Dona de clínica é indiciada pela morte de servidora pública em Goiânia
A polícia aponta que a clínica não possuía medicamentos e equipamentos básicos para atendimento emergencial

A Polícia Civil de Goiás concluiu as investigações sobre a morte da servidora pública Danielle Mendes Xavier de Brito, de 44 anos, após um procedimento estético realizado em novembro de 2024, em Goiânia. A dona da clínica, Quésia Rodrigues Biangulo Lima, foi indiciada por homicídio com dolo eventual, além de crimes contra as relações de consumo e saúde pública e fraude processual qualificada.
De acordo com a delegada Débora Melo, responsável pelo caso, Danielle sofreu uma reação alérgica grave logo após a aplicação da enzima hialuronidase e evoluiu para uma parada cardiorrespiratória. A polícia aponta que a clínica não possuía medicamentos e equipamentos básicos para atendimento emergencial, o que agravou a situação. Testemunhas relataram que o socorro demorou pelo menos 25 minutos para ser acionado.
Irregularidades na clínica
Durante a investigação, a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon) identificou diversas irregularidades na clínica. A Vigilância Sanitária e a Polícia Científica encontraram medicamentos vencidos, materiais cirúrgicos sem esterilização e produtos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, imagens das câmeras de segurança foram apagadas, configurando fraude processual.
A biomédica Quésia Rodrigues foi presa preventivamente no dia 2 de dezembro e teve a liberdade negada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A defesa alega que a profissional é qualificada para realizar os procedimentos e que colaborou com as investigações. No entanto, a polícia sustenta que a clínica operava sem as condições mínimas de segurança para os pacientes.
A Anvisa esclareceu que não há registro de medicamento ou produto para saúde contendo hialuronidase para fins estéticos no Brasil, permitindo apenas o uso de produtos industrializados e regulamentados. A Polícia Civil alertou sobre a importância de verificar a procedência dos produtos e a qualificação dos profissionais em procedimentos estéticos. Além disso, a PC investiga a origem da hialuronidase aplicada na vítima, que teria sido adquirida em uma farmácia de manipulação, ou que contrariasse as normas da Anvisa.
Contexto
Danielle morreu após sofrer um choque anafilático severo causado pela aplicação de hialuronidase, uma enzima usada para dissolver preenchimentos de ácido hialurônico. O procedimento ocorreu em 30 de novembro de 2024, em uma clínica estética localizada no bairro Parque Lozandes, em Goiânia.
De acordo com a delegada Débora Melo, responsável pelo caso, testemunhas relataram que a vítima começou a passar mal logo após a aplicação do produto, apresentando dificuldades para respirar. Apesar do agravamento rápido do quadro, o chamado ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) só ocorreu cerca de 25 minutos depois. Quando a equipe de socorro chegou, Danielle já estava em parada cardiorrespiratória.
Além da demora no socorro, a investigação apontou diversas irregularidades na clínica. Laudos da Vigilância Sanitária e da Polícia Científica identificaram medicamentos vencidos, produtos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e falta de equipamentos essenciais, como desfibrilador e ventilação manual.
A defesa da empresária nega as acusações e afirma que ela possui formação em biomedicina e enfermagem, estando habilitada para realizar os procedimentos estéticos. Em nota, os advogados alegam que a clínica operava regularmente e que os medicamentos utilizados eram autorizados.
Família
A psicóloga Ana Elisa Valcacer de Brito Coelho, 51 anos, vive um luto devastador desde a morte de sua irmã. Daniele, a mais nova de três irmãs, era descrita por Ana Elisa como “a calmaria da família” e deixou dois filhos, de 18 e 19 anos. Segundo Ana Elisa, a família está destruída pela perda, incluindo o ex-marido de Daniele e seus sogros, que continuam a dar suporte aos filhos da vítima. “O que tem nos ajudado a seguir em frente é o bem-estar dos nossos filhos”, afirmou.
Negligência e falta de suporte médico
A principal acusação da família contra a profissional responsável pelo procedimento é a negligência diante da reação da vítima. “Ela deixou a minha irmã agonizar por 25 minutos sem acionar socorro adequado”, denuncia Ana Elisa. A profissional teria tentado reverter a situação sem possuir os equipamentos necessários, como desfibrilador, oxigênio e medicamentos de emergência, como epinefrina e adrenalina. Além disso, realizou uma traqueostomia na vítima, procedimento que deve ser feito exclusivamente por médicos.
Para Ana Elisa, esse é um caso claro de imprudência. “Se ela não tinha os recursos, deveria ter chamado imediatamente o Samu ou os bombeiros”, afirmou. A irmã da vítima também destaca a necessidade de maior fiscalização por parte dos órgãos competentes e aconselha os pacientes a verificarem as condições antes de qualquer procedimento.
“Além de higiene, é preciso perguntar: tem desfibrilador? Tem oxigênio? Tem epinefrina? Adrenalina? Se não tiver, não é seguro”, ressalta.
Agora, a família busca um julgamento rigoroso e exemplar para que o caso sirva de alerta e evite que outras pessoas passem pela mesma situação.
