Premiê japonês anuncia saída abrupta menos de 1 ano após assumir cargo
Impopular, Yoshihide Suga enfrenta críticas pela ineficiência no combate ao coronavírus
O premiê do Japão, Yoshihide Suga, não será mais a figura à frente do Partido Liberal Democrático (LDP), principal sigla do Legislativo japonês. Assim, na prática, o político conservador de 72 anos também abdica da chance de permanecer no cargo de primeiro-ministro da terceira maior economia do mundo.
O anúncio de que não buscará a reeleição como chefe do partido governista foi feito por Suga nesta sexta-feira (3), em um movimento abrupto, sem avisos, mas com motivações que parecem bem claras. Há menos de um ano no cargo, ele foi eleito para concluir o mandato de seu antecessor e aliado, Shinzo Abe, que renunciou por problemas de saúde. Já como primeiro-ministro, construiu um mandato impopular.
Nos últimos meses, o premiê viu os índices de aprovação desidratarem —de 60% no início do ano, caíram para menos de 30%—, em grande parte devido às falhas no combate à Covid. Mesmo as Olimpíadas de Tóquio não foram capitalizadas por Suga. Desde o fim da competição, o país vive uma alta de infecções impulsionada pela variante delta, com disparada de casos graves e sobrecarga do sistema médico.
Durante seu mandato, Suga fez um governo de continuidade, preservando a maior parte dos ministros e das políticas de Abe. Filho de uma professora e de um agricultor, ele é graduado em direito e começou a carreira política como assessor parlamentar em Yokohama. Foi eleito membro do conselho municipal e, anos mais tarde, em 1996, tornou-se deputado pela mesma cidade.
Suga teve papel decisivo no retorno de Abe ao poder, em 2012, após o fracasso de seu primeiro mandato como chefe de governo, em 2006 e 2007. O então premiê o recompensou com a nomeação ao posto estratégico de secretário-geral do governo, em que Suga assumiu o papel de coordenador de políticas entre os ministérios e as várias agências estatais, rendendo-lhe a reputação de bom estrategista.
Ainda não está claro quem deve substituí-lo na chefia do partido governista —as eleições internas terão início no dia 17 deste mês e serão concluídas no dia 29. O vencedor da corrida provavelmente será designado primeiro-ministro pelo Legislativo japonês, já que a maioria das cadeiras pertence ao LDP, e, em seguida, vai liderar a sigla em uma eleição geral que deve ser realizada até o final de novembro.
O ex-chanceler Fumio Kishida foi o único candidato declarado. Quando seu anúncio de intenção foi feito, a mídia japonesa noticiou que Suga pretendia manobrar para dissolver o Legislativo, adiantar as eleições gerais e postergar a disputa interna do partido, de modo a permanecer no poder. Nada disso foi feito.
Veja abaixo alguns nomes cotados para substituir Suga na liderança do Partido Liberal Democrático.
FUMIO KISHIDA, 64
Ex-chanceler e deputado de Hiroshima, ele era considerado o provável herdeiro de Shinzo Abe, mas ficou em segundo lugar na votação interna pela liderança do partido, em grande parte devido à sua baixa classificação em pesquisas eleitorais.
Oriundo de uma ala do LDP que se mostra mais preocupada com questões como desemprego e desempenho econômico, pediu a redução das disparidades de renda e prometeu apoio às classes mais baixas quando anunciou sua candidatura. Disse concorrer para que o LDP “ouça o povo e ofereça opções amplas para proteger a democracia japonesa”.
SANAE TAKAICHI, 60
Discípula de Shinzo Abe e ex-ministra de Assuntos Internos, já falou publicamente sobre o objetivo de ser a primeira mulher no cargo de primeira-ministra. Propõem políticas para reduzir a inflação de 2% e “evitar o vazamento de informações confidenciais para a China”.
Pertence à ala mais conservadora do partido e já se opôs à permissão para que casais mantenham sobrenomes diferentes, como defendem movimentos feministas japoneses.
TARO KONO, 58
Responsável pelo lançamento da campanha de vacinação no Japão, atuou como ministro das Relações Exteriores e da Defesa e é próximo ao atual premiê.
SHIGERU ISHIBA, 64
Ex-ministro da Defesa, costuma ter bom desempenho nas pesquisas eleitorais, mas é menos popular entre os parlamentares do partido. Crítico dos mandatos de Shinzo Abe, já chegou a derrotar o ex-premiê em algumas disputas. Tem reivindicado mais gastos com obras públicas para reduzir a desigualdade.
A uma emissora local ele disse que a retirada de Suga da corrida “muda completamente o cenário, então agora temos que pensar sobre nossos próximos passos”.
SEIKO NODA, 60
Crítica de Shinzo Abe, ela é ex-ministra de Assuntos Internos. Tentou desafiar o ex-premiê na corrida para a presidência do partido em 2015, mas ficou aquém dos 20 apoios necessários para concorrer. De acordo com um jornal local, disse a colegas de partido que pretende tentar uma nova liderança neste ano. Assim como Sanae Takaichi, tem posturas mais conservadores em relação aos direitos das mulheres.