ITÁLIA

Católico ultraconservador e admirador de Putin é eleito presidente da Câmara italiana

Atual vice-secretário-geral do partido Liga, de extrema-direita, Lorenzo Fontana é contra o aborto, união homossexual, imigração e já apoiou abertamente um partido neonazista grego

Lorenzo Fontana, eleito presidente da Câmara na Itália (Foto: Facebook)
Lorenzo Fontana, eleito presidente da Câmara na Itália (Foto: Facebook)

Um dia após iniciada a posse do novo Parlamento italiano, o político Lorenzo Fontana, um católico ultraconservador de 42 anos conhecido por suas posições contra o aborto, a eutanásia, a homossexualidade e a imigração e por comentários elogiosos ao presidente russo Vladimir Putin, foi eleito presidente da Câmara dos Deputados da Itália nesta sexta-feira. Fontana, atual vice-secretário-geral do partido Liga, de extrema direita, e um dos políticos mais próximos do líder da formação, Matteo Salvini, superou por ampla margem os 201 votos necessários para conquistar o cargo.

O novo líder da Câmara dos Deputados teve o apoio da coalizão de direita que venceu as eleições legislativas de 25 de setembro, formada pelo partido pós-fascista Irmãos da Itália (FdI, na sigla em italiano) de Giorgia Meloni, provável futura primeira-ministra, a Liga de Salvini e o Força Itália do conservador e ex-premier Silvio Berlusconi.

Segundo fontes do FdI, Meloni teria preferido um perfil mais moderado e menos polêmico para o cargo, mas desde o início ficou claro que a referida presidência correspondia à Liga, o segundo partido mais votado do grupo no pleito.

A nomeação de Fontana gerou protestos de alguns parlamentares do Partido Democrático, de centro-esquerda e principal força de oposição, que chamaram a escolha de “provocação” e um movimento “extremista”, exibindo um cartaz de protesto no Parlamento com a frase “Não a um presidente homofóbico e pró-Putin”.

Na quinta-feira, o Parlamento se reuniu pela primeira vez desde a vitória nas eleições legislativas, marcando um primeiro passo difícil no processo de formação de um governo, com as tensões aumentando na coalizão tripartite de direita.

Na sessão, o ultradireitista Ignazio La Russa, cofundador do FdI e braço direito de Meloni, foi eleito presidente do Senado, segundo cargo em importância na Itália, atrás apenas do presidente da República, Sergio Mattarella. Diferentemente de Fontana, a nomeação de La Russa, no entanto, não teve o apoio do Força Itália, do ex-premier Silvio Berlusconi, que pressiona por cargos no futuro Gabinete, um prenúncio de futuros problemas para Meloni.

Na ocasião, apenas dois dos 19 senadores do partido, entre eles Berlusconi, estiveram presentes na votação. Com a orientação para a abstenção do partido no Senado, o ex-premier quis dar uma queda de braço à futura primeira-ministra ao ver que ela não aceitaria nomear alguns de seus indicados a postos ministeriais importantes.

“Esperamos que estes vetos sejam superados, dando lugar a uma parceria leal e efetiva com as demais forças”, disse Berlusconi mais tarde em nota, dando “sinceros votos” a La Russa.

A eleição de La Russa e Fontana para dois dos cargos mais importantes da Itália, um regime parlamentarista, levanta uma série de questões sobre a ascensão da direita e do conservadorismo radical na Europa.

Os dois presidentes do Parlamento devem agora se reunir com o chefe de Estado no âmbito das consultas institucionais para nomear Meloni para o cargo de primeira-ministra, em um processo que deve durar em torno de uma semana.

Com Meloni à frente do governo, a Itália terá o Executivo de direita mais radical desde a Segunda Guerra Mundial.

Apoio a Putin e a partido neonazista grego

Fontana — ex-ministro para a Família (2018-2019), e licenciado em Ciência Política, História e Filosofia — defende com entusiasmo a Rússia de Putin, que definiu como “a referência para quem acredita em uma identidade modelo de sociedade” graças ao “grande despertar religioso cristão registrado no país” pelas mãos de seu presidente, que é “uma luz para nós”.

Ele também condenou as sanções contra a Rússia, embora tenha, nos últimos meses, mudado de posição após a guerra na Ucrânia. Em 2014, viajou para a Crimeia como observador internacional convidado pelo Kremlin.

— O povo da Crimeia sente que voltou para a casa mãe, a UE deveria dar um passo atrás nas sanções contra a Rússia — disse ele na ocasião.

Na política externa, Fontana também tem sido muito crítico do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, contra os “patriotas republicanos”, e já apoiou abertamente o partido neonazista grego Aurora Dourada, em 2016.

O novo presidente da Câmara também tem se manifestado repetidamente contra o aborto e uniões civis para homossexuais na Itália, afirmando que famílias com pais do mesmo sexo “não existem”. (Com AFP e El País.)