ECONOMIA

Bolsa sobe 34% em 2025, maior alta desde 2016

Bom momento da Bolsa de Valores foi puxado pela queda nos juros americanos, segundo especialistas

Bolsa sobe 34% em 2025, maior alta desde 2016 (Foto: Agência Brasil)
Bolsa sobe 34% em 2025, maior alta desde 2016 (Foto: Agência Brasil)

(Folhapress) O Ibovespa e o real encerraram 2025 com os melhores desempenhos desde 2016, com a ajuda de investidores estrangeiros que buscaram diversificar seus portfólios para fora dos Estados Unidos.

Segundo dados preliminares, o principal índice da Bolsa brasileira fechou o pregão desta terça-feira (3) com alta acumulada de 33,7% em 2025, enquanto avançou 39% em 2016, num ano marcado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff —em dólares, a variação também é a maior em nove anos.

Já o real terminou o ano valorizado em relação ao dólar. A cotação da moeda americana cedeu 11,19%, a maior queda desde 2016, quando a divisa cedeu 17,8%.

“A causa principal [da alta da Bolsa brasileira] foi o Fed [o Federal Reserve, o banco central americano] ter cortado a taxa de juros americana três vezes. E, quando isso acontece, você empurra muito dinheiro de ativos de menor risco para ativos de maior risco, como crédito privado, ações e mercados emergentes”, diz Rafael Costa, fundador da Cash Wise Investimentos.

Em 2025, o Fed reduziu a taxa de juros dos EUA da banda de 4,25% a 4,5% ao ano para 3,5% a 3,75% ao ano.

O forte fluxo de recursos estrangeiros para o mercados emergentes, incluindo o Brasil, deu impulso à valorização dos ativos de diversos países.

Neste ano, até o dia 23 de dezembro, a B3 recebeu R$ 26,8 bilhões em fluxo externo, em meio ao início do ciclo de queda de juros nos Estados Unidos e à perda de valor da moeda americana no mundo.

Os receios em torno da política econômica protecionista do presidente dos EUA, Donald Trump, também estimularam os estrangeiros a aumentar o apetite ao risco representado por emergentes.

“As incertezas e ruídos em torno das tarifas incentivaram a saída de capital dos Estados Unidos e a busca por oportunidades em mercados fora do eixo americano, o que beneficiou países emergentes como o Brasil”, afirma Bruna Sene, analista de Renda Variável da Rico.

O fim do ciclo de alta da taxa básica, a Selic, e o início da discussão sobre queda dos juros a partir do início do ano que vem também contribuíram para o otimismo.

“Tanto no Brasil quanto no exterior, principalmente nos Estados Unidos, o mercado começou a precificar corte de juros futuros e isso acabou reduzindo bastante o custo de oportunidade para se investir”, afirma Tales Barros, diretor de renda variável da W1 Capital.

Para ele, o Ibovespa também se beneficiou do fato de ter empresas com preço em relação ao lucro relativamente baixo em relação à média histórica.

“As empresas do Ibovespa estavam com um desconto historicamente bem atrativo, estando baratas em relação à média histórica e aos pares globais, o que atraiu bastante investidores”, diz.

Barros avalia que o bom desempenho não é reflexo de melhoria da economia brasileira. “A inflação ainda está bastante resistente, a questão fiscal segue pesando bastante, mas, em contrapartida, o desemprego cedeu um pouco.”

Einar Rivero, CEO da consultoria Elos Ayta, avalia que 2025 foi marcado por uma escalada consistente do Ibovespa, com uma série de quebras de recorde de preços e a sequência de valorização mais intensa dos últimos anos.

Por outro lado, ele pondera que há um dado que destoa no rali histórico: a queda no volume financeiro da B3, o que na sua avaliação acende um alerta sobre a sustentação do movimento.

Levantamento da Elos Ayta mostra que o volume financeiro médio diário do mercado à vista foi de R$ 16,4 bilhões ao dia no terceiro trimestre deste ano, o menor nível desde o terceiro trimestre de 2019.

“O comportamento sugere que a alta da bolsa não tem sido acompanhada por uma ampliação da participação dos investidores, uma divergência que, em teoria, indica fragilidade na tendência”, afirma.

A expectativa é que o momento positivo para a Bolsa se mantenha em 2026, apesar da volatilidade esperada por causa das eleições.

“Isso pode ganhar força por causa de fatores domésticos, como cortes da Selic já no primeiro trimestre de 2026, que historicamente favorecem a renda variável. Olhando os últimos cinco ciclos de queda de juros no Brasil, o Ibovespa subiu em 100% dos casos nos seis meses após o primeiro corte”, diz Sene, da Rico.

O Itaú espera que o índice avance para a faixa de 165 mil a 180 mil pontos, com potencial para alcançar 189 mil pontos no cenário mais construtivo. Já a XP vê 185 mil pontos como o patamar justo, com o cenário mais pessimista projetando o índice em torno de 144 mil pontos, e o mais otimista, em 224 mil pontos.