Tesouro Nacional

Previdência: gasto por militar equivale a 17 vezes o do aposentado pelo INSS

Déficit por beneficiário no sistema dos militares é de R$ 121 mil, contra R$ 6,9 mil no regime de aposentadoria do setor privado

Demora do instituto em resolver situação pode caracterizar danos morais. Erro no nome ou no CPF pode dar até indenização no INSS
(Foto: Agência Brasil)

Apesar de o rombo nas contas do INSS ser muito ser maior, o gasto com cada militar aposentado foi equivalente a 17 vezes a despesa do governo federal com o trabalhador da iniciativa privada em 2019. O dado foi divulgado pelo Tesouro Nacional nesta segunda-feira (6).

A tendência também é seguida na aposentadoria dos servidores civis. O governo gasta dez vezes mais com cada servidor civil aposentado, na comparação com os gastos por beneficiário do INSS.

Enquanto o déficit por beneficiário do sistema de proteção dos militares ficou em R$ 121,2 mil em 2018, o do regime dos servidores foi de R$ 71,6 mil. Já o déficit por pessoa aposentada pelo INSS foi de R$ 6,9 mil.

No ano passado, o rombo do Regime Geral da Previdência Social atingiu R$ 213,3 bilhões: dos servidores civis, R$ 53,1 bilhões; e dos militares, R$ 47 bilhões. Os números fazem parte do Relatório Contábil do Tesouro Nacional de 2019.

O relatório diz que o déficit por beneficiário do INSS se manteve estável até 2013, quando cada segurado necessitava de um aporte de aproximadamente R$ 1,9 mil, ao ano, para cobrir o resultado negativo. De 2014 a 2019, o desequilíbrio se acentuou, chegando a ser necessário um aporte de R$ 6,9 mil por beneficiário, ao ano, em 2019.

Já em relação aos servidores civis, o déficit por beneficiário desse regime passou de R$ 27,6 mil em 2010 para R$ 71,6 mil, ao ano, em 2019, o maior valor ao longo dos últimos dez anos.

“Houve crescimento do déficit por beneficiário ao longo de toda a série. No último ano, apenas 38,5% das despesas com benefícios foram custeadas com as receitas das contribuições dos segurados”, diz o texto.

Trajetória de alta

No caso dos militares, o déficit por beneficiário subiu de R$ 81,6 mil para R$ 121,2 mil, ao ano, nos últimos dez anos, assumindo o seu maior valor em 2019. “Vale destacar que não há receita de contribuição previdenciária nem do militar, tampouco patronal, para o custeio desse sistema de proteção social, o que aumenta o seu déficit”, ressalta relatório.

Os dados do Tesouro demonstram o peso crescente da Previdência Social nas contas do governo. Só no caso do INSS, entre 2010 e 2019, o déficit previdenciário passou de R$ 42,4 bilhões para R$ 213,3 bilhões (um crescimento nominal de 402,9%). Nesse período, as despesas cresceram 246,6%, enquanto as receitas subiram 195,5%.

Mas a reforma da Previdência, aprovada no ano passado, melhorou as projeções de longo prazo do governo. A previsão para o chamado passivo atuarial (valor necessário para pagar todos os benefícios) para 2060 é de 7,65% do PIB. No relatório do ano passado, antes da reforma, a estimativa era de 11,64%.

“Ou seja, a reforma da previdência amenizou, mas não conteve o crescimento do déficit previdenciário projetado para os próximos anos”, diz o texto.

Salto de 24% no passivo

O documento do Tesouro também registra a difícil situação financeira da União. Os passivos do governo — como suas obrigações, empréstimos, provisões — superaram os ativos — grupo em que entram o caixa, os créditos a receber e os investimentos – em R$ 3 trilhões em 2019 (alta de 23,4% em relação a 2018).

O relatório mostra também como é difícil arrecadar grande parte da dívida. O estoque administrado de créditos tributários e de dívida ativa é R$ 4,253 trilhões. No entanto, a expectativa média de recuperação é baixa, em torno de 15%, ou seja, R$ 640 bilhões.