DENÚNCIA

Famílias que reocuparam fazenda em Hidrolândia dizem que prefeitura e Estado dificultam acesso a água e alimentação

Ocupação ocorreu nesta manhã de segunda-feira

Famílias que reocuparam fazenda em Hidrolândia dizem que prefeitura e Estado dificultam direitos básicos
Famílias que reocuparam fazenda em Hidrolândia dizem que prefeitura e Estado dificultam direitos básicos (Foto: Reprodução - Instagram)

Nesta manhã de segunda (24), 600 famílias lideradas por mulheres do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda São Lukas, localizada em Hidrolândia, agora destinada à reforma agrária. Durante a tarde, contudo, o grupo afirma que teve o acesso a direitos básicos, como água e alimentação, dificultados pela prefeitura e o Estado.

Relatos das famílias, por meio do Comitê Dom Tomás Balduíno de Direitos Humanos, informam que o fornecimento de água foi cortado pela Prefeitura de Hidrolândia e que o governo de Goiás, por meio da Polícia Militar, estabeleceu um cerco para dificultar a entrega de alimentos na ocupação.

Segundo o comitê, a “ocupação dessa propriedade é simbólica para o conjunto das mulheres sem terra, pois trata-se de uma área em que dezenas de mulheres, entre elas muitas adolescentes, foram vítimas de violência, aprisionadas e posteriormente traficadas para a Suíça, onde eram submetidas à exploração sexual. O esquema foi mantido por 3 anos e as vítimas eram, principalmente, mulheres goianas de origem humilde das cidades de Anápolis, Goiânia e Trindade”.

O Mais Goiás procurou a assessoria da secretaria de Segurança Pública do Estado para comentar o suposto cerco policial. Até o fechamento não houve retorno.

Da mesma forma, entrou em contato com a prefeitura de Hidrolândia. Por nota, o município informa que um acordo repassou a fazenda à cidade, que é responsável pelo “zelo e vigilância do imóvel”. Além disso, relatou que o local é abastecido por um mini poço artesiano com pouca vazão, mas que não cerceou o acesso à água ou alimentação.

(Foto: Prefeitura de Hidrolândia)

Ocupação

Em relação a ocupação, ela faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, iniciada em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com o lema “Pela Vida das Mulheres Contra Fome e Violência: Mulheres Sem Terra em Resistência“.

O Acampamento instalado na área é denominado “Dona Neura“, em homenagem a Neurice Torres, vítima de feminicídio em setembro de 2022. Dona Neura era uma assentada da reforma agrária, conhecida por ser uma guardiã do Cerrado e defensora da Agroecologia.

O processo de destinação da propriedade foi transferido pela União, representada pela Superintendência do Patrimônio da União em Goiás (SPU-GO), para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), representado pela Superintendência Regional do INCRA em Goiás.

Fazenda ligada à exploração sexual de mulheres

A primeira ocupação, realizada em 25 de março de 2023, teve como objetivo acelerar o processo de retomada da política de reforma agrária em Goiás. Após ampla visibilidade proporcionada à situação da Fazenda São Lukas, diversas autoridades reuniram-se no Ministério do Desenvolvimento Agrário em Brasília (DF) em 27 de março de 2023 para tratar da destinação da área que havia sido alvo de uma operação que prendeu uma quadrilha de traficantes de mulheres em 2016.

Além de denunciar a violência contra as mulheres, a ocupação tem como objetivo principal recolocar o tema da reforma agrária na pauta de discussão da sociedade e do Estado brasileiro como uma alternativa para combater a fome, o desemprego e a desigualdade social.