Entenda por que Trump pressiona Brasil a classificar PCC e CV como grupos terroristas
Pressão dos EUA envolve sanções econômicas, disputa política e possível impacto nas relações internacionais do Brasil
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem aumentado a pressão para que o Brasil adote uma postura mais dura em relação ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e ao CV (Comando Vermelho), defendendo que as facções sejam tratadas como grupos terroristas. A medida faz parte de um pacote de possíveis sanções que Washington pode adotar após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo relatório da consultoria Eurasia Group.
A Eurasia destacou que, além de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros e sanções já impostas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a classificação de facções como PCC e CV como organizações terroristas está entre as opções estudadas pelo governo americano.
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Contexto das tensões
Trump vem classificando o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas” e usou o caso para justificar medidas econômicas contra o Brasil. Nesta semana, o secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que novas ações devem ser anunciadas em breve. Entre elas, pode estar a designação das facções criminosas brasileiras como terroristas — decisão que, segundo analistas, teria impactos não apenas políticos, mas também econômicos.
Narcotráfico e segurança na América Latina
O endurecimento contra o narcotráfico é um dos pilares do governo Trump. Atualmente, os Estados Unidos já listam organizações como o cartel mexicano de Sinaloa e o grupo venezuelano Tren de Aragua como terroristas. A inclusão do PCC e do CV nessa lista ampliaria a cooperação internacional, o congelamento de ativos e restrições financeiras para instituições ligadas a essas facções.
Em entrevista à BBC News Brasil, o analista Christopher Garman, da Eurasia, afirmou que a medida não seria imediata, mas pode avançar nos próximos meses. “O desafio é identificar quais grupos estão ajudando essas organizações, já que o PCC e o CV têm grande inserção no setor privado”, destacou.
Reação do Brasil
O governo brasileiro já rejeitou um pedido formal do Departamento de Estado dos EUA para adotar a designação. O argumento é que, pela legislação nacional, crimes cometidos por facções não se enquadram na definição de terrorismo, já que não têm motivação política, religiosa ou ideológica — mas sim econômica.
Mesmo assim, diplomatas temem que os Estados Unidos usem o combate ao narcotráfico como justificativa para operações militares na região. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já criticou publicamente a presença militar americana no Caribe, afirmando que isso gera tensão desnecessária.
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Possíveis impactos
Caso os EUA avancem com a classificação, o comércio brasileiro pode ser afetado. Bancos e empresas que mantenham relações financeiras suspeitas poderiam sofrer sanções ou até perder acesso a transações internacionais em dólar. “Apenas a listagem já geraria passivos jurídicos e impactos na reputação de instituições”, disse Garman.
Enquanto isso, especialistas apontam que a pressão de Trump sobre o Brasil e a ideia de enquadrar o PCC e o CV como grupos terroristas têm peso não só geopolítico, mas também eleitoral nos EUA, onde o combate ao narcotráfico é uma pauta central.
*Com informações da BBC News Brasil