Em culto, Damares acusa sem provas tráfico de crianças na Ilha de Marajó
Sem apresentar provas, senadora eleita afirmou que menores tinham seus dentes arrancados para que não mordessem "na hora do sexo oral”

A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou, durante culto neste sábado na igreja evangélica Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia (GO), que crianças na Ilha de Marajó (PA) são traficadas e têm seus dentes “arrancados pra elas não morderem na hora do sexo oral”, além de só comerem “comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal”. As declarações, registradas em vídeo, foram compartilhadas pelo deputado federal Mario Frias (PL-SP) nas redes sociais. Nas imagens, Damares relata, sem apresentar provas, os abusos descobertos, segundo ela, “abrindo as gavetas do Ministério” que comandava, o da Mulher, Família e Direitos Humanos.
A publicação compartilhada por Frias nesta segunda-feira já chega a 60 mil curtidas e mais de 2,6 mil comentários. Na legenda, o parlamentar diz que “é contra isso que estamos lutando!”. O texto vai na linha do que diz Damares em sua fala: segundo ela, é o presidente quem decidiu tomar iniciativa para combater os abusos.
— Sobre a Ilha de Marajó, todo mundo pergunta: por que Bolsonaro está fazendo o maior programa de desenvolvimento regional na Ilha do Marajó? Porque ele tem uma compreensão espiritual que vocês não têm nem ideia. Fomos para Ilha do Marajó, e lá nós descobrimos que nossas crianças estavam sendo traficadas por lá. Marajó faz fronteira com o mundo, Suriname, Guiana. Vou contar uma coisa pra vocês que agora posso falar: nós temos imagens de crianças brasileiras com 4 anos, 3 anos que quando cruzam as fronteiras são sequestradas — diz Damares.
Ainda segundo a senadora eleita, Bolsonaro teria sido alvo de ataques por combater abuso sexual contra as crianças:
— Os seus dentinhos são arrancados pra elas não morderem na hora do sexo oral. Essa nação que a gente ainda tem irmãos. Nós descobrimos que essas crianças, elas comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal. Bolsonaro disse: ‘Nós vamos atrás de todas elas e o inferno se levantou contra esse homem. A guerra contra Bolsonaro que a imprensa levantou, que o Supremo levantou, que o Congresso levantou, acreditem, não é uma guerra política. É uma guerra espiritual — completou a ex-ministra, sem apresentar indícios para as declarações.
O discurso foi repetido em seguida pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, que afirmou que a disputa eleitoral do Brasil em 2022 é uma “guerra espiritual”. Michelle também disse que , apesar de o marido, o presidente Jair Bolsonaro, ser católico, ela, como serva de Deus, tem consciência do mundo espiritual:
— Aí entende que não é uma guerra política, como foi bem colocado aqui, é uma guerra espiritual, onde a gente luta contra a luz das trevas, contra o mal que quer ser instalado no nosso país. E a gente vê como o inimigo é sujo, é astuto, agindo dentro da casa do Senhor — afirmou Michelle durante culto.
Nas redes sociais, a declaração repercutiu tanto entre bolsonaristas quanto com políticos de oposição ao presidente. Nos comentários da publicação de Frias, a atriz Myrian Rios disse ter ficado “chocada” com o depoimento.
— A gente não tem noção da violência que as crianças, jovens e idosos sofrem no Brasil e no mundo inteiro — disse.
Já a deputado estadual Mônica Francisco (PSOL-RJ) classificou como “grotesca” a declaração de Damares. Segundo ela, a ex-ministra, se tomou conhecimento dos abusos e não houve denúncia, também deve ser investigada.
É grotesca a fala de Damares sobre pedofilia contra bebês. O MP precisa investigar com urgência, pq, se for mentira, é crime e ela precisa responder. Se for verdade, ela é cúmplice pois nada fez para impedir tais horrores e ainda tem a exposição de crianças a fala tão violenta.
— Mônica Francisco (@Monicasfrancisc) October 10, 2022
— O MP precisa investigar com urgência, porque, se for mentira, é crime e ela precisa responder. Se for verdade, ela é cúmplice pois nada fez para impedir tais horrores e ainda tem a exposição de crianças a fala tão violenta — afirmou.