Grávidas podem usar cannabis em qualquer dose? Veja novas diretrizes
Documento destaca que o uso da droga vem crescendo entre gestantes
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas divulgou novas diretrizes clínicas que reforçam um alerta importante: mulheres grávidas, planejando engravidar ou em fase de amamentação não devem usar cannabis. O documento destaca que o uso da droga vem crescendo entre gestantes, muitas vezes como forma de lidar com náuseas e outros sintomas comuns da gravidez. Mas, segundo especialistas, os riscos superam qualquer benefício.
Riscos do uso de cannabis na gravidez
A instituição aponta que há evidências crescentes de que o uso de cannabis durante a gravidez pode estar associado a partos prematuros, baixo peso ao nascer, maior necessidade de internação em UTI neonatal, além de possíveis problemas neurocognitivos e comportamentais nas crianças.
Melissa Russo, uma das autoras da orientação, explicou que muitas pacientes enxergam a maconha como uma solução “natural”. Porém, segundo ela, “há muitas coisas naturais que não são seguras”. Russo reforça que não há estudos que comprovem a eficácia da cannabis para gestantes ou lactantes e que, ao contrário, novas pesquisas mostram potenciais efeitos adversos.
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Abordagem médica e preconceito racial
As diretrizes recomendam que os médicos conversem abertamente com as mulheres sobre seus hábitos em vez de recorrer a exames de sangue ou urina para detectar cannabis. A triagem, segundo a entidade, deve ser universal para evitar preconceito e racismo.
O documento destaca que mulheres negras e hispânicas grávidas têm de quatro a cinco vezes mais chances de serem testadas para uso de drogas do que mulheres brancas. Além disso, gestantes negras são quase cinco vezes mais propensas a serem denunciadas aos serviços de proteção à criança por suspeita de consumo.
Cannabis e amamentação
A recomendação também é de desencorajar o uso de cannabis entre mulheres que amamentam. Porém, os especialistas ressaltam que, mesmo nesses casos, a amamentação deve continuar, já que os benefícios provavelmente superam os riscos potenciais.
“Não podemos ser rígidos em nossa abordagem”, afirmou Amy Valent, outra autora das diretrizes. “A amamentação é muito importante para muitas mães”, completou.
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Dados preocupantes sobre o consumo
Estudos indicam que entre 4% e 16% das gestantes usam cannabis durante a gravidez, chegando a 43% entre mulheres de 19 a 22 anos. O primeiro trimestre é o período em que elas mais recorrem à substância, geralmente para lidar com náuseas e vômitos.
Uma revisão recente de 51 estudos que analisaram milhões de gestações revelou dados preocupantes:
- O uso pré-natal de cannabis quase dobrou a incidência de bebês com baixo peso ao nascer;
- Aumentou em 50% a incidência de partos prematuros;
- Elevou em 57% os casos de bebês pequenos para a idade gestacional;
- Houve ainda indícios de maior risco de morte neonatal durante ou logo após o nascimento.
Impactos no desenvolvimento infantil
A médica Cara Poland, especialista em dependência química que administra uma clínica perinatal em Michigan (EUA), afirmou que estudos relacionaram a exposição pré-natal à cannabis a riscos como:
- Déficit de atenção;
- Problemas no controle de impulsos e coordenação motora;
- Maior probabilidade de TDAH na infância;
- Maior chance de desenvolver ansiedade e depressão.
Potência maior do THC hoje
Outro ponto destacado é a mudança na composição da droga ao longo das décadas. O nível de THC, principal ingrediente psicoativo da cannabis, aumentou de três a quatro vezes nos últimos anos. Isso significa que até pequenas quantidades podem ser mais perigosas do que no passado.
“Sabemos que o THC atravessa a placenta e se concentra no tecido fetal, especialmente no cérebro. Isso mostra que mesmo pequenas doses podem trazer riscos significativos”, alertou Poland.
A médica conclui: “Não temos evidências de que qualquer quantidade de cannabis seja segura durante a gravidez. A escolha mais segura é evitá-la completamente”.