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Hugo Motta barra proposta de equiparar facções criminosas ao terrorismo

Presidente da Câmara informou decisão em plenário

Hugo Motta barra proposta de equiparar facções criminosas ao terrorismo Presidente da Câmara informou decisão em plenário
Imagem: Agência Brasil

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), barrou de ofício a proposta do bolsonarismo de equiparar fações criminosas ao terrorismo. A medida foi anunciada em plenário durante a discussão do PL Antifacção nesta terça-feira (18).

A Câmara começou a votar na noite desta terça o PL Antifacção, texto marcado por idas e vindas do relator, Guilherme Derrite (PP-SP), e pelo embate entre governistas e oposição. A proposta foi alçada a prioridade do Congresso após a repercussão da megaoperação contra o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro.

Por volta das 21h o plenário estava nos discursos finais contra e a favor. Mas a tendência era amplamente de aprovação já que o centrão e a oposição orientaram seus deputados a votar a favor do texto de Derrite. Apenas a esquerda, que é minoritária, estava contra.

Motta assumiu a aprovação do tema como uma bandeira pessoal, intensificou a sua participação em programas jornalísticos e escalou aliados para defender o texto. Em pronunciamento sem direito a perguntas de repórteres, nesta terça, ele disse que o projeto é a principal medida de enfrentamento ao crime organizada já discutida no Parlamento.

A equiparação de facções ao crime de terrorismo é uma bandeira de Derrite e da direita.

A ideia inicial era aprovar um projeto específico sobre isso. Com a decisão de Motta de escolher Derrite para relatar o projeto antifacção elaborado pelo governo Lula, o secretário de Segurança Pública de São Paulo —Derrite retomou provisoriamente o mandato na Câmara para comandar o projeto— tentou levar a tese para o texto.

Após criticas e pressão, ele recuou.

O PL (partido de Jair Bolsonaro) mantém a tentativa de equiparar as facções criminosas ao terrorismo e, para isso, apresentou um chamado destaque, que é a tentativa de alteração da proposta após a votação de seu mérito, a ser votado nesta terça.

Motta, contudo, rejeitou de ofício a votação desse destaque, também defendido pelo União Brasil, sob o argumento de que ele é inconstitucional.

“Essa presidência comunica ao plenário que não serão admitidos destaques que para fins de deliberação em plenário destaque que tem como objeto inclusão, modificação ou supressão de dispositivos relacionados à lei 13260/2016, Lei Antiterrorismo, no âmbito do projeto de Lei 5582/2025”, disse o presidente da Câmara.

“O projeto de lei 5582/2025 possui objeto claro e delimitado em sua ementa e em seu conteúdo “dispor sobre o combate a organizações criminosas no país”. Assim, o combate ao terrorismo disciplinado em legislação própria e dotado de regime jurídico específico não se insere no escopo material da preposição e não decorre da sua finalidade normativa”, acrescentou.

Deputados de esquerda e de direita afirmavam que, devido à pressão popular, o destaque certamente seria aprovado caso fosse a voto.

A equiparação de facções a terrorismo sofre críticas do governo e da esquerda sob o argumento de que a medida é ineficaz no combate ao crime e ameaça a soberania nacional.

Derrite é cotado para a disputa do Senado ou do governo de São Paulo no caso de Tarcísio de Freitas (Republicanos) se lançar ao Palácio do Planalto.

O próprio Tarcísio participou de um podcast ao lado do secretário para defender a proposta de equiparar facções criminosas a organizações terroristas.

O discurso é encampado pela direita em alinhamento ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O governo norte-americano tem justificado ações militares em território internacional, especialmente no mar do Caribe, sob o pretexto de combater o que chama de narcoterroristas.

Grupos terroristas tradicionalmente são movidos por questões políticas, ideológicas ou religiosas. Já facções como PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho visam o lucro.

O governo argumenta que classificá-las como terroristas sujeitará o Brasil a sanções de organismos internacionais, pode afastar investimentos do país e levar até a intervenção armada de outros países em território nacional, como os ataques dos Estados Unidos a barcos nos mares venezuelanos, sob acusação de integrarem cartéis de drogas (o que não ficou comprovado).

Outra crítica feita por especialistas, entre eles o promotor Lincoln Gakiya, especializado no combate ao PCC e outras organizações criminosas, é de que tornar facções grupos terroristas desmontará as investigações já em curso pelo Ministério Público e policiais estaduais, já que crimes de terrorismo são competência da Polícia Federal.

*Via Folha de São Paulo