Médica é indiciada por mandar matar farmacêutica para ficar com guarda da filha da vítima, em Uberlândia
De acordo com a polícia, Cláudia tentou forjar um álibi falsificando um prontuário médico
A Polícia Civil concluiu o inquérito que apura o assassinato da farmacêutica Renata Bocatto Derani, morta a tiros em novembro de 2020, em Uberlândia (MG), e indiciou a médica Cláudia Soares Alves, de 42 anos, como mandante do crime. A investigação apontou que ela arquitetou o homicídio para assumir a guarda da filha da vítima, que tinha 9 anos na época. Cláudia e o suposto executor, Paulo Roberto Gomes da Silva, vizinho dela em Itumbiara (GO), estão presos preventivamente no sistema prisional de Uberlândia.
De acordo com a polícia, Cláudia tentou forjar um álibi falsificando um prontuário médico e registrando uma ata notarial para simular que estaria em atendimento no momento do crime.
Renata foi morta na manhã de 7 de novembro de 2020, quando chegava ao trabalho em uma farmácia no Bairro Presidente Roosevelt. Câmeras de segurança registraram o momento em que um homem se aproximou, entregou uma carta com ofensas e efetuou cinco disparos, atingindo a vítima no tórax, pescoço, ombros e nádegas. Ela morreu no local. Uma testemunha relatou que Renata chegou a pedir para não ser morta.
O nome de Cláudia só entrou na investigação anos depois, após ela ganhar repercussão nacional pelo sequestro de um recém-nascido em uma maternidade de Uberlândia, em 2024.
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Planejamento e destruição de provas
Segundo o inquérito, Cláudia forneceu apoio logístico, destruiu evidências e adulterou documentos para confundir os investigadores. Laudos periciais confirmaram a falsificação do prontuário usado para criar o álibi.
O delegado Eduardo Leal afirmou que a médica tinha comportamento obsessivo em relação à maternidade e já havia tentado adotar crianças por meios fraudulentos, chegando a usar documentos falsos e até oferecer dinheiro para comprar uma recém-nascida na Bahia.
Durante buscas na residência dela em Itumbiara, a polícia encontrou um quarto preparado para uma menina, com paredes rosas, roupas infantis, berço e uma boneca bebê reborn, elementos que reforçam o padrão de comportamento obsessivo, segundo a investigação.
Motivação
As investigações revelaram que Cláudia manteve um relacionamento de dois meses com o ex-marido de Renata. O homem teria encerrado o casamento ao perceber que a médica apresentava sinais de desequilíbrio emocional e forte interesse em assumir a maternidade da filha dele com a farmacêutica.
Renata, temendo pela segurança da menina, passou a restringir o convívio da filha com o pai sempre que ele estava acompanhado de Cláudia. A polícia acredita que, após o fim do relacionamento, a médica planejou o assassinato para retomar o vínculo com o ex-parceiro e assumir a guarda da criança.
Indiciamentos e situação judicial
Cláudia e Paulo Roberto foram indiciados por homicídio qualificado (motivo torpe, pagamento e emboscada), além de uso de documento falso, fraude processual e adulteração de sinal identificador de veículo automotor. O caso foi remetido ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), responsável por apresentar denúncia à Justiça.
A médica está presa na Penitenciária Professor João Pimenta da Veiga, enquanto Paulo Roberto permanece no Presídio Professor Jacy de Assis. O filho de Paulo chegou a ser detido, mas foi liberado por falta de provas.
A defesa de Cláudia tentou obter liberdade provisória, alegando falta de fundamentação da decisão de prisão e pedindo aplicação de medidas alternativas, como tornozeleira eletrônica. O pedido foi negado pelo desembargador Jaubert Carneiro Jaques, da 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Ele considerou que a prisão é necessária para garantir a ordem pública e evitar risco de fuga, destruição de provas e intimidação de testemunhas.
O habeas corpus ainda será analisado pelo colegiado da 6ª Câmara Criminal.
Sequestro na maternidade
Cláudia Soares Alves já era investigada por outro crime grave. Em julho de 2024, ela foi presa após sequestrar uma recém-nascida no HC-UFU. Para cometer o crime, ela se passou por pediatra, embora sua especialidade fosse neurologia usando jaleco, touca, máscara, luvas, mochila e um crachá falso da universidade.
A bebê foi colocada dentro de uma mochila e levada para a casa da médica. A criança foi encontrada pela polícia aos cuidados de uma empregada doméstica, que afirmou ter estranhado a situação, mas não desconfiou que se tratava de um sequestro. A criança foi devolvida à família.
Por esse caso, a médica também responde criminalmente. A defesa afirma que ela sofre de transtorno bipolar e teria cometido o rapto em meio a um surto psicótico.
Cláudia era professora concursada da Universidade Federal de Uberlândia, aprovada em primeiro lugar, mas foi exonerada após o episódio. A UFU justificou a decisão alegando conduta incompatível com a moralidade administrativa e uso indevido do cargo para fins pessoais.