Influenciador Hytalo Santos e marido são transferidos para presídio na Paraíba
Hytalo Santos e Israel Nata Vicente foram presos com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
(O Globo) O casal de influenciadores Hytalo Santos e Israel Nata Vicente deixou o sistema prisional paulista e embarcou na tarde desta quinta-feira para um presídio na cidade de João Pessoa (PB). Preso desde o dia 15 de agosto em São Paulo, o paraibano é investigado por tráfico humano e exploração sexual infantil.
A transferência do casal aconteceu por volta das 10h. Eles deixaram o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na Zona Oeste da cidade, escoltado por policiais penais e seguiram para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde embarcam em voo comercial da empresa Gol, por volta das 14h.
Durante a viagem, o casal será acompanhado por dois agentes policiais. Ao chegar em João Pessoa, eles serão encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para realização de corpo de delito. Na sequência, serão conduzidos para a Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega.
O presídio, conhecido como Róger, é a unidade prisional de maior importância em João Pessoa na custódia de presos provisórios masculinos. Atualmente, conta com oito pavilhões. Na cadeia, há uma cela exclusiva para a população LGBTQIA+.
De acordo com dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) de 2024, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presídio do Róger conta com 677 presos, incluindo analfabetos até pessoas que têm algum curso superior.
Já de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária da Paraíba (Seap-PB), o presídio conta com 890 detentos, para uma capacidade de 700 presos. O número é 27% acima do limite previsto da capacidade total.
A defesa do casal tinha pedido que eles fossem transferidos para a Penitenciária de Tremembé, em São Paulo, conhecida como “penitenciária dos famosos”. Porém, a Justiça recusou o pedido da defesa e determinou que o casal seja encaminhado à Paraíba, estado onde o processo contra Hytalo e Israel tramita.
Desde 2024, o influenciador já era alvo de duas denúncias do Ministério Público da Paraíba, em João Pessoa e Bayeux, além de uma apuração pelo Ministério Público do Trabalho. Hytalo é acusado pelos crimes de tráfico humano e exploração sexual infantil. Ele foi um dos denunciados no vídeo do youtuber Felipe Bressamin Pereira, o Felca, sobre a “adultização” de crianças, que teve milhões de visualizações e mobilizou políticos a discutirem novas regras de proteção infantil nas redes sociais.
O que levou Hytalo à cadeia
A alegação do Ministério Público, que fez um pedido de detenção preventiva para ambos, foi com base no Estatuto da Criança e do Adolescente. A solicitação foi aceita pela Justiça na quinta-feira (14).
“O acusado pratica ‘adultização’ de adolescentes, consistente na indução precoce a comportamentos e performances sexualizadas, empregada como estratégia deliberada de engajamento digital e rentabilização econômica. Ainda que sob aparência de lazer, tal conduta traduz utilização indevida da imagem de menores com finalidade lucrativa, configurando exploração sexual e trabalho infantil artístico irregular, uma vez que o conteúdo produzido é monetizado em plataformas digitais” afirma, no processo, que está sob sigilo e foi obtido pelo GLOBO, a promotora Ana Maria França Cavalcante de Oliveira, da 2ª Promotora de Justiça de Bayeux (PB).
Ainda segundo a promotora, a exploração terá reflexo prolongado na vida das vítimas.
“Essa exploração da imagem e sexualidade causa uma ruptura no desenvolvimento natural de crianças e adolescentes, ensinando as pessoas em desenvolvimento a se comunicar apenas através da sexualidade, desenvolvendo uma identidade frágil e falsa, valendo-se da falta de discernimento dos menores pois eles não percebem o quão prejudicial é essa exposição, e a responsabilidade de proteção recai sobre os adultos”, explica Ana Maria Oliveira.
Segundo os investigadores, Hytalo centraliza seu conteúdo em um grupo de jovens (chamados de “crias”, “filhas” e “genros”), muitos menores de idade, que residem em uma “mansão” sob sua tutela informal. O influenciador realizaria apoio financeiro aos menores e também a seus pais.
“A situação se prolonga por anos, muito mais do que oversharenting (termo que descreve a prática de pais que expõem de forma excessiva a vida de seus filhos nas mídias sociais). Há indícios de que o investigado se aproveita da vulnerabilidade social e emocional de algumas crianças e adolescentes, induzindo-os a participar de poses, coreografias e danças erotizadas para divulgação nas redes sociais, mediante promessa de recompensas (…) Ele retira as crianças das famílias originárias sob a pálida e falsa promessa de melhoria de vida e criação de oportunidades, trazendo participantes de suas cidades, separando-os dos pais para ficarem em seu “circo macabro”, e depois excluindo- as da mesma forma que as trouxe, simplesmente as colocando em um carro e encaminhando de volta”, afirma a promotora.
As condutas de Hytalo não se limitavam à exploração da imagem e da sexualidade dos jovens. Em depoimento ao Ministério Público do Trabalho (MPT-PB), um policial militar que fez serviço de segurança para os dois acusados afirmou que recebia dinheiro em sua conta oriundo de plataformas de apostas que patrocinavam o influenciador, e que Hytalo não remunerava as mulheres que serviam como “vitrine” para seu negócio.
“Hytalo fica com todo o dinheiro dos contratos de publicidade fechados pelos adolescentes e demais integrantes da turma. Além disso, eles não possuíam cartão de crédito e não recebiam qualquer dinheiro do influenciador. Tudo era pago por Hytalo e os menores não tinham dinheiro nem para tomar um sorvete na esquina”, disse o policial aos promotores do MPT paraibano.
Para dar ar de legalidade a seus atos, o influenciador paraibano dizia ter a tutela dos jovens, mas o máximo que conseguia era a autorização verbal dos pais deles.
Para os promotores, caso fosse solto, Hytalo poderia destruir provas e fugir do estado e até mesmo do país.
“A natureza e a complexidade da organização criminosa envolvida intensificam consideravelmente os riscos à instrução criminal. O risco gerado pela liberdade dos investigados irradia efeitos que podem desvelar na ineficiência da persecução penal, ao permitir a dissipação do produto do crime e do proveito oriundo da aplicação dos recursos desviados, através de atos de lavagem e branqueamento de capitais”, afirmou a Promotoria paraibana.