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COP30: só um quarto dos países participantes tem hospedagem confirmada

COP30 está prevista para começar no dia 10 de novembro, em Belém do Pará. Preço de hospedagem afugenta participantes

COP30: só um quarto dos países participantes tem hospedagem confirmada (Foto: Agência Brasil)
COP30: só um quarto dos países participantes tem hospedagem confirmada (Foto: Agência Brasil)

(O Globo) Representantes do governo federal afirmaram hoje que, a menos de três meses da COP30, delegados de 47 dos 196 países participantes com representantes da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) têm hospedagem confirmada para o evento em Belém. O grupo que garantiu participação na conferência equivale a 24% do total. A organização da cúpula climática enfrenta uma crise por conta dos preços elevados de estadia na capital do Pará.

A secretaria-executiva da Casa Civil da Presidência da República, Miriam Belchior, e o secretário-extraordinário para a COP30, Valter Correia, disseram em entrevista esperar que um número maior de delegados busque acomodação a partir de hoje, porque esperavam respostas a uma série de perguntas encaminhadas ao Brasil.

Dos países com hospedagem confirmada, 39 o fizeram por meio de uma plataforma de reservas oficial, que oferece um número limitado de quartos a preços controlados, e outros oito estão pagando as diárias mais inflacionadas de mercado. Mesmo entre os países que usaram a plataforma oficial, a maioria é de nações desenvolvidas, com orçamento mais folgado para seus diplomatas.

A entrevista de representantes do governo hoje ocorreu após uma reunião do Brasil com o bureau da UNFCCC, onde foram comunicadas respostas oficiais do país sede. O governo também enviou uma carta formal ao órgão respondendo a 48 questões.

Segundo Belchior, uma força-tarefa coordenada pela Casa Civil está tratando de ligar individualmente para todos os países para ajudá-los a fechar suas reservas com os quartos que foram disponibilizados às delegações oficiais, priorizando as nações em desenvolvimento.

— Nós faremos essas (chamadas) bilaterais com todos os países para ir fechando aquele conjunto de ofertas que já fizemos: quartos para 15 negociadores com diárias entre US$ 100 e US$ 200, para os países mais pobres, insulares, ou 10 negociadores com valores a uma faixa mais alta — afirma a secretária.

Zona de conforto

Segundo Correia, o volume de leitos não é mais um problema, e a questão a ser atacada agora é a dos preços.

— Em relação às vagas para todos os delegados, de fato, nós já temos mapeados e estamos disponibilizando a medida que a gente vai negociando, mais de 33 mil quartos, o que que representa aí mais de 53 mil leitos — afirmou o embaixador. — O que a ONU sempre nos pediu foi em torno de 24 mil quartos, que seria suficiente para tocar uma COP de forma bastante razoável. Qual é o nosso problema: trazer isso aos valores que sejam compatíveis com o poder aquisitivo dos países.

Segundo o secretário-extraordinário, de todo modo, os preços dos quartos especiais conseguidos pelo governo brasileiro estão dentro do praticado em outras COPs, e ele tenta convencer os países de que é difícil avançar muito mais.

— Eles esperam que a gente traga uma solução milagrosa que vai resolver o problema e oferecer quartos individuais a US$ 100 dólares, de preferência muito próximo ou vizinho à conferência — afirmou Correia, detalhando o que espera dos países reclamantes. — Seria sair um pouco da sua zona de conforto, vamos dizer assim, para que possam também dar uma contribuição melhor ou maior nesse aspecto de soluções.

Recorde de exclusão

Caso a solução para hospedagens dos delegados dentro da UNFCCC seja resolvido, ainda carece de solução o problema de acomodação para outros participantes da COP30: representantes da sociedade civil, da academia, do empresariado, de comunidades tradicionais e outros setores.

Sob risco de esvaziamento com a ausência desses grupos, a coalizão de ONGs Observatório do Clima alerta para o risco de a COP30 ser a conferência do clima “mais excludente da história”.

É comum que o preço de diárias de hotéis dobre ou triplique durante conferências do clima da ONU em outras cidades, mas em Belém o fator de multiplicação em questão é de dez vezes em muitos casos, o que limita a participação de muitas pessoas.

O governo diz que ainda busca soluções para intervir no mercado de maneira limitada, dentro da lei, atuando por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), mas essa frente de ação não tem prazo para surtir efeito.

— No começo de junho, a Senacon já acionou todos os hotéis pedindo informações. Essas informações estão sendo analisadas, e isso vai ter consequência para quem for caracterizado como cometendo abuso — disse Correia, mas isso tem o trâmite normal da legislação brasileira. — Isso está previsto em lei brasileira contra abuso da economia popular. Tem a liberdade de mercado, mas não pode ter abuso nessa liberdade de mercado. Isso tem que ser parametrizado, e é isso que os órgãos de controle estão fazendo.

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