Coaches de curso para seduzir mulheres começam a ser julgados em SP; entenda
Como parte do "curso", réus organizaram festa com a presença de adolescentes

A Justiça Federal em São Paulo começou nesta segunda-feira (5) as audiências do caso envolvendo um grupo de estrangeiros e um brasileiro que organizaram um curso com a promessa de ensinar homens a seduzir mulheres. A prática foi denunciada como favorecimento à prostituição. O caso é julgado pela 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
As primeiras oitivas já foram colhidas e os depoimentos devem seguir até julho. Entre os réus estão o brasileiro Fabrício Castro, que se intitulava “mentor de homens”, e os estrangeiros Mike Pickupalpha e Mark Firestone, que já usou os nomes David Bond e Steven Mapel. Eles organizaram uma festa em uma mansão no Morumbi, na Zona Sul da capital, em fevereiro de 2023, com a presença de adolescentes, como parte do curso.
- ‘É que atrai mulher’: PM flagra homem com tornozeleira falsa no RJ
Fabrício, que assinou o contrato de locação do imóvel usado na festa, teve a prisão decretada em março deste ano por não entregar o passaporte à Polícia Federal, conforme havia sido determinado desde o fim de 2024. Ele está foragido da Justiça brasileira, mesmo com um pedido de alerta à Interpol. Segundo o juiz do caso, “a permanência do acusado fora do território nacional, sem a devida autorização, representa descaso do réu com o sistema de Justiça e concretiza o fundado receio de fuga”. Apesar disso, Fabrício continua ativo nas redes sociais e, nesta segunda-feira, publicou imagens de pratos com frutos-do-mar.
Os advogados de Mark Firestone afirmaram que as acusações contra ele “não se sustentam” e que os depoimentos já prestados mostram “uma interpretação equivocada dos fatos”. “O senhor Firestone segue confiante de que a continuidade do processo demonstrará sua inocência”, disseram os defensores Mauricio Ejchel e Ana Carolina Moreira Santos.
Curso para seduzir mulheres custa até R$ 262 mil
Segundo as investigações, o curso promovido pelo grupo era vendido no site Millionaire Social Circle (Círculo Social de Milionários) e oferecia pacotes de “imersão” para estrangeiros em busca de conquistar mulheres em países como Brasil, Colômbia, Costa Rica e Filipinas. O valor do pacote mundial — com paradas em seis países — chegava a US$ 50 mil (cerca de R$ 262 mil). Só o curso no Brasil custava a partir de US$ 12 mil (R$ 63 mil).
- Polícia Federal faz operação contra suspeita de atrair mulheres para redes de prostituição em Jataí
Nos anúncios, a dupla Mike e David Bond dizia que os participantes iriam “explorar” países com mulheres “divertidas, curvilíneas e apaixonadas”. Em um dos vídeos, eles mostravam o que levavam na bagagem: pílulas do dia seguinte, camisinhas e perfumes com feromônios — substâncias que supostamente aumentariam o poder de atração.
Investigação e denúncias
Dezessete pessoas — entre vítimas e testemunhas com idades de 17 a 24 anos — foram ouvidas pelo 34º Distrito Policial de São Paulo. Duas mulheres relataram ter conhecido “alunos” do curso pela internet e, depois de um jantar em grupo, foram levadas à festa na mansão. Vídeos com a presença delas foram usados em peças publicitárias do curso, segundo relataram. Os organizadores negam que o material tenha sido usado para divulgação.
Em nota, a Polícia Federal afirmou que não realiza apreensão de passaporte fora do território nacional. Fabrício, mesmo com o documento retido, publicou fotos em lugares como Camboja, Espanha e Tailândia. Durante a pandemia, ele também recebeu R$ 5.950 em auxílio emergencial, ao mesmo tempo em que promovia os cursos.
A Justiça segue ouvindo testemunhas e réus, e a expectativa é que a fase de depoimentos seja concluída até julho.
*Com informações do G1