maioria das reclamações registradas pelo Procon são “casos pontuais” e estão sendo solucionadas.

Em nota, a Magazine Luiza diz que tem respondido às reclamações dos clientes e afirma que o número de queixas registradas no Procon-SP é inferior a 0,001% do total de pedidos realizados nesta Black Friday.

O Pão de Açúcar afirma que todas as reclamações serão respondidas e que o volume registrado indica “questões pontuais”. Procurada, a Kabum não respondeu.