CRÍTICAS

Bolsonaro usa alagamento de cidades na BA para atacar lockdown contra Covid

Questionado sobre famílias que perderam tudo, presidente disse que 'tivemos uma catástrofe no ano passado'

Bolsonaro usa alagamento de cidades na BA para atacar lockdown contra Covid
Bolsonaro usa palavrões para atacar antecessores e diz que não errou na pandemia; veja vídeo (Foto: Fábio Pozzebom - Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro usou neste domingo (12) as enchentes ocorridas no Sul da Bahia para atacar as restrições de deslocamento decretadas por governadores no combate à transmissão do novo coronavírus.

De acordo com a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia, houve 5 mortes e 175 feridos em decorrência das enchentes. Os alagamentos afetaram quase 70 mil pessoas e deixaram 6.472 desalojados e 3.744 desabrigados.

Questionado sobre como o governo federal ajudaria as famílias que perderam suas casas e seus negócios, o presidente aproveitou para comparar a tragédia com os efeitos econômicos causados pelas medidas restritivas.

“Também tivemos uma catástrofe no ano passado, quando muitos governadores, e o pessoal da Bahia, fecharam todo o comércio e obrigaram o povo a ficar em casa. Povo, em grande parte [trabalhadores] informais, condenados a morrer de fome”, afirmou ele, em entrevista em Porto Seguro (BA), onde desembarcou após sobrevoar a região atingida.

“O governo é sensível a esse problema. A gente pede a colaboração de todos para que se supere esse problema e também não destruamos a economia em nome de seja lá o que for. Apesar de respeitarmos e entendermos a gravidade que esse vírus tenha proporcionado ao Brasil”, afirmou o presidente.

Coube ao ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) detalhar as ações de apoio aos municípios. O governo federal já liberou R$ 5,8 milhões a seis cidades atingidas e aguarda o plano de trabalho de outras 24 para repassar o recurso emergencial.

Questionado sobre quem era o responsável pelos alagamentos, o presidente não apontou culpados.

“Esses fenômenos naturais infelizmente acontecem. Questão de responsabilidade, não sabemos bem definir a quem cabe. O governo federal tem feito seu trabalho desde o início e dando satisfação. Não é o caso de apontarmos os responsáveis por isso ou aquilo”, disse ele.

A frase de Bolsonaro contra as medidas restritivas ocorreu logo após o ministro João Roma (Cidadania) pedir que a tragédia não fosse usada como meio de disputa política. “Esse não é o momento de disputa política e ideológica”.

O próprio Roma, porém, afirmou depois que a União não foi procurada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), para atuar. O ministro tem sido apontado como um possível candidato da base bolsonarista no estado.

“Agora mesmo em Itamaraju, o senhor [Bolsonaro] ouviu da boca do prefeito a dificuldade de cooperação dos órgãos estaduais para ações humanitárias. Ações que estamos fazendo sem olhar a quem. O que cabe nesse momento não é disputa política ou ideológica”, disse o ministro.

Além do sobrevoo, Bolsonaro fez um desfile numa picape por Itamaraju, umas das cidades atingidas, e transmitiu o passeio em sua rede social. Apoiadores saldaram o presidente na entrada.

A assessoria de imprensa de Rui Costa disse que não comentaria as críticas.

O governador também sobrevoou a região ao lado do senador Jaques Wagner e do secretário estadual de Infraestrutura, Marcus Cavalcanti.

“Vamos, a partir de agora, progressivamente, com a redução da água, iniciar a recuperação das cidades e a reconstrução de muitas casas para quem perdeu suas residências. Vamos atuar para minimizar os danos causados. Amanhã [segunda], vamos fazer uma grande reunião com órgãos e secretarias estaduais para deliberar novas ações”, disse o governador em Itamaraju.

O governo federal reconheceu o estado de emergência em 17 cidades da Bahia e 32 de Minas Gerais.

As fortes chuvas que atingem principalmente a região sul da Bahia desde a noite de terça-feira (7). A tempestade foi ocasionada por ciclone subtropical que se formou no oceano Atlântico. As equipes de resgate que atuam no local citam a dificuldade de acessar regiões mais afastadas, devido à destruição de passagens e rodovias, além de alagamentos.