rj

Corpos na praça, cachorro baleado, sobrinho sem cabeça: as histórias da megaoperação que deixou 120 mortos no Rio

“Estou bem. Continua orando”, enviou policial à esposa antes de ser morto

“Continua orando”, policial morto Corpos na praça, cachorro baleado, sem cabeça: operação que deixou 120 mortos no Rio de Janeiro
Foto: Agência Brasil

A megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, chocou moradores e familiares com imagens de violência, mortes e destruição. A ação das polícias Civil e Militar, considerada a mais letal da história do estado, deixou 120 mortos, incluindo dois policiais civis e dois militares, além de cenas que se tornaram símbolos do impacto da intervenção na vida da comunidade: corpos na praça, um cachorro baleado e o sobrinho de uma moradora encontrado sem cabeça.

O horror no primeiro contato com a Penha

A médica voluntária Maria Sampaio, formada pela UFRJ, chegou por volta das 9h na Penha para prestar atendimento a feridos. Mas o que encontrou foi devastador:

“Não tem nada para fazer aqui. Achei que iria encontrar pessoas feridas, precisando de atendimento médico, mas só há pessoas mortas, todas já em estado de decomposição”, relatou.

Corpos de mortos na operação contenção foram levados por populares à Praça da Sé, no Rio de Janeiro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Corpos foram levados por populares à Praça da Sé (Foto: Agência Brasil)

Segundo Maria, uma fileira de corpos estendidos na pista a assustou imediatamente. A médica ainda subiu a mata com moradores para tentar remover outros mortos, mas sabia que havia muito mais:

“Eu trabalho como médica há 3 anos, já vi muita coisa difícil, mas nada se compara a isso.”

Confrontos fatais e mensagens de desespero

Durante os intensos confrontos, o 3º sargento do Bope Heber Carvalho da Fonseca, de 39 anos, trocava mensagens com a esposa pouco antes de ser morto. Nos últimos instantes, ele respondeu serenamente: “Estou bem. Continua orando.”

O silêncio que se seguiu trouxe desespero à família, que ainda tenta lidar com a perda da filha pequena do casal sem o pai. Heber e o colega Cleiton Serafim Gonçalves, também do Bope, foram levados ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiram aos ferimentos. Ambos eram conhecidos pela coragem e dedicação em operações de alto risco.

O 3º sargentos da Polícia Militar Heber Carvalho da Fonseca — Foto: Reprodução

Sobrinho encontrado sem cabeça

No complexo do Alemão, a manicure Beatriz Nolasco encontrou o sobrinho Yago Ravel Rodrigues, de 19 anos, morto de forma brutal: sem cabeça, que estava pendurada em uma árvore e recolhida posteriormente por um morador. Beatriz responsabilizou a polícia pela morte do jovem, que trabalhava como mototaxista e não tinha antecedentes criminais. A Polícia Militar informou que a Ouvidoria e a Corregedoria estão à disposição para receber denúncias, garantindo anonimato.

“Fazer operação é ok, mas o que aconteceu foi uma chacina”, afirmou Beatriz.

O cachorro baleado e o terror na Vila Cruzeiro

Outra história que comoveu moradores envolve Scooby, um cachorro da raça cane corso, de 7 anos, atingido por disparos enquanto estava no terraço da casa do tutor, Hélio Fernando de Abreu da Silva, na Vila Cruzeiro. O animal passou por cirurgia e teve alta, mas seguirá sendo monitorado.

“Provavelmente, ele estava deitado na hora do disparo. Minha esposa começou a chorar: ‘Pegaram meu negão’. Não podíamos subir para socorrê-lo porque era muito tiro”, relatou Hélio.

Segundo o secretário de Proteção e Defesa dos Animais, Luiz Ramos Filho, apenas em outubro, sete animais foram atendidos em hospitais municipais por ferimentos causados por tiros durante operações policiais.

O cachorro Scooby foi baleado durante a megaoperação do Rio — Foto: Divulgação

*Com informações do Extra e Folha de São Paulo