Empresa da JBS fez a maior doação para a posse de Donald Trump, de US$ 5 milhões
Pilgrim’s Pride dedicou cifra milionária para cerimônia em janeiro

(VIA O GLOBO) Uma empresa pertencente à JBS dos irmãos goianos Wesley e Joesley Batista fez a maior doação registrada para o comitê de posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do vice, J.D. Vance. O aporte da produtora de frangos Pilgrim’s Pride, de US$ 5 milhões (R$ 28,7 milhões na cotação atual), superou consideravelmente a cifra simbólica de US$ 1 milhão dada pelas gigantes do Vale do Silício, como a Google e a Meta, de big techs como a Amazon e magnatas como Tim Cook (Apple) e Sam Altman (Open AI).
Os valores das doações foram antecipados pelos jornais Wall Street Journal e New York Times e confirmados pela equipe do blog a partir da prestação de contas de 327 páginas entregues pelo comitê da inauguração presidencial, como é chamado nos EUA, à Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês) e tornada pública no último final de semana.
A doação da Pilgrim’s Pride, sediada no Colorado, também está bem acima de outras grandes companhias americanas como a Nvidia, a Boeing, a Uber e redes como o McDonald’s – todas também pagaram US$ 1 milhão. A gigante Microsoft, de Bill Gates, pagou ainda menos: US$ 750 milhões. Ao todo, a posse de Trump e Vance, ocorrida no dia 20 de janeiro em Washington D.C. arrecadou US$ 245 milhões (R$ 1,41 bilhão).
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A “generosidade” do Vale do Silício com o então presidente eleito fez parte de uma forte campanha de aproximação com Trump, crítico das big techs, e foi acompanhada de outros acenos como a mudança radical da política de fact-checking da Meta anunciada pelo seu CEO, Mark Zuckerberg, que já se reuniu múltiplas vezes com o republicano desde sua vitória na eleição de novembro passado.
Não é diferente da JBS, que controla a Pilgrim’s e negocia junto à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, vinculada ao governo americano, sua inclusão na listagem da Bolsa de Nova York, para passar a vender ações naquele país. No mês passado, o movimento recebeu a chancela do BNDES, que é o maior acionista do frigorífico depois dos controladores, mas ainda depende da liberação das autoridades nos EUA.
Nesse contexto, o repasse para a posse de Trump e Vance é parte de um esforço para abrir portas na administração republicana e destravar as negociações.
Questionada sobre a doação para o comitê de inauguração, a Pilgrim’s Pride afirmou, por meio de nota, que “tem um longo histórico bipartidário de participação no processo cívico” dos EUA.
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O apelo não é à toa. A reputação da companhia foi abalada em solo americano depois que o Departamento de Justiça do primeiro mandato de Trump aplicou uma multa de US$ 256 milhões (R$ 44 bilhões em valores da época) ao Grupo J&F, que controla a JBS, pelo pagamento de propina a agentes do BNDES e da Petros em troca de favorecimentos.
O esquema de corrupção brasileiro entrou na mira dos EUA porque os subornos foram pagos através de bancos e imóveis americanos, o que fere a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior local.
Em troca da admissão de culpa perante a Justiça americana, o grupo conseguiu encerrar os processos, abriu caminho para a eventual listagem na Bolsa de NY e ainda garantiu um desconto de 50% sobre o valor da multa, que acabou sendo de R$ 22 bilhões, pois o Departamento de Justiça entendeu que a JBS já havia ressarcido o Estado brasileiro em valores correspondentes à outra metade.
O escândalo de corrupção abalou o governo Michel Temer, que foi gravado em 2017 por Joesley Batista no porão do Palácio do Jaburu. Para o Ministério Público Federal, os áudios revelam que Temer deu anuência ao pagamento de propina pelo empresário para o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, à época preso na Operação Lava-Jato, em troca de seu silêncio.
Durante a ofensiva dos EUA contra o grupo J&F, a Pilgrim’s Pride também firmou um acordo com a Comissão de Valores Mobiliários americana se comprometendo a pagar uma multa de US$ 110 milhões.
A produtora de frango foi comprada pela JBS USA, a divisão americana do frigorífico, em 2009 durante uma grave crise financeira que a levou à falência. Atualmente, a companhia fundada pelos irmãos Batista detém quase 80% das ações da Pilgrim’s.
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Nos EUA, é comum que as cerimônias de posse sejam financiadas por doadores – entre pessoas físicas e jurídicas – que, através de seus aportes, desejam obter acesso privilegiado à Casa Branca.
É uma lógica parecida com a das campanhas presidenciais, que também operam com doações de bilionários tradicionalmente recompensados com embaixadas europeias. A dinâmica é alimentada tanto pelo Partido Republicano de Trump quanto pelo Democrata de Joe Biden e Kamala Harris.