CORONAVÍRUS

Delivery de santinho, drive-thru no comitê: veja como é a eleição na pandemia

A pandemia do novo coronavírus tem provocado mudanças importantes na forma em que cada um…

'Alckmin percebeu esse momento importante', diz Márcio França, sobre chapa com Lula Foto: Fernanda Luz / Divulgação
'Alckmin percebeu esse momento importante', diz Márcio França, sobre chapa com Lula Foto: Fernanda Luz / Divulgação

A pandemia do novo coronavírus tem provocado mudanças importantes na forma em que cada um dos candidatos a prefeito de São Paulo tem pensado suas campanhas. O GLOBO levantou como os postulantes ao cargo na maior cidade do país estão lidando com a mudança de fazer campanha eleitoral. Veja como as principais campanhas atuarão até novembro.

Celso Russomanno

A campanha decidiu não abrir mão das atividades presenciais, ainda que prometa tomar cuidado com as medidas sanitárias de distanciamento, além de usar máscaras e álcool e gel. O candidato esperou seus rivais fazerem atos públicos para sentir o termômetro de como seria o comportamento. Como todos aglomeraram, Celso Russomanno decidiu ir também para as ruas tirar fotos, abraçar as pessoas e assim tem feito na última semana. Em evento na última sexta-feira, ele admitiu que não consegue cumprir totalmente as regras de distanciamento social. “Eu aglomero, sim. Tenho que retribuir o carinho das pessoas”, disse durante uma agenda em Santo Amaro. Russomanno tem aproveitado esses atos de rua para se mostrar alinhado ao presidente Jair Bolsonaro também no seu entendimento sobre a pandemia. O candidato defende a abertura de lojas, restaurantes e escolas e faz críticas à política do prefeito Bruno Covas e do governador João Doria sobre os decretos de quarentena. Ao contrário do presidente, no entanto, o candidato não abre mão do uso de protetor facial ou máscara. Segundo aliados, a campanha também não deixará de utilizar santinhos impressos e panfletos, já que a comunicação é considerada eficiente por esses meios, sobretudo na periferia, onde ele tem mais densidade eleitoral. Haverá também o uso de cabos eleitorais com bandeiras, mas provavelmente esse serviço só deve ser utilizado nos últimos dias da eleição. Há exceções, porém. Em locais da periferia onde há pouca circulação ou risco de aglomerar um público muito grande, o candidato tem feito carreatas.

Bruno Covas

Candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB) tem procurado não cometer deslizes quanto a protocolos sanitários de controle à pandemia. Por ser prefeito, ele defende que precisa dar o exemplo na eleição. Bruno Covastem feito atividades externas mas sem cabos eleitorais e com poucos assessores e candidatos a vereador. Apesar da recomendação da Justiça Eleitoral para que as campanhas evitem a distribuição de material impresso por causa da pandemia, o recurso seguirá sendo uma estratégia importante na candidatura do prefeito. Folhetos e santinhos serão usados em boa medida, principalmente nas regiões mais pobres da cidade. A campanha avalia que esse ainda é o jeito mais eficiente para chegar a eleitores que vivem nos bairros mais pobres, onde é relevante a parcela da população desconectada do mundo digital. Covas vai distribuir material impresso a candidatos a vereador como forma de reforçar essa estratégia. A equipe do prefeito estuda usar carros de som nas comunidades carentes para fazer propaganda com distanciamento social. O orçamento mais enxuto também levou a estruturas mais comedidas. Covas não terá comitês de campanha espalhados por bairros da cidade. Por enquanto, há apenas um comitê central, no bairro da Liberdade, e a viabilidade de abrir uma subsede em cada zona da cidade (sul, norte, leste e oeste) está sob avaliação. O exército de cabos eleitorais nas ruas com bandeiras em semáforos, se houver, será somente nos últimos dias de campanha para evitar aglomerações e economizar recursos.

Márcio França

Assim como os rivais, não abriu mão de agendas na rua durante a campanha: na última semana, por exemplo, visitou uma feira livre na zona sul da capital paulista. Entretanto, sua estratégia abriu mão de alguns dos métodos mais tradicionais: Márcio França não tem um comitê central, por exemplo, e a campanha diminuiu bastante os investimentos em materiais gráficos, como santinhos. Uma das alternativas encontradas são os “adesivaços”, eventos em que apoiadores colocam adesivos do candidato nos carros. A identidade visual também tem um toque moderno: muitas gravações de França são realizadas com um celular, no estilo selfie, com o candidato se filmando enquanto mostra alguns problemas da cidade de São Paulo, como calçadas quebradas e ruas esburacadas.

Guilherme Boulos

O terceiro colocado nas pesquisas também não tem aberto mão da impressão de panfletos para a campanha, mesmo com a pandemia do novo coronavírus.

— Consideramos o panfleto uma forma de comunicação importante para chegar no eleitor  — afirma Josué Rocha, coordenador da campanha, que terá apenas 17 segundos nos blocos de 10 minutos de propaganda no horário eleitoral.

Boa parte da equipe do candidato do PSOL está trabalhando de forma remota. Apenas o núcleo responsável pela edição de vídeo tem atuado de forma presencial.  Já Rocha despacha da sede do partido, no centro de São Paulo. Um comitê ainda deve ser criado.

Guilherme Boulos continua fazendo agendas presenciais. Na abertura da campanha, no dia 27, houve aglomeração durante uma caminhada em São Mateus, na Zona Leste, e o candidato chegou a pedir ao microfone que as pessoas se afastassem uma das outras.

— Temos orientado as pessoas a usarem máscaras e fazerem a higienização — afirma Rocha.

Por causa da pandemia, agendas de rua têm sido curtas, de no máximo uma hora. Reuniões transmitidas pela internet também são comuns na rotina da campanha até agora.

Jilmar Tatto

Na campanha do PT, a pandemia também provocou mudanças. Ao contrário de anos anteriores, o partido optou por não ter um comitê central. A produtora responsável pelos programas de televisão acaba sendo usada para reuniões e entrevistas e boa parte da equipe trabalha de casa. Jilmar Tatto também tem feito reuniões virtuais de seu apartamento na Zona Sul da cidade. As agendas de rua, porém, não foram abandonadas e, em alguns casos, geram aglomeração.

Arthur do Val

A campanha pôs em prática duas medidas para se adequar à pandemia. Implementado primeiramente pelo candidato a vereador Rubinho Nunes, advogado do Movimento Brasil Livre (MBL) e coordenador de campanha de Arthur do Val, o “delivery de santinhos” tem feito sucesso entre os apoiadores do deputado estadual. Basta o apoiador entrar em contato com a coordenação de campanha do Patriota e pedir um certo número de material de campanha. Voluntários do partido então levam panfletos, adesivos e cartões de Arthur do Val e outros candidatos da sigla à casa da pessoa. Segundo Rubinho Nunes, a medida foi pensada para alcançar os apoiadores que não têm saído de casa, em razão do isolamento social.

— É até uma oportunidade para conversar com o eleitor. Já vi pessoas perderem eleição por 12 votos, então mesmo que seja para levar um santinho, eu vou — diz ele.

Sem um comitê de campanha nos moldes tradicionais, o diretório municipal do Patriota implementou também o “drive-thru de adesivo”. O apoiador pode passar com seu carro no endereço do partido e, sem contato físico e risco de transmissão do coronavírus, receber o adesivo de propaganda de Arthur do Val. Ainda que Arthur do Val tenha se tornado conhecido por meio do YouTube e cultive fãs do meio digital, Nunes diz que a campanha não abriu mão da panfletagem de rua.

— A propaganda digital é essencial, mas hoje está 60% digital e 40% impresso. O santinho tem o valor de criar o ambiente eleitoral, que só esse tipo de material consegue fazer.

Joice Hasselmann

Na campanha, a candidata tem alternado o uso de máscara com abraços a apoiadores sem o uso do acessório, indispensável para inibir a contaminação do coronavírus. Joice Hasselmann tem aproveitado as caminhadas na cidade para falar e até dançar com pessoas sem manter o distanciamento mínimo. Nas redes sociais, ela tem algumas fotos cumprimentando feirantes com apertos de mão, o que também não é recomendado por especialistas em saúde.

— Não tem nada fora do contexto. A gente tem feito atividades e encontros normalmente. Todo dia tem sido essa dinâmica. Caminhadas, adesivaço, panfletagem, mutirões — diz Júnior Bozzella, coordenador de campanha de Joice.