RETORNO

Brasileiros vítimas de tráfico humano em Mianmar retornam ao Brasil após cativeiro

Phelipe e Luckas caíram na armadilha de recrutadores que ofereciam empregos lucrativos no exterior

Phelipe Ferreira e Luckas Viana em vídeo gravado na embaixada do Brasil em Bangkok (Foto: Reprodução/ Instagram
Phelipe Ferreira e Luckas Viana em vídeo gravado na embaixada do Brasil em Bangkok (Foto: Reprodução/ Instagram

Os brasileiros Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, e Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, retornaram ao Brasil nesta quarta-feira (19) após passarem três meses como reféns de uma rede de tráfico humano em Mianmar, no Sudeste Asiático. Eles foram atraídos por falsas promessas de emprego e acabaram escravizados em uma “fábrica de golpes online”, onde eram obrigados a aplicar fraudes cibernéticas.

Phelipe e Luckas caíram na armadilha de recrutadores que ofereciam empregos lucrativos no exterior. Phelipe, que já havia trabalhado em cassinos na Tailândia e nas Filipinas, recebeu uma proposta via Telegram para atuar em um call center em Bangcoc, Tailândia, com salário de US$ 2 mil mensais mais comissões. Já Luckas, que também tinha experiência em cassinos no Sudeste Asiático, foi recrutado para trabalhar como intérprete em Mae Sot, cidade tailandesa na fronteira com Mianmar.

Ao chegarem aos destinos prometidos, ambos foram levados por motoristas para Mianmar, onde foram mantidos em um complexo conhecido como KK Park, uma área controlada por máfias especializadas em golpes cibernéticos. Lá, foram forçados a trabalhar até 16 horas por dia, aplicando golpes online, principalmente contra brasileiros e pessoas de outros países.

Vida no cativeiro

Os brasileiros relataram que eram obrigados a seguir um roteiro para aplicar golpes. Eles enganavam as vítimas, fazendo-as acreditar que estavam ajudando em uma plataforma de investimentos, mas, na realidade, eram induzidas a depositar grandes quantias. Phelipe contou que, após cada turno, chorava no quarto, angustiado por ter que enganar outras pessoas.

A rotina era marcada por ameaças e punições físicas. Aqueles que não atingiam as metas diárias eram submetidos a castigos como agachamentos em plataformas com pregos, espancamentos e choques elétricos. Phelipe relatou que presenciou outros reféns sendo torturados e temia por sua vida.

A fuga e o resgate dos brasileiros

Após três meses de cativeiro, Phelipe e Luckas planejaram uma fuga com outros 85 reféns. Eles conseguiram avisar suas famílias e ativistas da ONG “The Exodus Road”, que atua no combate ao tráfico humano. No dia 9 de fevereiro, fugiram do complexo, mas foram detidos pelo Exército Democrático Karen Budista (DKBA), um grupo rebelde ativo na região. Após negociações, foram transferidos para a Tailândia, onde aguardaram a intervenção da embaixada brasileira.

Os dois brasileiros embarcaram em Bangcoc na terça-feira (18) e desembarcaram no Aeroporto Internacional de Guarulhos nesta quarta-feira, onde foram recebidos por familiares emocionados. Eles prestaram depoimento à Polícia Federal e agora buscam reconstruir suas vidas.