Economia

Risco-país brasileiro vai ao menor patamar desde 2010

O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos foi ao menor…

Bolsa fecha pelo terceiro dia em baixa, com cautela sobre EUA-Irã
Bolsa fecha pelo terceiro dia em baixa, com cautela sobre EUA-Irã

O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos foi ao menor nível em nove anos nesta segunda-feira (16). Depois de nove quedas consecutivas, o índice está em 98 pontos, menor valor desde novembro de 2010, queda de 3% na sessão.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

Em 2010, o Brasil tinha o selo de bom pagador concedido pelas agências de classificação de risco S&P, Fitch e Moody’s, outra chancela acompanhada por investidores internacionais ao decidir aplicações em países emergentes, considerados mais arriscados.

Na última quarta (11), a S&P elevou de estável para positiva a perspectiva para o rating de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil, hoje em BB- (três degraus abaixo do selo de bom pagador). No mesmo dia, o Banco Central cortou a taxa básica de juros de 5% a 4,5% ao ano, mínima histórica.

Embora preveja que a relação dívida/PIB do país deva continuar a crescer nos próximos três anos, a agência americana citou a perspectiva de melhora da posição fiscal do país, após a aprovação da reforma da Previdência e com a perspectiva de continuidade da agenda fiscal em 2020, apesar do risco de reveses continuar material.

“Essa alteração de perspectiva é positiva, mas é muito pequena. Ainda temos um longo caminho até voltar a termos grau de investimento. Vimos uma melhora em dados da economia brasileira, mas muito na margem. Ainda é muito cedo para dizer que tivemos uma mudança estrutural a economia, precisamos de mais dados concretos”, diz Cristiane Quartaroli economista Ourinvest.

O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no terceiro trimestre deste ano veio melhor que o esperado pelo mercado: um crescimento de 0,6% em relação aos três meses anteriores.

Cristiane diz que o grau de investimento, no entanto, depende das próximas reformas, especialmente a tributária. “[O cenário] depende muito de como vão ser conduzidas as reformas, que precisam de muita articulação política e o governo está mudando de partido”, afirma.

O presidente Jair Bolsonaro saiu do PSL, partido pelo qual foi eleito, em novembro para tentar criar uma nova sigla, a Aliança pelo Brasil.

O CDS começou a cair de forma mais vigorosa em junho, quando a reforma da Previdência estava em discussão na comissão especial da Câmara dos Deputados. A medida é vista como crucial para estabilizar a dívida pública, o que diminui o risco de um calote no futuro. Após o término da tramitação do projeto no Senado concluir, no final de outubro, o risco-país acelerou a queda.

O movimento desta segunda é fruto de um viés mais otimista no exterior e no Brasil. Na última sexta (13), China e Estados Unidos anunciaram que chegaram a um entendimento a respeito da fase 1 do acordo comercial para cessar a disputa econômica entre os países que já dura quase dois anos.

Os detalhes ainda não foram divulgados, mas a primeira etapa do acordo envolve o aumento da compra produtos agrícolas americanos por parte da China e redução, por parte dos Estados Unidos, das tarifas sobre importações chinesas.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a decisão do Fed, banco central americano, na última quarta (11) de manter juros estáveis por mais tempo também contribui para a melhora global.

“O Fed deixou claro que não vai reduzir juros, mas que também não irá elevá-los. Somado a primeira fase do acordo comercial, essas são duas notícias que ajudam todas as economias, não só o Brasil. O mundo inteiro olha os emergentes com mais carinho agora”, diz Gonçalves.

Para se somar ao cenário positivo, dados da economia chinesa vieram melhores que o esperado nesta segunda. Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês), as vendas do varejo no país cresceram 8% em novembro em relação ao mesmo mês de 2018, acima da expectativa do mercado. Em outubro, o crescimento foi de 7,2%. A produção industrial também acelerou e teve alta de 6,2% em novembro com relação a 2018, ante 4,% em outubro.

“Em geral, as leituras de novembro são recebidas de bom grado por investidores, mas acreditamos que ainda é cedo para definir um movimento de recuperação sustentável da economia chinesa, uma vez que, como foi o caso em setembro, já tivemos diversos meses com crescimento isolado”, diz relatório da Guide Investimentos.

O CDS da maioria dos emergentes também recuou nesta segunda e o índice CSI 300, que mede o desempenho das Bolsas chinesas de Xangai e Shenzhen, fechou em alta de 0,5% e índices americanos operam em níveis recordes. Dow Jones sobe 0,3%, S&P 500, 0,7% e Nasdaq, 0,9%.

Em Londres, a Bolsa subiu 2,25% com a vitória do líder conservador Boris Johnson na eleição de quinta-feira (12), que pode levar a conclusão do Brexit.

No Brasil, o Ibovespa opera estável por volta das 17h45, a 112.466 pontos. Já a cotação do dólar recuou 1%, a R$ 4,062, menor valor desde 5 de novembro. O real foi a segunda moeda emergente que mais se valorizou no pregão, atrás apenas do rand sul-africano.

Nesta segunda, o boletim Focus do Banco Central aponta um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2019 e 2020. De 1,1% na semana anterior, a expectativa do mercado para o PIB deste ano passou para 1,12%. Para o próximo ano, a expectativa foi de 2,24% a 2,25%.