Ações que transformam vidas

Iniciativas que tornam o mundo melhor

// O programa Agrinho, coordenado pela Faeg/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), pode ser definido…


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O programa Agrinho, coordenado pela Faeg/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), pode ser definido como uma ação de responsabilidade social que visa levar informações sobre cidadania e meio ambiente, principalmente às crianças do Ensino Fundamental e Médio de escolas do meio rural. Maria Luiza Bretas, coordenadora do programa em Goiás, explica que aqui ele foi implantado em 2008, quando teve início em 27 municípios.

Hoje o programa está presente em 240 dos 246 municípios goianos. E ao longo desses quase sete anos já contabilizou, somente em Goiás, a participação de mais de cinco mil escolas, mais de 30 mil professores e mais de um milhão de alunos envolvidos. Números tão grandiosos quanto as experiências educacionais efetivadas pelo programa, que abrange escolas municipais, estaduais e conveniadas.

Para muito além dos muros das escolas, o Agrinho propõe ações de caráter educacional sob a abrangência de temas recorrentes e ao mesmo tempo urgentes na sociedade, a exemplo de responsabilidade social, preocupação ambiental, saúde e cidadania. Esse ano o Agrinho tem como tema Esporte, lazer, cidadania e meio ambiente.

Ações que transformam vidas

Dentro do tema proposto, o Colégio Estadual Alfredo Nasser, de Fazenda Nova, participa pela primeira vez do concurso Agrinho, desenvolvendo, por meio de um projeto denominado Herdeiros do Futuro, transformadores do presente, mais de 40 ações voltadas para o melhoramento da vida dos alunos e da comunidade como um todo. A ação que é a “menina dos olhos” do projeto, segundo a professora Leila Delfina de Oliveira Roque Cruvinel, chama-se Perdendo peso, ganhando saúde.

Ação por meio da qual professores, alunos e servidores da escola participaram de diversas atividades que tinham como finalidade fazer com que perdessem peso. Leilaé professora de Educação Física e explica que desejava criar algo que estimulasse os alunos e a comunidade escolar como um todo. “Algo que fosse muito mais abrangente e envolvente que uma simples aula de Educação Física ou de futebol, que basicamente era o que resumiam nossas atividades dentro da escola.

A partir da verificação da taxa de IMC dos participantes, foram feitas palestras sobre a importância da mudança dos hábitos alimentares. E a cidade, que tem pouco mais de quatro mil habitantes e nunca foi atendida por um nutricionista, passou a ser, depois dessa ação, iniciada e estimulada pela professora e abraçada por toda a comunidade escolar. “Essa ação proporcionou mudança nos hábitos de vida da comunidade, o prefeito da cidade ‘comprou’ a ideia, o sindicato rural nos apoiou. O resultado foi uma autoestima muito mais elevada nos nossos alunos, maior disposição e o peso ideal de todos que dela participaram”, diz ela.

Por meio do Perdendo peso, ganhando saúde, foram realizadas caminhadas diárias, treinos em academia, aulas de hidroginástica e atendimentos com nutricionista. Tudo isso foi conseguido gratuitamente, junto a parceiros do projeto.

Anna Flávia Monteiro do Nascimento é aluna do nono ano do Ensino Fundamental e participou do projeto para perder peso. Ela diz que a diferença que esta ação proporcionou em sua vida foi gritante. “Pele, cabelo, corpo e até mesmo meu sono melhoraram muito, além do fato de que consegui perder oito quilos”, comemora.

Para a professora Maria do Disterro Santos, do Colégio Estadual Alfredo Nasser, de Britânia, ganhadora do maior prêmio do Agrinho (um carro zero quilômetro) em 2011 e em 2013, um dos grandes méritos do programa é o fato dele conseguir vincular teoria e prática no aprendizado dos alunos.

PREOCUPAÇÃO E AÇÕES AMBIENTAIS

Em 2011, com o projeto Anjos do Lago, desenvolvido junto à turma de 9º ano – e que envolveu toda a escola e a comunidade, ela conquistou o primeiro lugar na categoria Experiência Pedagógica.

Naquele ano, sob o tema Alimentação Saudável e Meio Ambiente, o projeto Anjos do Lago teve como foco o Lago dos Tigres e o do Tigrinho, degradados pela ação humana. Capacitada pelo Agrinho no início de 2011, Maria do Disterro realizou o projeto com o apoio de todos os professores e gestores da escola, envolvendo diretamente os alunos e a comunidade. Foram inúmeras ações em defesa do meio ambiente e da mudança de hábitos. Entre outros resultados, a escola conseguiu, por meio do projeto, limpar os lagos, repovoar as margens, conscientizar os pescadores e a população, estimular o consumo de peixe e ainda soltar 50 mil alevinos de espécies nativas com o apoio de instituições privadas e de fazendeiros do município.

A escola também criou um blog e fez programas de rádio e campanhas durante todo aquele ano na cidade. Mais do que isso, a professora Maria do Disterro conseguiu dar a todas as ações a prática pedagógica correspondente, fazendo da sala de aula o ponto de origem das atividades do projeto. Ao final, os alunos escreveram um termo de compromisso que foi assinado pela prefeitura local. Por meio desse documento, o Poder Executivo se comprometeu a implementar o sistema de coleta seletiva do lixo na cidade, a manter a população de peixes nativos no Lago dos Tigres e a promover a soltura anual de alevinos por cinco anos.

Em 2013, Maria do Disterro foi responsável pela criação do Projeto Sinal Verde, que englobou ações como: Recolhimento de lixo eletrônico, limpeza do Rio Araguaia e a criação e publicação de um livro. Intitulado Pequenos Conselhos, Grandes Lições, o exemplar foi publicado pela Editora Kelps e o dinheiro das vendas foi revertido à ala infantil do Hospital Araújo Jorge, em Goiânia. “O Agrinho tem hoje, no Brasil, uma importância incalculável. Eu escrevi, junto com os alunos, um livro que está sendo vendido em São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul”, conta a professora. Atualmente o livro encontra-se em sua terceira edição.

O QUE AINDA PODE SER FEITO

Maria do Disterro acredita que Goiás está no caminho certo e que o aspecto pedagógico das escolas estaduais teve grande desenvolvimento nas últimas gestões. “Embora saibamos que muito há ainda o que se fazer em termos de investimentos em educação, inclusive em infraestrutura dentro das escolas e, sobretudo, em termos de valorização do professor, sei também que tudo isso está inserido em um processo; acredito que estamos no caminho certo e a prova disso é nosso desempenho crescente nos últimos exames do Ideb”, diz ela.

Maria do Disterro fez cursos de capacitação oferecidos pelo programa Agrinho e, depois disso, foi a 70 municípios goianos onde trabalhou, em todos eles, como multiplicadora do conhecimento adquirido junto ao projeto. Em 2008 ela foi diretora dessa mesma escola, onde, nesse mesmo ano, essa escola foi eleita como a melhor escola pública do País por um concurso internacional realizado pela Unesco.

TRANSFORMANDO SONHOS EM REALIDADE

“Quando eu estudava lá em minha infância, minha mãe também era merendeira lá, e eu sonhava com uma escola bonita, meu sonho era ser diretora dela e fazer dela a escola dos meus sonhos. Quando adulta me tornei professora dessa escola e daí a pouco já era diretora, entrei no concurso apenas porque queria que as pessoas soubessem que tínhamos uma escola muito boa em Britânia, nunca tivemos a pretensão de ganhar um prêmio” conta ela.

O prêmio ganho à época, R$ 20 mil, Maria do Disterro investiu na própria escola, na construção de um alambrado e de calçadas para a instituição. Já o carro zero quilômetro, ganho pelo primeiro lugar na edição de 2011 do Agrinho, foi vendido e o dinheiro investido na compra de aparelhos de ar condicionado, hoje instalados em todas as salas de aula da escola.